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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Resenha: Tristessa, Jack Kerouac (1960)



Tristessa foi o primeiro romance do autor Jack Kerouac que li. Ao ler On the Road em seguida, descobri que ele já havia visto a mexicana Tristessa antes quando na última parte da obra estava num bordel no México ao lado de seu amigo Dean Moriarty. Tristessa é um livro curto, inspirado pelo habitual fluxo de consciência de Jack, mas agora temos um Jack iluminado pela filosofia budista, transparecendo isso em meio a passagens sobre a dor, a morfina e a sujeira que ele encontra no México.
O nome verdadeiro de Tristessa é Esperanza, uma prostituta viciada que Jack a descreve como a asteca, garota índia com olhos de Billie. Holliday misteriosos e semicerrados. Jack está apaixonado e espera que Tristessa  apaixone-se também. Ele abdica da vida "promíscua" , prometendo segui-la e desvendá-la neste percurso. 
Na casa em que Tristessa vive, animais se misturam aos humanos e parecem estar mais vivos que esses. Na maior parte do dia, tanto Tristessa quanto sua irmã Cruz e Old Buli (William Burroughs) estão sob efeito da morfina e gemendo. Jack assiste a esse sórdido cenário tomando seu velho uísque. 
As vezes em que Tristessa fala, parecem denunciar tudo o que a cidade tinha pra oferecer, o que não era nada além de poder estar sob efeito de algo para suportar viver ali. ''Estou doente'' ; '' A vida é dor'', são suas frases mais marcantes  e que fazem o poeta se encantar mais ainda com a vulnerabilidade da jovem. 
O ambiente lúgubre se contrasta com a imagem da Virgem Maria em que Tristessa curva-se para rezar. Jack a  acompanha rotineiramente pela cidade enquanto ela busca algum fornecedor, porém Tristessa não parecia acompanhá-lo. Mesmo na vez em que ela alisa o seu braço ou o observa, o único amor e companhia da sua vida pareciam ser sua droga.
Jack volta para a Califórnia e se arrepende de não ter dito que a amava e acreditando que assim, o amor salvaria Tristessa. Após um ano, retorna ao México e Tristessa já não é mais a mesma. Novas drogas alteram o humor dela mais rapidamente e sua decadência está mais visível. Na mente dela, se Jack também fosse um viciado, a presença dele seria mais agradável. Mas nem mesmo quando Tristessa sofre uma convulsão na rua e Jack cuida dela como se estivesse a ponto de perdê-la, foi capaz de fazê-la transmitir alguma esperança. Se tiver que escolher entre a Grace Kelly e a morfina, fico com a morfina.
Ao finalmente declarar o seu amor, Jack descobre que o plano de Tristessa é casar com Old Buli e que por não ser um viciado de longa data como ambos, suas chances estavam zeradas.


Desde tempos imemoriais e adentrando o futuro sem fim, os homens amaram mulheres sem dizer a elas, e o senhor os amou sem dizer, e o vazio não é o vazio porque não há nada para ser esvaziado.


Estás aí, Senhor estrela? – Suave é o chuviscar que perturba minha calma.


Jack Kerouac consagrou Tristessa como uma das histórias de amor mais tristes. O único beijo que Tristessa lhe dá enquanto estão sentados sobre caixotes cessa por um segundo todo o desconforto que predomina na narrativa. A obra apresenta diversas capas e escolhi esta porque as cores vivas contrastam com o que se é lido.


*A banda Smashing Pumpkins tem uma música inspirada no livro. A letra ilustra o amor e esperança que Jack nutria por Tristessa.




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