Minha foto
Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Clouds of Sils Maria (2014)

   


Clouds of Sils Maria (Acima das Nuvens, em português) é um filme de 2014 dirigido por Olivier Assayas que narra a história de uma atriz de carreira sólida que é convidada a atuar novamente na obra que a ascendeu. Quando tinha 20 anos,  a atriz Maria Enders (Juliette Binoche) interpretou uma jovem assistente pessoal no filme adaptado da peça Maloja Snake, na qual  seduz a sua chefe e a induz ao suicídio. 20 anos após o filme, Maria é convidada a participar mais uma vez da obra, desta vez sob forma de peça teatral, e no papel da chefe. Isso soaria honroso se não fosse pelos temores internos consequentes da sua longa carreira; por exemplo, como quando soube que a atriz  que interpretaria a assistente, Jo‑Ann Ellis (Chloë Moretz), é famosa por polemizar em suas declarações como numa  entrevista em que nem lembra o nome do diretor da peça. Maria, então,  hesita várias vezes em aceitar o papel, mas a sua assistente pessoal, Valentine (Kristen Stewart)   tenta convencê-la do talento em potencial de Jo-Ann e as duas partem, assim, em uma viagem com fins de reclusão e ensaios para a futura peça.


                                                                                Jo‑Ann Ellis (Chloë Moretz)


O local é o mesmo que inspirou a obra. É nos Alpes Suiços que o fenômeno Maloja Snake ocorre e o jogo 'arte que imita a vida'/ vida que imita a arte se desenrola. Maria não consegue incorporar sua personagem;  ela é eternamente encantada pela versatilidade de Sigrid (a  assistente na peça) e temos aqui uma crítica à falta de aceitação de que o mercado cinematográfico tem com o envelhecimento feminino. Maria quer acreditar que Jo-Ann é fútil o suficiente para interpretar Sigrid e ao assistir a um de seus filmes Sci-fi, debocha da superficialidade de seu papel. Isso soa familiar com a zombação das pessoas à atriz Kristen Stewart por conta saga Crepúsculo. Pois bem, Kristen parece assistir a sua própria projeção e tenta ali convencer Maria de que a personagem tem conteúdo e merece ser levada à sério. De fato, Kristen conseguiu provar sua maturidade neste papel, ao contrário de Chloë Moretz, que consegue ser uma heroína de Sci-fi melhor em Kick-Ass
Se é possível encontrar um pouco de Kristen em Jo-Ann, Maria é um retrato preciso do que atrizes como Juliette Binoche representam: o reconhecimento da carreira desde jovem e a insegurança que o tempo transmite ao ser confrontada com  papéis limitados à idade. Impossível não lembrar do ilustre filme All about Eve (A Malvada, em português)  em que a atriz de carreira aclamada (Bette Davis) sente-se amedrontada por uma  jovem e ambiciosa atriz que interpretará um papel que não podia ser mais seu. 


 A perfeita sincronia entre Kristen e Juliette torna o filme agradável de a cada momento. Nas cenas em que ensaiavam para a peça, os diálogos pareciam se encaixar na relação próxima entre Maria e Valentine. No entanto, assim como Helena ( a chefe na peça) Maria é dependente das aceitações de Val e acaba desgastando a relação maternal entre as duas levando por fim, o término da mesma. O que Maria não sabia era que ela também tinha suas próprias inseguranças e  o apoio deveria ser mútuo. Já durante a performance da peça, Maria tenta criar uma sincronia com Jo-Ann que parece discordar de suas sugestões, confrontando a ideia de que era Maria que deveria se adaptar à modernidade do espaço cinematográfico. Por mais que o fantasma de Sigrid a perseguisse, a personagem de Binoche tinha que reconhecer as palavras do diretor da peça de que Sigrid e Helena são uma só. O passado e o presente deveriam se unir para se poder seguir em frente e ficam explícitas as duras realidades que a sociedade impõe às mulheres com o passar do tempo.


  


Comentários

Popular no Blog...