Crítica: Y Tu Mama Tambien (2001)

Consagrado como um dos melhores road movies, E Sua Mãe Também tanto alterou a projeção do cinema mexicano, como também  a dos atores principais. Produzido pelo mesmo diretor de Gravidade , Alfonso Cuarón, o filme é uma amostra da realidade cotidiana e  conturbada  do México paralela à  transição da adolescência para a fase adulta de dois jovens: Julio (Gael García Bernal) e Tenoch (Diego Luna). Eles são dois típicos rapazes cujas formas de diversão se encontram no sexo, maconha e festas. Ambos têm namoradas que estão prestes a viajar para a Itália, e logo decidem aproveitar esse tempo longe para usufruir da ausência temporária. 

Em uma festa de casamento na casa da família de Tenoch, os dois se impressionam com a sedutora  Luisa (Maribel Verdú) e tentam convencê-la a se juntar a eles em uma viagem de carro para uma praia (fictícia) chamada Boca do Céu.  Luisa recusa a proposta, porém algum tempo depois quando recebe um telefonema do seu marido dizendo que estava a traindo, ela parte para a viagem com os rapazes na manhã seguinte.

Doravante, o longa segue  um rumo que, ao mesmo tempo que conhecemos o íntimo dos personagens, conhecemos também o íntimo do México. Tudo isso através de um narrador onisciente — recurso já  utilizado por François Truffaut —  que traduz questões sociais por meio da descrição dos personagens principais e secundários. A viagem se inicia com um papo divertido sobre a vida sexual de cada um, contrastando  com o ambiente pesaroso que se vê pela janela do carro. 

 No meio do caminho, eles decidem se hospedar em um hotel e Luisa  transa com os dois separadamente, mas no intervalo, os dois se estranham , enciumados,   e trocam revelações que indicam o iminente fim da amizade.

O que Luisa procurava  nessa viagem não era o mesmo que Julio e Tenoch. Ela buscava uma fuga da realidade, eles apenas um passatempo. Por isso, para muitos, a personagem dela parece ter um ar central. Ela chora silenciosamente no fim da noite, revela sua intimidade para eles logo no primeiro momento da viagem,  resolve assumir a liderança e une os dois; faz de tudo para apaziguar a tensão gerada, pois, aquela viagem tinha para ela um sentido simbólico que ficamos maravilhados ao descobrir.

Ao se alojarem em uma praia isolada, eles conhecem uma família local e numa noite, ao sentarem na mesa do bar, tentam retomar o mesmo aspecto despojado do início da jornada . A cena que dá nome ao   título do filme, é a minha preferida. E sua mãe também  é dito por Julio para Tenoch de maneira cômica , suavizando a tensão que foi suscitada nesse mesmo contexto frasal anteriormente. Os dois encerram a noite dividindo a atenção de Luisa igualmente. Contudo, no dia seguinte os jovens têm que partir enquanto Luisa decide ficar por mais tempo naquele lugar. 

O filme agora mostra como os personagens se estabeleceram após a viagem, ou seja ,a etapa final da transição. Julio e Tenoch não são mais amigos e o contexto político também não  é mais o mesmo no México. Os dois acabam se encontrando por acaso e Tenoch conta a Julio que Luisa tinha morrido de câncer naquela mesma praia, sendo que ela  já sabia o tempo todo da sua enfermidade. A atmosfera fria do diálogo faz com que o espectador nem os  reconheça mais. O longa acaba duramente nos ensinando uma lição sobre a efemeridade das nossas relações nas transições da vida.

É evidente que a proposta de Cuarón não é a mesma que o cinema norte-americano apresenta para os filmes adolescentes. Somos carentes de lições tão profundas sobre escolhas e efemeridades quando mais jovens; e aproveitar cada oportunidade que aparece mesmo sabendo que ela pode se esvanecer, como uma espuma num mar, a  qualquer momento.

“A vida é como a espuma, por isso entrega-te como o mar.'' - Y Tu Mama Tambien (2001).