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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Taxi Driver (1976)



Sob um olhar misterioso, tentamos adivinhar qual o rumo que o veterano da guerra do Vietnã e agora taxista, Travis Bickle, pretende tomar em sua vida. Alegando ter problemas para dormir, esse emprego parece ser ideal para o protagonista. Rondando pela cidade de Nova Iorque, Travis  interpretado de forma célebre por Robert De Niro — analisa a escória das ruas na mesma calmaria em que o jazz soa por todo o filme.
Suas constantes noites solitárias não se fazem presente apenas no emprego. Travis divide o seu tempo livre entre hábitos peculiares, como ir a um cinema pornô; ele também não se comunica abertamente com seus colegas taxistas. 
A sua primeira tentativa de ter uma companhia se faz quando se encanta por Betsy, uma loira esbelta que trabalha na campanha do senador Charles Palantine. Eu acho que você é solitária, diz Travis quando questionado por ela sobre seu interesse romântico. A sintonia dos dois funciona até Travis levá-la para ver um filme pornô. Nota-se a falta de experiência do personagem em ser sociável e seu lado violento começa a se acentuar a seguir.  Ele tenta convencer um agente secreto de que leva jeito para esse tipo de trabalho e comunica aos pais que trabalha nesse ramo.
Quando um passageiro, interpretado pelo diretor do longa, Martin Scorsese, diz a Travis que está prestes a matar a esposa e se justifica, isso parece incitá-lo à violência que se tornará sua nova companhia. Tenho algumas ideias ruins na minha cabeça. 
Ao coincidentemente ter como passageiro o senador Palantine, Travis fala que não entende muito de política, mas que seu desejo mesmo era que toda a imundice da cidade fosse lavada . E se não fosse um político que realizasse isso, parecia que ele mesmo o tentaria.
Como se estivesse se preparando para algum campo de batalha, Travis malha, muda a alimentação e passa a portar uma arma. Seu treinamento evidencia que sua revolta já estava fora de controle. Na icônica cena em que ele aponta uma arma e diz Você está falando comigo?, nada mais é do que uma conversa entre ele e o ser descontrolado que acaba de ganhar forma. Na cena em que atira sem hesitar no assaltante negro, e depois se encontra com seus colegas e age como se tivesse surtado, vemos seu copo de Alka-Seltzer borbulhar simbolicamente.
Quando vemos o Travis de moicano, com um sorriso sádico assistindo ao discurso do político Palantine , sentimos uma estranheza por finalmente nos darmos conta do quão perturbado o personagem está. Sua tentativa de assassiná-lo é falha, mas isso não anula os planos de Travis de ser responsável por um ato heroico.
Ao conhecer a prostituta de 12 anos interpretada por Jodie Foster, Iris, Travis vê parte da escória que repugna ao redor dela : o cafetão, as drogas, a hipocrisia . É um ambiente ideal para a execução do seu plano. 
Em um ato de violência, tido como polêmico na época,obrigando Scorsese a diminuir a luminosidade das cenas (para assim diminuir o impacto) Travis mata os homens responsáveis pelo funcionamento do bordel e em seguida tenta atirar em si mesmo, porém não há mais balas em seu revólver . A lentidão de toda essa ação é para observamos  a satisfação presente no seu rosto ao ver que fez a sua parte na sociedade que aliena  e isola o homem . 
Agora, Travis Bickle é o herói da cidade e Iris está em casa com seus pais. De volta a atividade como taxista, Betsy é a passageira da vez e demonstra interesse por Travis que a ignora — isso denotaria um amadurecimento ou conformação com a sua solidão. O filme termina com o mesmo olhar sombrio e misterioso do Travis inicial, indicando que a sua revolta interna poderia se externar a qualquer momento novamente. As mesmas coisas que lhe causam repulsa continuarão a existir e a incomodar outros psicologicamente. Muitos  como Travis Brickle andam por aí, esperando o estopim para suas ações doentias. 
* Há um hipótese de que Travis morre na cena do tiroteio e a cena seguinte é apenas uma alusão ao que o personagem queria ter obtido por consequência. Será que é esse o tipo de prêmio que os como Travis esperam receber por acharem que estão agindo com coerência diante do caos urbano?








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