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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Bande à part (1964)


''Tudo que você precisa para um filme é uma arma e uma garota'' Essa frase do  cineasta  Jean-Luc Godard revela a temática em Bande à part. A garota, Odile, estuda inglês na mesma escola que Franz, um amigo a quem contou que sua tia guarda uma boa quantia de dinheiro em sua casa. Interessado na fortuna, ele convence seu amigo Arthur e Odile  para juntos realizarem o roubo e partirem. Os rapazes não são ladrões profissionais, são meros apreciadores dos filmes sobre gângster de Hollywood. Anna Karina convence no papel de mocinha com o seu olhar apavorado  aliás são os seus olhos que mais dão clareza a suas personagens — A intenção de Godard era a de romper com o tradicionalismo do cinema Hollywoodiano. Para isso, utilizou-se do mesmo (o filme é uma pequena homenagem de Godard aos filmes de crime estadunidenses) e adicionou o seu estilo próprio. JeanLuc Cinéma Godard, como ele mesmo se denomina na abertura de algumas das suas obras.
O que se soma à garota e ao crime  de Bande à part é o que o torna  icônico e reverenciado até hoje. O trio é tão copiado quanto o do filme Jules et Jim de François Truffaut. Odile, Arthur e Franz dançam sincronicamente num restaurante, cena que inspirou Quentin Tarantino no filme Pulp Fiction. A corrida no Louvre é repetida em Os Sonhadores de Bernardo Bertolucci, em que o seu trio tenta quebrar o recorde de Bande à part.


A Paris  em preto e branco retratada por Godard simboliza a desesperança da juventude da época. O crime era uma busca por validação. O diretor realmente trata o seu trio como um bando de outsiders. Franz pensa em tudo e em nada, incerto se a realidade  se o mundo está virando um sonho ou se o sonho está virando o mundo.
A cultura americana aliena os jovens que preferem beber Coca-Cola, comparecer a aulas de inglês, viver como se estivessem num filme de gângster do que apreciar a suas passagens pelo Louvre.
A simplicidade de Bande à part em comparação a outras de suas obras mais sofisticadas visualmente, não tira o  seu mérito de inovador. O grande trabalho da sonoplastia ilustra a natureza particular de cada personagem. Na cena do restaurante, Franz sugere um minuto de silêncio como uma forma do trio organizar seus pensamentos. 
O que mais encanta nessa obra da Nouvelle Vague é a forma como grandes diálogos se formam em meio a  uma aventura banal. As pessoas no metrô parecem sempre tão tristes e sozinhas. O filme possui boas referências à música, poesia, brilhantes atuações, e um ótimo retrato da juventude de sua época. Receita que na minha opinião, forma um excelente filme.


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