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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: La Mariée était en noir (1968)



Há sempre aquela obra que um diretor mais desgosta, porém que acaba tendo um apreço especial pelos fãs. Esse é o caso de A Noiva Estava de Preto (1968) do diretor da Nouvelle Vague, François Truffaut.  Ele foi uma tentativa de homenagear o mestre do suspense, Alfred Hitchcock. Sua devoção pelo cineasta fica evidenciada no livro resultante de uma série de entrevistas que Hitchcock o concendeu. No entanto, quem é fã de ambos realizadores, sabe que seus estilos são bem diferentes. O experimento também não agradou a crítica, o que desapontou bastante o diretor.
No dia do seu casamento, o marido de Julie Kohler é baleado e morre em seus braços. Após uma tentativa de suicídio, ela decide se vingar de cada um dos 5 envolvidos no assassinato. Não fica explicito no filme como ela os descobre, a única pista que temos isso é a sua lista negra. É notável uma relação com a saga Kill Bill de Quentin Tarantino, mesmo com a afirmação do diretor de que nunca se interessou pelo cinema de Truffaut. A atuação de Jeanne Moreau  é esplêndida, pois, consegue ser incrivelmente sensual apesar da sua total frieza e morbidez. A protagonista está sempre trajando preto,branco, ou, as duas cores juntas. A execução de cada um dos homens se dá de maneira distinta.
 A primeira delas ocorre de forma apressada e sem um toque de suspense, mas que se recupera nas seguintes. A obra tem um quê de Marnie do Hitchcock, pela alteração da aparência de ambas protagonistas, mas o filme muito mais se assemelha ao cinema de Truffaut do que o de Hitchcock. Ainda que o autor da trilha sonora , Bernard Herrmann, seja o mesmo de vários filmes do mestre do suspense. O longa é inspirado num romance homônimo, do mesmo escritor de Janela Indiscreta, um grande sucesso de Hitchcock. 



É possível ver momentos de humanidade em meio à apatia de Julie. Desde a maneira como ela trata o filho de um dos seus alvos, até quando informa à polícia sobre o erro na prisão de uma professora no seu lugar. No entanto, isso não cessou seu profundo rancor. Observamos o tom de inocência dos homens, um deles até se apaixona por ela, e logo descobrimos que o crime foi na verdade, um incidente. Quando Julie ouve a outra versão do que houve naquele dia, não demonstra arrependimento, ela e seu futuro marido se conheciam desde criança, sendo o casamento a realização do seu maior sonho. A finalização de sua vingança era a sua única aliada. Não temos o campo visual, somente ouvimos os gritos, do último assassinato, indicando um momento íntimo para a protagonista. O filme também era bem pessoal para a atriz Jeanne Moreau, que mantinha um relacionamento com Truffaut na época de gravação.
 A intenção do diretor ao torná-la figura central do longa, de fato pouco se explora dos outros personagens, era a de fazer esse o seu grande momento no cinema. O resultado não agrada a ambos, no entanto, Hitchcock afirmou, uma vez, ter gostado do filme. Principalmente na cena em que um dos alvos morre envenenado; até sugeriu que Julie poderia ter colocado uma almofada sob sua cabeça, para que ele morresse ainda mais confortavelmente. A Noiva Estava de Preto pode não ter sido a obra-prima de Truffaut, que na minha opinião é Domicílio Conjugal, porém representa uma nuance de um dos maiores nomes do cinema francês, que já influenciou outros filmes e até música como The Wedding List de Kate Bush.




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