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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Ladies And Gentlemen The Fabulous Stains (1982)




Se você parar para pensar em quantas bandas de rock formadas só por garotas existem, vai notar que o número não é tão grande assim. Ainda hoje, há quem considere o rock um esporte só para rapazes. Diante desse machismo ainda existente, assistir a um filme que retrate uma banda de rock feminina na década de 80, despertou a minha curiosidade em ver como as meninas eram tratadas nessa época.
A protagonista do filme, Corinne Burns, vem de um lar despedaçado assim como Cherie Currie, a vocalista da banda de rock feminina mais famosa de todos os tempos, The Runaways. Sua mãe faleceu há pouco tempo e ela sente a necessidade fazer algo para se validar. Ao lado de sua irmã Tracy e sua prima Jessica, Corinne forma a banda punk The Stains. Não seria com o grupo que a jovem de 17 anos seria conhecida pela primeira vez. Ela se tornou famosa na TV, quando entrevistada no seu local de trabalho sobre a crise econômica da sua cidade, confronta o chefe e pede demissão. Em sua primeira apresentação, a falta de preparo da banda é notada pelo público. Ao observar que uma das mulheres da plateia se preocupava mais em arrumar o cabelo para o seu namorado do que ouvir o som da sua banda, Corinne revela um visual inovador  para a época, ao mesmo tempo em que alerta às mulheres do local de que no fim das contas, acabamos sozinhas, tendo que depender de nós mesmas. Essa atitude serviu de grande inspiração para o terceiro movimento feminista surgido nos anos 90, o Riot Grrrl. A ideia de que a mulher pode se expressar como quiser ao mesmo tempo em que fala o que pensa é a premissa básica do movimento. O ato de Corinne também inspirou as garotas da sua cidade. A banda se torna um fenômeno da noite para o dia. Inúmeras se vestem que nem o grupo e têm a consciência de que finalmente algo as libertou da falta de expressão que é imposta às mulheres desde cedo.



The Stains junta-se à banda punk masculina Looters para uma turnê. Billy, vocalista da banda — o ator é ex- integrante dos Sex Pistols — aproxima-se de Corinne, revelando seus sentimentos sobre o mundo através da sua mais recente composição The Professionals. Durante um dos shows, a banda  de Corinne acaba plagiando a música, o que deixa Billy furioso, e ao se apresentar, faz um discurso sobre como ela se utilizava do marketing da banda  para enriquecer. As fãs desiludidas, abandonam a devoção que tinham por elas. 
O que teria tornado The Stains um fenômeno? A mídia ou a originalidade das meninas ? A verdade é que ambas cooperaram. Assim como vários artistas que aparecem com ideias revolucionárias precisam da mídia para as tornarem reconhecidas, The Stains se utilizaram do meio para inspirar várias meninas pelo mundo afora.
Em um primeiro momento essa jogada parece superficial, porém, com o tempo percebe-se que pode haver um benefício para todas as partes. Foi desse modo que a banda voltou ao auge com um clipe bem anos 80 gravado para a MTV. No caso das Runaways, o extremo foco da mídia na sensualidade de Cherie Currie culminou no seu rompimento. O filme contém algumas cenas desnecessárias, como a longa tomada da viagem de ônibus das bandas. Já as cenas mais essenciais, como a entrevista que Corinne concede ao mesmo programa de TV que a tornou famosa, são corridas e mereciam mais destaque. Porém, o longa possui diálogos que não passam despercebidos. A mãe de Jessica fala ao vivo sobre a importância da liberdade para as adolescentes se divertirem da maneira que querem. O filme não teve muito impacto na época, pois, só foi lançado dois anos depois e  em poucas salas de cinema. Em pleno século XXI, Fabulous Stains ainda é retrato de uma revolução Girl Style Now! que só parece ter tido força na década seguinte ao seu lançamento. 
Como escrevi em um post anterior, o cenário do rock feminino atual é decepcionante. O filme mostra como em nenhum outro, a liberdade que tocar guitarra oferece a uma garota nos seus 16 anos.






 
 

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