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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Babes in Toyland e L7: volta aos palcos de duas grandes bandas femininas


L7 e Babes in Toyland respectivamente.

Em um outro post,  citei que desde a década de 90, bandas de rock formadas só por mulheres não têm mais  tanta representatividade. Em meados dos anos 80 e durante boa parte da década seguinte, uma geração de bandas com vocais femininos dividia o mesmo espaço que os homens. Bikini Kill, Lunachicks, Bratmobile, Babes in Toyland,Veruca Salt, Dickless, 7 Year Bitch, L7, enfim, várias delas tiveram influência da cena underground de Seattle/Olympia e de outras bandas com o mesmo padrão de formação como The Slits. A baixista da L7, Jennifer Finch junto às líderes das bandas Babes in Toyland e Hole, Kat Bjelland e Courtney Love respectivamente,  haviam formado no início dos anos 80 uma banda chamada Sugar Babydoll. No entanto, a banda nunca gravou nada por problemas com Courtney. Kat e ela se reuniriam novamente anos mais tarde na primeira formação da Babes. Mas, devido a brigas internas entre as duas, Courtney forma a sua própria banda, Hole. A história de amor e ódio entre elas rendeu várias músicas para ambas bandas. Afirma-se que o maior sucesso da Babes in Toyland, Bruise Violet, é uma mensagem à Courtney por copiar o estilo de Kat. Por outro lado, há quem diga que a música é uma homenagem a uma personagem de um filme em que ambas se inspiraram para compor o estilo conhecido como Kinderwhore. Esse single está incluído no álbum Fontanelle, lançado em 1992 e que marca a estreia de Maureen Herman como nova baixista da banda. Babes participaram de vários festivais importantes como o Lollapalooza de 1993, em que Kat aparece em várias fotos ao lado do ex-vocalista do Alice in Chains, Layne Staley. Após a sua morte, Kat grava uma música intitulada Layne to Rest, presente no seu  projeto solo Katastrophy Wife, em homenagem a ele.
É em 1992 também, que o álbum mais notório da banda L7 é lançado. Bricks are Heavy foi produzido por Butch Vig (baterista da banda Garbage e o produtor do álbum Nevermind do Nirvana) e seu sucesso se evidencia em trilhas sonoras de filmes como em Natural Born Killers e Tank Girl. Por se expressarem de forma mais agressiva e  ser uma banda liderada por mulheres, o sucesso da banda parecia incomodar a crítica. Exausta da falta de respeito com o seu som, Donita Sparks jogou o seu tampão na plateia do Reading Festival daquele ano. Em outra ocasião, ela abaixou as calças em um programa de TV.
O último álbum da banda lançado em 1999, Slap-Happy não obtém sucesso comercial e divergências internas  marcam o fim da banda. O mesmo ocorre a Babes. Outras bandas romperiam nessa mesma época como Bratmobile e Bikini Kill. A geração da década de 2000 começa sem grandes representantes do rock feminino norte-americano. Passariam-se mais de 10 anos até que o clamor dos fãs pela volta de Babes e L7 falasse mais alto e incentivasse a volta das bandas.

L7 e Babes in Toyland, respectivamente em 2015

Em Março deste ano, Babes in Toyland anunciaram seu retorno com uma turnê pelo Reino Unido. A banda fez as pazes após Maureen convidar Kat para a sua casa de lago e logo  o trio já estaria junto e ensaiando seus maiores sucessos como He's my thing e Bluebell. Kat também justificou a reunião como uma responsabilidade pela nova geração de fãs que a banda vem ganhando. Um novo álbum pode estar sendo produzido e a banda é atração confirmada em vários festivais deste ano. Sendo assim, a banda ficará ativa por um bom tempo ainda. Já as integrantes do L7, além de se reunirem para tocar em festivais na França e Espanha, estão arrecadando fundos através do site Kickstarter para a produção do documentário L7: Pretend We're Dead. O projeto inclui performances, entrevistas raras e gravações caseiras.
Não há dúvidas que a liberdade tanto sonora quanto no estilo que essas bandas tinham na década de 90  fez com que boa parte delas fosse contida no movimento da terceira geração feminista Riot Grrrl. Por suas letras criticando o patriarcado e encorajando as mulheres a se libertarem sexualmente seja por meio das letras ou por zines, Bikini Kill e Bratmobile são reconhecidas como as grandes percursoras dele. Porém, é importante frisar que nem Babes nem L7 são bandas riot grrrl. Isso não as impediram de realizar atos feministas. L7, por exemplo,  realizou por 10 anos, um festival pró-escolha  chamado Rock 4 Choice, no qual Babes tocou, inclusive no dia 8 de abril de 1994, no qual foi descoberto o suicídio de Kurt Cobain. Foi Maureen que repassou a notícia para os presentes no evento após receber uma ligação de Courtney em seu quarto de hotel. 
Meu fascínio pelas bandas grunge da década de 90 me levou a conhecer essa geração de mulheres nos meus quinze anos. É muito importante para uma garota ouvir que ela pode ser quem quiser e que sua vida não precisa girar em torno de um garoto através da Bikini Kill. Como também, que ela pode ser agressiva e feminina ao mesmo tempo sem ser tachada com apelidos pejorativos através da Babes in Toyland.  É evidente que hoje algumas cantoras pop abraçaram a causa feminista e como consequência disso, o feminismo é debatido com uma frequência que jamais se viu. Porém, muitas delas devem isso a essas artistas de outras décadas que foram ouvidas por um público menor e não tinham as mesmas plataformas. Além disso, se há um avanço no pop, não se o vê o mesmo no rock. É maravilhoso recorrer a várias artistas  e se transformar, mas o papel que Kat pretende assumir com a volta da Babes não pode ser exercido sozinha. Até Courtney Love deu uma entrevista recentemente alegando que ela é a única voz feminina do rock tocando nas rádios. Não é bem assim, nessa década de 2010, muitas bandas de meninas foram se formando e divulgando seu som em plataformas digitais. O problema não é nem a fala de Courtney, e sim que o rock feminino ainda luta muito para ser reconhecido hoje por muitas mudanças na valorização comercial do estilo e também porque as bandas masculinas saem na frente. Algumas coisas permanecem as mesmas desde a década de 90, mas a volta do Babes e L7 prova que não podemos ser como a sociedade  quer que sejamos: we can't pretend we're dead!

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