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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Conte-me Seus Sonhos, Sidney Sheldon (1998)

                                           


Sidney Sheldon é sem dúvidas um dos melhores autores que já li. Suas heroínas sempre surpreendem ao longo da narrativa, e os desfechos muitas vezes deixam um suspense em que o leitor faz a sua própria dedução. Isso não foi diferente com a heroína de Conte-me seus sonhos, Ashley Patterson. Neste romance, a única protagonista não é Ashley, outras personagens tentam assumir esse papel.Trabalhando em uma empresa no Vale do Silício, a jovem atraente Patterson tem que conviver com a inveja duas colegas: Toni Prescott, uma maliciosa inglesa que adora cantar  e Alette Peters, uma tímida italiana que passa o tempo livre pintando. As três se cruzam ao serem suspeitas de crimes semelhantes em que as vítimas eram de algum relacionamento amoroso. Inicialmente, o leitor é levado a incriminar Ashley, mas ao longo da trama  sabe-se que o desconhecimento dos assassinatos alegado tantas vezes por ela revelaria algo a mais; é quando se descobre que todas essas três assassinas eram uma pessoa só. Toni e Alette existem de fato, mas são frutos do distúrbio de personalidade múltipla que Ashley sofria. Até desvendar esse mistério, eu culpava Toni por ter a personalidade mais relacionada a de um assassino. Contudo, mesmo após saber que Ashley era sim uma  criminosa, a piedade que eu carreguei com ela desde o início não foi alterada. Essa é a reviravolta  do romance, a culpada é na verdade a grande vítima. Para não ser condenada a prisão, a protagonista teria que provar real sua doença mental. Por se tratar desse tema, logo me recordei do filme As duas faces de um crime de 1996, em que o protagonista condenado também tinha a dificuldade de alegar defesa por causa desse tipo de distúrbio diante do Júri. Através da hipnose, conhece-se melhor as faces da personagem e o porquê da existência delas. O pai de Ashley é o grande culpado da história por tê-la abusado quando menor.As partes em que Toni se manifesta revelam o desejo de vingança que Ashley jamais tornaria visível. Porém, o leitor questiona se a hipnose realmente a curou de suas fugas;  se  ela aprendeu a conviver com elas ou se Toni, por ser a mais audaciosa, anulou as outras personalidades e assumiu. Essas dúvidas se tornam eternamente questionáveis, pois, a música que Toni cantarolava por toda a história se repete de maneira oportuna quando Ashley retorna à cidade que o pai trabalha. No meu ponto de vista, Ashley só seria liberta finalmente se Toni permitisse, no entanto,  o maior desejo da inglesa era o de vingança. Ademais, outro filme que retrata o mesmo transtorno em uma mulher é o "As Três Faces de Eva" de 1957 que pode ter inspirado Sheldon. Ambas obras não são perfeitas ao destrinchar a complexidade psicológica das personagens, mas são recomendáveis porque trabalham com múltiplas nuances femininas e que desvelam a opressão da mulher em diferentes contextos. Obras que podem ser analisadas em trabalhos acadêmicos que envolvam gênero+ psicologia.


"O macaco perseguiu a lontra
 Em volta do pé de amora.
O macaco achou divertido.
Mas a lontra - pluft! - foi embora. "

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