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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Lady Bird (2017)





Greta Gerwig está fazendo história no mundo cinematográfico. A atriz que ficou conhecida por atuar em filmes com a estética mumblecore (algo como improvisação na atuação) estreia como diretora em Lady Bird- A Hora de Voar e nessa semana, adentrou a lista de concorrentes a melhor direção no Oscar. Greta é a quinta mulher na história do cinema nomeada nessa categoria e temos muitos motivos para acreditar que ela merece a estatueta. Seu longa protagoniza uma jovem e rebelde Saoirse Ronan no papel de Lady Bird. Seus anseios e seus dilemas pessoais são familiares e Greta foge ao lugar-comum dos filmes juvenis de comédia e drama, humanizando igualmente os outros personagens. Lady Bird se chama na verdade Christine, porém ao sentir que sua liberdade é limitada ao lugar em que vive e à sua família, ela assume sua própria identidade com a escolha de um nome que se assemelhe a não ter amarras de ir aonde quiser. Situada em 2002, o seu  grande anseio é sair de sua cidade natal, Sacramento na Califórnia, e ir para uma universidade onde as coisas acontecem. Seu relacionamento com a sua mãe, Marion (Laurie Metcalf) é instável. Marion não está pronta para libertar sua filha debaixo de sua asa, e Lady Bird quer amadurecer as próprias. O conflito entre mãe e filha resulta em cenas tocantes e ainda assim Gerwig foi exemplar em dosar o tom cômico e dramático do filme. A personalidade explosiva de ambas é amainada por instantes que só quem tem um relacionamento conflituoso com a mãe entende. Se Truffaut filmou Os Incompreendidos e Linklater Boyhood para retratar a transição da maturidade para o público masculino, Gerwig registra uma narrativa que  é de ampla identificação para o mundo feminino.

Saoirse Ronan como Lady Bird e  Laurie Metcalf como Marion


Lady Bird frequenta uma escola católica ao lado de sua melhor amiga Julianne (Beanie Feldstein). As duas aproveitam o tempo livre para comer hóstias enquanto falam sobre masturbação e tentam fazer algum número no teatro da escola. É lá que Lady Bird se apaixona por Danny O'Neill (Lucas Hedges). Porém, Lady logo se decepciona quando o flagra beijando outro rapaz. Leva algum tempo para que ela o compreenda e o perdoe, e assim acabam tornando-se amigos. Julianne também tem o seu dilema amoroso pois é apaixonada por um professor mais velho. Ela e Lady Bird têm o ombro uma da outra pra chorar as decepções da vida, porém, a amizade será para esta mais um desafio para lidar. A sua família passa por dificuldades financeiras por causa do desemprego do seu pai, além disso, o mesmo tem lutado contra a depressão por muito tempo. Nossa protagonista não aceita a sua condição social diferente da garota popular de sua classe e ao tentar ser sua amiga mente sobre onde mora. No entanto,quando a garota descobre, as duas permanecem amigas e não há o clima de rivalidade entre meninas como é propagado em vários filmes sobre jovens. Gerwig traz temas delicados e os tratou de forma sútil, humanizada e era o que precisávamos. Para que a personagem feminina amadureça e desenvolva sua autonomia, precisamos vê-la de forma menos idealizada possível, nós mulheres necessitamos de retratos mais verossímeis. 

Beanie Feldstein como Julianne e Lady Bird


Lady Bird abre seu coração mais uma vez para o amor. Ao trabalhar numa cafeteira, conhece o jovem intelectual e enigmático, Kyle  (Timothée Chalamet). Ela finge ter o mesmo gosto pessoal que ele para conseguir qualquer tipo de conversa. Ao perder sua virgindade com ele, descobre que ele  havia mentido sobre também ser virgem. Para Kyle, isso não tem importância alguma, mas para Lady Bird, era mais uma decepção com a qual deveria aprender algo. Seus problemas em casa pioram quando sua mãe descobre que ela se inscreveu para universidades fora do estado da Califórnia. Ela agora tem 18 anos e sua maioridade ainda não é sinônimo de maturidade. Mesmo assim, ao ser aceita em uma universidade em Nova Iorque, Lady Bird não deixa que o voto de silêncio de sua mãe impeça seu voo. É uma das cenas mais tristes do longa quando esta deixa seu lar em busca de seus sonhos sem o adeus daquela. Ao se estabelecer na sua nova cidade, Lady Bird também estabelece uma nova identidade, agora ela atende pelo nome de Christine. Ela sente que para seguir em frente não  pode deixar feridas abertas. Uma carta e um telefonema entre ela e Marion são um emocionante pedido de desculpas sinceras e que só o amor poderia conduzir a algo tão complicado quando fugimos dos problemas. Lady Bird- A Hora de Voar é um tocante e humanizado retrato sobre sonhos, amizade, amor, sexualidade e família que nos permite aprender com nossos erros e atribuir nossa maturidade às nossas dolorosas tentativas de  voar com asas próprias. 


Saoirse Ronan e a indicada ao Oscar de melhor direção Greta Gerwig
 durante as gravações do filme

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