Anne Sexton e Sylvia Plath e a relação com seus pais
Da esquerda à direita: Anne Sexton e Sylvia Plath |
Aproveitando que nesse último domingo foi o dia dos pais, tive uma enorme ânsia de correlacionar duas poetas (poetas porque sim!) que escreveram sobre a presença paterna em suas respectivas visões. Estou falando de Sylvia Plath e Anne Sexton. Ambas vivenciaram experiências semelhantes em relação à depressão, abordando em suas obras, temas como estereótipos femininos, suicídio, e família, postos em suas poesias confessionais. Com tantas temáticas em comum, quando se conheceram em 1958, durante um seminário, logo se tornaram grandes amigas. Nesse forte laço que criaram juntas, a questão da morte era muito debatida em suas conversas; questão que teve fruto inicialmente na relação conturbada com seus pais.
Anne Sexton, depois de algumas tentativas de suicídio, foi aconselhada pelo seu terapeuta a transformar seus conflitos internos em poemas. Entre eles, ''All my pretty ones '' algo como "Todos os meus queridos" (tradução própria) de (1962), retirado do livro de mesmo título, traz a angústia da perda do seu pai meses após a da mãe.
A poeta faz um contraste entre os triunfos e fracassos da vida dele. Porém, acima de tudo, a poeta o perdoa: ''Whether you are pretty or not, I outlive you /bend down my strange face to yours and forgive you ''// ''Se você é bonito ou não, eu sobrevivo a você/ curvo para baixo meu rosto estranho perante ao seu e te perdoo''.
A poeta faz um contraste entre os triunfos e fracassos da vida dele. Porém, acima de tudo, a poeta o perdoa: ''Whether you are pretty or not, I outlive you /bend down my strange face to yours and forgive you ''// ''Se você é bonito ou não, eu sobrevivo a você/ curvo para baixo meu rosto estranho perante ao seu e te perdoo''.
Há algumas fontes que apontam a relação entre Anne e seu pai como distante. No poema, nota-se a retomada da infância no objetivo de compreender essa distância e finalmente adulta, estar pronta para perdoar. Coisa que ela nunca pode fazer na vida real e que a martirizava.
Poucos dos seus escritos foram traduzidos para o português. Tentei fazer a minha tradução livre para a primeira estrofe do poema citado inicialmente acima:
Father, this year’s jinx rides us apart
where you followed our mother to her cold slumber;
a second shock boiling its stone to your heart,
leaving me here to shuffle and disencumber
you from the residence you could not afford:
a gold key, your half of a woolen mill,
twenty suits from Dunne’s, an English Ford,
the love and legal verbiage of another will,
boxes of pictures of people I do not know.
I touch their cardboard faces. They must go.
Pai, a má sorte deste ano nos separa
onde você seguiu nossa mãe para o seu sono frio;
um segundo choque ferve sua pedra para o seu coração,
me deixando aqui para embaralhar e desembaraçar
você da residência que não podia pagar:
uma chave de ouro, sua metade da fábrica de lã,
vinte ternos da Dunne's, um Ford inglês,
o amor e o palavreado legal de outra vontade,
caixas de fotos de pessoas que eu não conheço.
Eu toco seus rostos de papelão.Eles devem ir.
Você pode acessar o poema (em inglês) na íntegra Aqui
A visão da infância é também relatada no poema ''Paizinho ''(Daddy) de Sylvia Plath. A poeta é transtornada pela imagem do pai, não quer perdoá-lo, quer esquecê-lo, comparando-o metaforicamente a um nazista (autoritário, arrogante). Ela foi uma garota duas vezes angustiada. Quis dizer que ela casou-se com um homem tão destrutivo quanto o pai : ''Fiz um modelo de ti,/Homem de preto, com um aspecto de Meinkampf'''. A própria Sylvia cita antes de cometer suicídio que sofreu um ''Complexo de Electra''. Ela o via como um Deus intocável, e essa imagem icônica dele, a perseguia e a reprimia.
Enquanto Anne cresceu e entendeu o efeito que a imagem de seu pai tinha sobre ela, sentindo compaixão, Sylvia sentiu desprezo. Ambas poetas cometeram suicídio, deixando seus legados atemporais.O abandono e a angústia das figuras que elas tanto veneravam, foram pontuadas profundamente nesses dois poemas. Não há como em um verso ou outro não se encontrar ou comover-se.
Paizinho
Não serves, não serves,
Não serves mais, sapato preto
Em que eu vivi como um pé
Trinta anos, pobre e branca,
Mal me atrevendo a respirar ou atchim.
Paizinho, eu tive de matar-te,
Morreste antes que eu tivesse tempo,
Mármore pesado, saco repleto de Deus,
Estátua medonha de dedo grande cinzento
Do tamanho de uma foca de Frisco
E uma cabeça no Atlântico mais esquisito
Onde ele derrama o verde-feijão sobre o azul
Nas águas da lindíssima Nauset.
Eu costumava rezar para te recuperar
Ach, du.
Na língua alemã, na vila polaca
Aterradas pelo rolo
Das guerras, guerras, guerras.
Mas o nome do lugar é vulgar.
Diz o meu amigo polaco
Que há uma ou duas dúzias.
Assim nunca soube onde tu
Fixaste os pés, as tuas raízes,
Contigo nunca consegui falar.
A língua presa no maxilar.
Arame farpado.
