Crítica: O Apanhador no Campo de Centeio (1951), J.D Salinger

                         

                       

Se você nunca leu, ao menos deve ter ouvido falar sobre o polêmico livro '' O Apanhador no Campo de Centeio ''. Lançado em 1951 pelo autor norte-americano Jerome David Salinger, o romance acarreta mais uma má fama do que boas críticas. É que se você já ouviu falar dele, com certeza é pelo curioso fato de ser citado por alguns assassinos famosos como inspiração para os crimes. O então famoso caso do assassinato de John Lennon, no qual Mark Chapman carregava no dia anterior ao crime o livro embaixo do braço e até pediu para o ex- Beatle autografá-lo, foi o que me instigou  a ler essa obra. Trata-se  da história do frustrado Holden Caulfield, que em primeira pessoa, narra como foram os dias desde a expulsão do colégio que estudava  até o seu colapso nervoso. O dialeto do relato é precisamente juvenil, pois, Holden era um garoto de 16 anos irritado ''pra burro'' como ele mesmo aponta, com tudo e todos, em uma época em que os Estados Unidos celebrava a vitória do seu império capitalista após a Segunda Guerra Mundial.

"De qualquer maneira até que achei bom eles terem inventado a bomba atômica. se houver outra guerra, vou sentar bem em cima da droga da bomba. Vou me apresentar como voluntário para fazer isso, juro por Deus que vou."

Tudo que representava essa prosperidade Caulfield odiava, principalmente o cinema da época que exaltava os heróis. Muitas pessoas desconsideram o valor que o livro tem, justamente porque creem que a história é apenas sobre um jovem rebelde reclamando de tudo. Porém, há de se questionar o porquê dessa "rebeldia". O personagem esteve o tempo todo rodeado por pessoas com más intenções: seu antigo professor o desejava sexualmente, seus pais lhe causavam temor, teve que lidar com um traficante aproveitador e ele já estava deprimido após a morte do irmão anos antes do colapso ocorrer. O mundo naquela ocasião não apresentava uma saída possível para Holden e seus problemas,ou seja, ele não era um rebelde sem causa, era na verdade mais um dos tantos adolescentes que se sentem sobrecarregados da tarefa de se comportarem de acordo com a moral da sociedade, quando ela mesma se apresenta imoral. É essa a ideia por trás da obra,  Holden (nome que remete à palavra '' abraçar '' em inglês) sentia o peso de estar no campo de centeio rodeado de crianças que se tornariam adolescentes eventualmente e queria estar lá para protegê-las de cair no abismo; protegê-las de perder a inocência que a dura experiência de vida proporciona e partir para o abismo que Holden caiu quando quase enlouqueceu. Talvez o assassino de John Lennon pensasse que estava o salvando da hipocrisia da sociedade, já que o artista era bastante julgado por suas condutas transgressoras. Seja qual for o motivo, nada no livro incentiva ou justifica o crime. Pelo contrário, antes do tal surto, o protagonista tinha encontrado um pouco de paz na pureza da sua irmã caçula. O personagem acabou no que aparentemente se descreve como um hospital psiquiátrico, provando assim, os riscos de cair no abismo, principalmente para os jovens que buscam constantemente um sentido para  a vida na sociedade   que não se diferencia do mesmo almejado por Holden .

"As pessoas sempre estão pensando que alguma coisa é totalmente verdadeira. Eu nem ligo, mas tem horas que fico chateado quando alguém vem dizer para me comportar como um rapaz da minha idade. Outras vezes, me comporto como se fosse bem mais velho – no duro – mas aí ninguém repara. Ninguém nunca repara em coisa alguma."