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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Blue Valentine (2010)




Michelle Williams é uma das atrizes mais premiadas do cinema atual. Carregando mais de 90 indicações nas costas, ela tem interpretado personagens femininas que convivem com perdas como em  Manchester by the Sea (2016) e My Week with Marilyn (2011). Ambos  mostram personagens distintas porém com a alma desolada por perdas significativas em suas vidas. A coincidência não é a toa. No início de 2008, o ator Heath Ledger, de quem havia recentemente se divorciado e com quem tem uma filha, faleceu. Ledger e Williams se conheceram durantes as gravações de Brokeback Mountain em 2004. Neste filme, Michelle traçou seu caminho na vida pessoal e fílmica, o de encarnar protagonistas com emoções verdadeiras para si. Seu papel aqui é o de aceitar a perda de quem ama pra alguém do mesmo sexo que seu companheiro. Algum tempo após a morte de Ledger, Michelle incorpora mais uma mulher que enfrenta diferentes perdas. Blue Valentine, apesar do seu título remeter ao romântico álbum do cantor de blues Tom Waits, é um longa feito para quem espera situações mais próximas do real de como os relacionamentos funcionam. Esqueça o romântico idealizado por Meg Ryan na década de 90 e por comédias românticas da década de 2000, Blue Valentine é lindo ao mesmo tempo que dói assisti-lo, pois é através de duras doses de realidade que se formam as reais histórias de amor.
Dirigido por Derek Cianfrance, Blue Valentine protagoniza Michelle Williams e Ryan Gosling como dois jovens que se encontram em meio a adversidades em suas vidas e que acreditam na união como forma de superá-las. A Cindy de Williams ao mesmo tempo que se defronta com dilemas familiares e no relacionamento, almeja seguir uma carreira a partir de seu curso de medicina. Quando descobre que está grávida, seu companheiro se torna abusivo, não aceitando que Cindy queira lidar com o rumo de sua vida da maneira que entende. Enquanto isso, o Dean de Gosling trabalha como carregador de móveis em mudanças e tem pequenos sonhos, como encontrar alguém especial. Dean será capaz de realizá-lo quando conhece Cindy em um asilo, quando ela visitava a sua vó. Relutante em responder às tentativas de Dean, os dois se reencontram algum tempo depois, por acaso, em um ônibus, como muitos encontros se dão.




A promessa que Dean faz em assumir uma família com Cindy partiu de alguém em busca por um outro especial, enquanto o consentimento de Cindy parte de uma mulher que não suportaria o fardo de abortar e encontra no seu novo companheiro, o conforto e a segurança que procuramos em um relacionamento. O filme se dá de forma não-linear, contrapondo os momentos iniciais de uma paixão a 5 anos depois, quando a vida delineia outros contornos para o que uma vez pareceu ser o mais próximo da felicidade. O cuidado que o casal uma vez teve um com o outro é substituído por uma frieza no toque, na fala e suas aparências desgastadas não são difíceis de serem notadas. Acredito que Michelle tenha posto muito de sua experiência pessoal na carga emocional da sua personagem. Além disso, tanto ela quanto Ryan trouxeram o máximo de verossimilhança que puderam a partir da encenação por trás das telas, simulando uma vida em família sem tantas condições ao lado também da atriz que interpreta a sua filha no filme. O diretor até sugeriu que Ryan tentasse dormir com Michelle a fim de que uma possível briga entre eles pudesse ajudar na tensão constante entre os seus personagens.
À medida que as lembranças do passado se tornam mais intensas no tocante à afinidade do casal, acompanhamos o seu distanciamento no momento atual do casamento. Ambos não conseguiram ir além do que se almeja enquanto somos jovens e os motivos do desgaste entre eles não nos são claros, porém, é inevitável não descontar as não realizações pessoais naqueles que nos acompanham nas tentativas. Dean é o que domina a ternura e aspecto romântico, ao passo que Cindy se depara com as questões práticas do cotidiano, não reservando tempo para alguma faísca de paixão que já se fez presente algum dia.
Blue Valentine nos ensina uma dura lição sobre nós que se desatam aos poucos e que nada os ligarão novamente. Quando nosso suspiro de felicidade se torna um grito de desespero. Dean e Cindy têm a última chance de se reencontrarem em uma noite romântica, mas ela não o responde afetivamente. Sua resistência em se entregar ao seu companheiro vai de encontro à antiga promessa de amor no pior e no melhor. Não há mais nada em Cindy que a faça reviver a promessa. A incerteza do que exatamente os levaram a chegar a um ponto final é de fácil identificação entre aqueles que se entregam um ao outro e permite que as desavenças prevaleçam ao fácil diálogo e entendimento que são proporcionados inicialmente.
Por fim, é difícil terminar o filme de forma que ele não te sufoque no seu trato real de como as coisas são quando um sonho se põe ao fim ao lado de um pôr do sol. Tal simbolismo que despede dois amantes mostra o quanto o amor pode ser tanto doloroso quanto bonito.



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