Crítica: Lilya 4-ever (2002)

Explorando o sentido da vida, Lilya 4-ever oferece um relato brutal  sobre o desespero de quem se encontra nessa reflexão. Dirigido por Lukas Moodysson, o filme conta a história de Lilya, uma jovem da antiga União Soviética que está empolgada em mudar-se para a América com sua mãe e seu namorado. Porém, antes disso, já somos alertados do seu  final não feliz. A primeira cena é rodada ao som pesado da banda alemã Rammstein enquanto  a protagonista corre, ferida, pelas ruas, em busca de algo que junto a outras cenas, recorda  o teor das obras do diretor Lars Von Trier (o caos pelo ponto de vista feminino). A empolgação de Lilya dura pouco, pois, sua mãe decide  partir sem ela, alegando mais tarde que a garota foi fruto de uma gravidez indesejada — o que abre uma discussão sobre o aborto — sendo que ela ficaria sob a custódia de sua tia, que logo demonstra desprezo e a despeja em um lugar sujo. Desolada, Lilya recorre a seus únicos amigos, Natasha e Volodya. Com Natasha, Lilya passa a frequentar boates e a sair com homens com o objetivo de pagar o aluguel. Era a saída mais fácil e que não tinha nada a ver com algum tipo de satisfação emocional. Em meio a bebidas, drogas e diálogos inestimáveis, Lilya e Volodya questionam a falta de sentido das coisas que os rodeiam. Ambos foram abandonados  pelos pais, vivem em condições de pobreza advindas da falta de oportunidades que o cenário  proporciona, mas principalmente questionam o porquê de estarem passando por aquilo tudo. 

Em uma das suas idas a boates, Lilya conhece  Andrei,  um cara que afirma não querer sexo, mas sim a sua companhia para a Suécia em busca de uma vida estável. Diante do ambiente desprezível, Lilya cai no seu papo e abandona Volodya, o que a garota não esperava era que a única esperança que o mantinha vivo era a sua companhia e isso o leva a um fim trágico. O motivo desse filme ser essencial na nossa lista é a possibilidade de nos reconhecermos na protagonista. Depositamos nossas esperanças nas pessoas que nos oferecem o conforto que necessitamos. Para Lilya, Andrei significava o retorno de sua fé no mundo. Contudo, como em toda história bem contada, o príncipe encantado não existe. A viagem, na verdade, era sua porta de entrada para o submundo do tráfico humano. Aqui, a atuação da atriz Oksana Akinshina merece destaque: sua frieza na cama diante dos clientes põe o espectador em uma posição desconfortável sendo isso um das razões que torna esse filme intenso de assistir, mas inesquecível. 

Em uma cena, após ser violentada por rapazes que descobrem suas atividades noturnas,  Lilya crava ' Lilya 4ever' em um banco, em afirmação da sua identidade apesar de tudo que a cercava. Muitas garotas como Lilya são vítimas do tráfico humano e não devem nem saber o que dignidade significa. A obra é um tapa na cara da sociedade que ao invés de amparar essas jovens, e acabar com a cultura do estupro, tapa os olhos e prefere culpar a vítima, deixando-a transtornada.  A inocência perdida não é só no ponto de vista sexual, mas também a afeta a falta de perspectiva de um futuro.  A aparição de Volodya e Lilya com asas de anjo se divertindo num dia ensolarado é  portanto, dolorosa demais  de  se assistir.