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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Don't Need You - The Herstory of Riot GRRRL (2006) - Um Retorno à Origem do Movimento e Seu Legado Atual



Durante boa parte da década de 90, mulheres cantavam sobre a sua falta de representação em shows de rock, abuso sexual, feminilidade e outros temas que haviam perdido força tempos depois da segunda onda feminista. Essas mulheres eram altamente inspiradas por ícones punk da década anterior, como as das bandas The Slits e X-Ray Spex, que instigaram a sensibilidade que desencadeou na terceira geração feminista. Em cidades como Olympia e Seattle, mulheres organizavam reuniões com o objetivo de levantar tais temáticas e logo estavam produzindo música e zines. Kathleen Hanna (Bikini Kill) e Allison Wolfe (Bratmobile) eram as vozes mais imponentes do movimento e ao lado das outras membros de ambas  bandas, definiram essa nova geração de mulheres no rock como Riot Grrrl. Outras bandas que se destacam na cena são: Heavens to Betsy, 7 year bitch e Sleater-Kinney. Com o intuito de mostrar o impacto que o movimento teve  na cena musical da década, o diretor Kerri Koch presenteia os admiradores do Riot Grrrl com filmagens raras e entrevistas com as pessoas que impulsionaram a grande revolução feminista na música. 
Lembro-me muito bem do meu primeiro contato com o Riot Grrrl. Foi há uns 6 anos e as redes sociais ainda não desempenhavam um papel fundamental na divulgação das ideias feministas. Não conhecia muita coisa, mas a música do Bikini Kill foi meu primeiro passo para a desconstrução de muito que internalizei em relação ao sexismo. Sem dúvida, muitas meninas podem se identificar com essa história, uma vez que Bikini Kill é até hoje citada como a banda feminista mais conhecida no rock. Porém, tal fama, como citada por Kathleen Hanna no documentário, era prejudicial pois apagava a importância de outras que lutavam pelos mesmos ideais. Quando as bandas começaram a divulgar seu som por Washington, a cena grunge crescia absurdamente com bandas como Nirvana, Alice in Chains e Soundgarden. Nesse meio masculino, as meninas questionavam a sua falta de espaço e por muitas delas adotarem um som punk e agressivo,eram zombadas. É por isso que mulheres como PJ Harvey, Kat Bjelland e Courtney Love que se expressam de maneira ousada e tão punk quanto as Riot Grrrls eram categorizadas no movimento, mas recusavam a inclusão justamente pela falta de seriedade com que eram tratadas. Se já era difícil para elas se consagrarem como rock stars, fazer parte de um movimento que era tido pela mídia como grupo de mulheres agressivas e meras vítimas de abuso sexual seria uma luta em dobro. Mas seria em 1993 que o movimento se legitimaria com a popularidade do álbum de estreia do Bikini Kill, Pussy Whipped .



Allison Wolfe vocalista do Bratmobile

Corin Tucker vocalista do Heavens to Betsy

Assim como Pussy Whipped, Pottymouth do Bratmobile  e Taking the Rough with the Smooch do Huggy Bear também lançados no mesmo ano, traziam letras que provocavam sarcasticamente a tal assegurada posição masculina na sociedade entre outros temas que evidenciavam a recente liberdade feminina na exploração tanto visual quanto artística, de um modo bem DIY (do it yourself) que sem dúvida influenciam até hoje bandas como The Gossip, Yeah Yeah Yeahs, Courtney Barnett e Kate Nash. 
O documentário é breve, é por isso que escrevo bem além do que ele mostra, porém ele é precioso ao capturar o início do movimento e suas implicações. Uma delas é a  ausência de interseccionalidade. Como pontua uma das suas poucas ativistas negras Ramdasha Bikceem, o riot grrrl estava mais ligado às questões das meninas brancas e de classe média. Talvez não tão de classe média assim, mas é certo que faltaram  discussões de cor e de gênero no tocante às mulheres trans. Se isso torna o movimento medíocre? A resposta é não, só o torna um pouco decepcionante por não abraçar outras causas. Entretanto, o riot grrrl voltou e se transpôs para  a internet. As zines ainda têm a mesma essência porém se transformaram em imagens editadas no computador e se tornaram virais no tumblr desde 2012. As questões de gênero, classe e cor se diversificaram. Formam-se bandas compostas só por meninas que carregam a mesma emoção das bandas noventistas. A nostalgia dessa época se deve à forte discussão feminista que ganhou a internet nos últimos anos. As questões que as Riot Grrrls levantaram ainda são as mesmas de hoje. Sua estética juvenil atrai as meninas que buscam inspirações feministas para suas playlists e redes sociais. Há grupos no Facebook e perfis no instagram com milhares de membros.  Riot Grrrl ganha uma nova roupagem, mas se mantém o mesmo porque desde o seu declínio no fim da década de 90, não houve nenhuma outra onda que reunisse mulheres com o intuito de fazer uma revolução grrrl style. O girl power que Spice Girls tentou vender era fruto da deturpação do movimento pela mídia.




 Gunk era a coleção de zines publicada por Ramdasha Bikceem
 que focava nos problemas de raças tanto dentro quanto fora do Riot Grrrl.



Hoje é muito comum ver meninas de cor se posicionarem por
 si mesmas e utilizarem o movimento como voz.

Um dos maiores legados do movimento é a ideia de que se
o corpo é nosso as regras são nossas.

Enfim, acredito que com a maior aceitação da sociedade em relação às feministas, muitos grupos, como o Pussy Riot, o maior grupo riot grrrl atual, são levados mais a sério do que as Riot Grrrls da década de 90. Por isso é importante resgatar suas ideias e adaptá-las à realidade atual uma vez que as questões são as mesmas. O documentário configura assim, um valioso e inspirador material para as meninas que desejam expressar as frustrações e sentimentos do seu tempo como  as irmãs Harper e Amber documentaram em Dirty Girls em 1996. O feminismo é a força libertadora que por décadas, guia mulheres de diferentes históricos na luta por igualdade e por vozes. Vou ser sempre grata por ter sido guiada pelo riot grrrl e por ele continuar sendo o movimento mais expressivo e melódico que a história do feminismo já teve.



Novas Bandas Riot Grrrl:

Tacocat - Men Explain Things to Me




Potty Mouth- Shithead





Leituras Riot Grrrl:

Hunger Makes Me a Modern Girl- Carrie Brownstein

Carrie Brownstein é uma das mais ilustres líderes feministas vocalista da
banda Sleater-Kinney,sendo sua biografia um relato de suas lutas pessoais e políticas 
que a consagraram.


Girls to the Front: The True Story of the Riot Grrrl Revolution - Sara Marcus

O livro traz de forma cronológica a nostálgica 
história das mulheres que fizeram do Riot Grrrl o
movimento feminista mais importante da música.



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