Ich, ich, ich, ich,
Mal conseguia dizer.
Em qualquer alemão estavas espelhado.
E a linguagem porca
Uma máquina, uma máquina
Em vapores leva-me como judia.
Uma judia para Dachau, Auschwtiz, Belsen.
Comecei a falar como uma Judia.
Acho que é boa ideia ser Judia.
A neve do Tirol, as cervejas clarinhas de Viena
Não são muito puras ou genuínas
Com a minha angelical cigana, o meu destino estranho
E as minhas cartas de tarot, cartas de tarot
Eu posso ser um pouco Judia.
Sempre me provocaste medo,
Com a tua Luftwaffe, a tua conversa vazia.
E o teu bigode lavado
O olho ariano, muito azul.
Homem-panzer, homem-panzer, oh tu_
Não Deus, mas uma suástica.
Tão negra que nem céu.
Qualquer mulher adora um Fascista,
A bota na cara, o bruto
Bruto coração de um bruto da tua espécie.
Estás de pé na pedra, paizinho,
Na imagem que trago comigo,
Em vez do pé, o queixo partido,
Não menos canalha por isso, oh não
o homem que partiu em dois
o meu lindo e vermelho coração.
Eu tinha dez anos quando foi a enterrar.
Aos vinte anos, eu tentei morrer
E voltar, voltar, voltar para ti.
E até pensei que os ossos serviriam.
Mas não me deixaram,
Juntaram os meus bocados com cola.
E então eu soube o que fazer.
Fiz um modelo de ti,
Homem de preto, com um aspecto de Meinkampf
E o amor de tortura e torniquete.
E eu disse eu aceito, eu aceito
E então, paizinho, finalmente estou acabada.
Arranquei o telefone preto da ficha,
As vozes já não se arrastam até aqui.
Se matei um homem, matei dois_
O vampiro que me disse seres tu
E bebeu o meu sangue por um ano,
Sete anos, se queres saber
Paizinho, podes voltar para trás.
Há uma estaca no teu coração negro e gordo
E os homens da vila nunca gostaram de ti.
Eles dançam e espezinham-te.
Eles sempre souberam que eras tu.
Paizinho, paizinho, seu canalha, estou acabada.
Não serves, não serves,
Não serves mais, sapato preto
Em que eu vivi como um pé
Trinta anos, pobre e branca,
Mal me atrevendo a respirar ou atchim.
Paizinho, eu tive de matar-te,
Morreste antes que eu tivesse tempo,
Mármore pesado, saco repleto de Deus,
Estátua medonha de dedo grande cinzento
Do tamanho de uma foca de Frisco
E uma cabeça no Atlântico mais esquisito
Onde ele derrama o verde-feijão sobre o azul
Nas águas da lindíssima Nauset.
Eu costumava rezar para te recuperar
Ach, du.
Na língua alemã, na vila polaca
Aterradas pelo rolo
Das guerras, guerras, guerras.
Mas o nome do lugar é vulgar.
Diz o meu amigo polaco
Que há uma ou duas dúzias.
Assim nunca soube onde tu
Fixaste os pés, as tuas raízes,
Contigo nunca consegui falar.
A língua presa no maxilar.
Arame farpado.
Ich, ich, ich, ich,
Mal conseguia dizer.
Em qualquer alemão estavas espelhado.
E a linguagem porca
Uma máquina, uma máquina
Em vapores leva-me como judia.
Uma judia para Dachau, Auschwtiz, Belsen.
Comecei a falar como uma Judia.
Acho que é boa ideia ser Judia.
A neve do Tirol, as cervejas clarinhas de Viena
Não são muito puras ou genuínas
Com a minha angelical cigana, o meu destino estranho
E as minhas cartas de tarot, cartas de tarot
Eu posso ser um pouco Judia.
Sempre me provocaste medo,
Com a tua Luftwaffe, a tua conversa vazia.
E o teu bigode lavado
O olho ariano, muito azul.
Homem-panzer, homem-panzer, oh tu_
Não Deus, mas uma suástica.
Tão negra que nem céu.
Qualquer mulher adora um Fascista,
A bota na cara, o bruto
Bruto coração de um bruto da tua espécie.
Estás de pé na pedra, paizinho,
Na imagem que trago comigo,
Em vez do pé, o queixo partido,
Não menos canalha por isso, oh não
o homem que partiu em dois
o meu lindo e vermelho coração.
Eu tinha dez anos quando foi a enterrar.
Aos vinte anos, eu tentei morrer
E voltar, voltar, voltar para ti.
E até pensei que os ossos serviriam.
Mas não me deixaram,
Juntaram os meus bocados com cola.
E então eu soube o que fazer.
Fiz um modelo de ti,
Homem de preto, com um aspecto de Meinkampf
E o amor de tortura e torniquete.
E eu disse eu aceito, eu aceito
E então, paizinho, finalmente estou acabada.
Arranquei o telefone preto da ficha,
As vozes já não se arrastam até aqui.
Se matei um homem, matei dois_
O vampiro que me disse seres tu
E bebeu o meu sangue por um ano,
Sete anos, se queres saber
Paizinho, podes voltar para trás.
Há uma estaca no teu coração negro e gordo
E os homens da vila nunca gostaram de ti.
Eles dançam e espezinham-te.
Eles sempre souberam que eras tu.
Paizinho, paizinho, seu canalha, estou acabada.
(Tradução retirada do blog sylviabeirute)
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