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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: My Own Private Idaho (1991)


 No início da sua carreira como cineasta, Gus Van Sant apresentava em seus filmes um retrato humano de jovens marginalizados pela sociedade que se deslocavam entre as estradas de Portland e do Noroeste Pacífico dos Estados Unidos. Em Garotos de Programa (1991) título em português para o filme My Own Private Idaho, os protagonistas procuram nesses lugares o afeto que necessitavam. Mais especificamente o personagem Mike Waters (River Phoenix). Ele sofre de narcolepsia, condição neurológica caracterizada por episódios irresistíveis de sono, mas que mesmo assim, vive perigosamente como um garoto de programa gay pelo submundo de Portland. 
Em um dos encontros, acaba ficando amigo do colega de trabalho Scott Favor (Keanu Reeves). Eles são bem opostos. Enquanto Scott trabalha nas ruas apenas para irritar o pai (que é prefeito da cidade) Mike ganha o pão de cada dia através disso e tem visões constantes sobre um reencontro com a sua mãe. Ambos moram num prédio abandonado ao lado de outros gigolôs, incluindo um interpretado pelo baixista da banda Red Hot Chili Peppers, Flea.
A história de Scott é livremente inspirada em uma obra de Shakespeare, o que causa estranhamento no espectador quando ele dialoga com citações retiradas da obra em algumas cenas. Porém, Mike acaba sendo o  protagonista que nos cativa mais. Sua honestidade e vulnerabilidade ultrapassavam as telas. O ator River Phoenix estava no auge da carreira na época do lançamento do filme. Em muitas entrevistas, River parecia ter incorporado Mike, não só pelo estilo, mas também pela maneira de se comportar. Em 1993, as drogas puseram um fim a sua carreira em ascensão. Se a declaração de amor de Mike para Scott ganhou uma imensidão enorme diante do teor  efêmero que percorre o filme, a paixão que River tinha pela vida ganhou o coração de vários fãs pelo mundo, inclusive o meu. 




Scott e Mike partem para Idaho em busca da mãe de Mike. Sabendo que ela na verdade vive na Itália, os dois conseguem a grana da viagem num programa com um cliente bem excêntrico. Eles não se importavam muito com quem iam para a cama, Scott dizia que ia herdar a fortuna do pai assim que ele morresse. O jeito desleixado dos rapazes demonstra a boa química entre os atores. Keanu e River eram melhores amigos antes da gravação do filme. Ele não economizava elogios para a atuação marcante de River; até chamou o amigo de rei e Deus em  uma entrevista para uma revista do Reino Unido. 
Os garotos não localizam a mãe de Mike em Roma, mas Scott conhece uma amiga da mãe e acaba se casando com ela. O coração de Mike foi partido duas vezes, porém, ele ainda tinha esperança de encontrar  alguém que o fizesse se sentir em casa. As cenas em que as memórias da infância de Mike aparecem como gravações caseiras acentuam essa sua busca. 
Quando Scott finalmente muda de vida, o seu passado ainda o persegue. Bob era um veterano das ruas que foi por muito tempo o seu tutor. O seu abandono é demais para Bob suportar. Numa das melhores cenas do longa, os enterros do pai de Scott e de Bob são  realizados um próximo ao outro. Os olhares de Mike e Scott se cruzam indicando o último adeus. 
Scott já havia traçado a sua rota ao escolher uma esposa e seguir os passos do pai. Mike ainda andava  nas nuvens, assim como sua representação de lar aparecia em seus sonhos. O filme causa estranheza pela grande oposição existente entre os protagonistas. O objetivo de Gus era o de explorar o talento em potencial dos rapazes, como também o de ousar nos elementos experimentais, não muito comuns, mas que resultaram num filme nostálgico e altamente sensível.

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