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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Naked Lunch, William Burroughs (1959)


Considerado um dos maiores marcos da literatura americana, Naked Lunch (Almoço Nu em português) é um livro feito como um prato difícil de digerir e que poucos se aventuram a experimentá-lo. O submundo da homossexualidade e das drogas são os temas mais pertinentes nessa obra de William Burroughs, o que na época era  considerado controverso e por isso, foi proibida temporariamente em vários lugares dos Estados Unidos e Europa. O título foi sugerido pelo seu amigo e também escritor da geração Beat, Jack Kerouac. Almoço NU - um momento congelado em que todos veem o que está na ponta de cada garfo. Sendo assim, os diversos relatos obscuros do autor por meio de suas alucinações estavam expostos a todos que lessem a obra. O escritor só pode escrever sobre uma coisa: o que está diante de seus sentidos no momento em que ele escreve
Vinhetas dividem várias histórias locais que empenham-se em formar  imagens claras na nossa mente, mas que falhamos ao tentar encaixá-las. Não há um roteiro definido, por isso, o autor  esclarece que Naked Lunch pode ser lido por partes como se a obra fosse  uma minhoca, que ao ser cortada em pedaços, formam minhocas independentes. 
Mesmo com a utilização de termos grotescos, ela contém um forte cunho social que não pode ser desmerecido. É verdade que algumas partes se tornam repetitivas e cansam o leitor mentalmente, porém a  sua sátira  prende a atenção. Por exemplo, há aparição de vários personagens pitorescos, que representam setores da sociedade responsáveis pela sua manutenção só que na verdade evidenciam o caos. Annexia é uma cidade citada no livro em que os cidadãos convivem com um Estado similar ao totalitarismo. Ao mesmo tempo, um psiquiatra chamado Dr. Benway se aproveita de seus pacientes para testes não permitidos de controle mental. Um dos métodos tem como finalidade o controle sexual, muito comum naquela época pós segunda guerra. Mas a maneira que William os narra é no mínimo bizarra. Se há um exagero no uso de termos para caracterizar os atos homossexuais induzidos de forma sádica pelo psiquiatra, isso não é mais sinistro do que o reconhecimento de métodos similares para a ''cura homossexual''. O autor, que já teve experiências homossexuais, retrata essa tentativa de cura em outra vinheta do livro. Carl Peterson é chamado por Dr.Benway para realizar um teste ridículo sendo questionado várias vezes se seu desvio homossexual, visto como contagioso, foi só fruto da solidão quando Carl era soldado. 
Em paralelo à temática homossexual, os relatos conturbados feitos por William, na maior parte  sob efeito de  drogas,  compõem boa parte do livro. O viciado gira no tempo da droga. Seu corpo é seu próprio relógio, e a droga corre nele como numa ampulheta. Primeiramente, ele tenta fugir constantemente da polícia vagando por Nova Iorque e México atrás de um pico. Em certa ocasião, ao ser pego em flagrante, atira em dois policiais. Durante o período em que se desintoxicou, William descreve como os diversos agentes químicos agem no corpo e quais deles eram eficazes no tratamento. 
Confesso que foi difícil compreender  a obra na sua totalidade, no entanto, me contive em algumas partes que revelam profundo criticismo à moral da sociedade norte-americana. É  importante reconhecer o seu mérito numa época em que a censura contra a  homossexualidade e tabus em relação às drogas são ainda fortes.


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