Crítica: This Is England '86 (2010)

Com apenas 4 episódios, This is England '86 é um spin-off do aclamado filme homônimo estreado em 2006. Os poucos episódios não prejudicam o seu ótimo conteúdo. A temática skinhead retratada no filme não está mais presente. O seu fim brutal indicou mudanças que ocorreriam ao passar dos anos. O elenco se manteve; porém, os protagonistas aqui são os que eram personagens secundários no longa. O casal Lol (Vicky McClure) e  Woody (Joe Gilgun) é o centro da série. Shaun (Thomas Turgoose) o garoto problemático que se influencia pela ideologia punk, antes no filme, torna-se um adolescente procurando por algo para sair do tédio suburbano. A sociedade do período Thatcher era marcada por forte desigualdade e desesperança. O diretor soube localizar o espectador através dos noticiários ao qual os personagens assistem e que refletem os diversos fatos daquele ano, como a Copa do Mundo e pequenos motins causados pelos altos índices de desemprego. Ademais, a trilha sonora merece destaque, que melhora nas séries posteriores (explico mais adiante).
 Gadget (Andrew Ellis) que antes era o bullier de Shaun, torna-se seu amigo e ganha as cenas mais divertidas da série. Smell (Rosamund Hanson) ainda mantém o mesmo look inspirado na cena gótica da década, e forma ao lado de Shaun, o segundo casal da série.
O primeiro episódio se divide entre tensão e humor, iniciando-se de onde o filme terminou. O pequeno Shaun está acompanhado de Combo após deixar Milky no hospital. Essa cena deixou muitos fãs do filme curiosos sobre o destino deste. Sabemos que ele sobrevive à briga que teve com Combo, porém só veremos este personagem tão emblemático da trama no penúltimo episódio. Voltando ao ano de 1986, Woody e Lol estão prestes a se casar, mas ele não consegue realizar seu voto, deixando todos perplexos. Não obstante, Meggy (Perry Benson) sofre um infarto na Igreja. A cena ganha um tom cômico quando todos partem para o hospital. É lá que ocorre o primeiro reencontro entre a turma e Shaun, que tinha sido surrado por um cara da escola.

O capítulo seguinte adquire um ar sério que se intensifica nos outros. O que torna a curta série boa de fato é que há um equilíbrio entre o surgimento da tensão e o seu rompimento. O fora que recebeu no altar parece não ter sido o pior momento da vida de Lol. Seu pai retorna à sua casa e numa tentativa de alertar a sua mãe e irmã de que ele já a abusou várias vezes é silenciada por aquela, que a expulsa de casa. Com a falta de atenção de Woody, Lol compartilha sua angústia com Milky, com quem tem um caso.Shaun enfrenta sérias dificuldades em amadurecer. Acredita estar satisfeito com seu pequeno emprego e não precisar ir a uma faculdade. Seu emocional é instável como no longa. Ele não sabe lidar com o relacionamento entre sua mãe e o seu patrão. Aliás, é o embate entre amadurecer ou não fazer nada que muitos personagens se confrontam. Harvey (Michael Socha) é controlado pelo violento pai mas decide não fazer nada diante disso. Já Trev (Danielle Watson) é abusada sexualmente pelo pai de Lol em uma visita a sua casa. Se a violência advinda da ideologia skinhead foi o foco do filme, aqui a familiar merece atenção.
A tensão se rompe quando Trev desabafa à Lol sobre o ocorrido e ela decide afrontá-lo. Em uma cena que se evidencia o rancor existente entre os dois, ele tenta abusá-la quando ela mostra o machado que trouxe consigo. Ela põe um ponto final a esse sofrimento, sendo acolhida por Combo, que vai a sua casa logo após o assassinato. Ele, que sempre a protegeu quando eram mais jovens, decide assumir a culpa pelo crime.
A série termina com a turma assistindo à grande partida entre Inglaterra e Argentina e em outro plano, Combo dirige-se à cadeia.

A trama se segue em mais duas séries, uma que se passa em 1988 e outra em 1990. Apesar da impunidade do crime, o assassinato ainda vai abalar muito a vida de Lol. O drama em que os personagens vivem ainda é atual. Outra série inglesa que retrata a juventude faz muito sucesso atualmente. Ainda não a conferi, porém, o legado das séries This is England está no balanceamento entre seu humor, sem ser forçado, seu drama, sem ser clichê e o nosso apego a personagens que vão a fundo nas suas emoções, nos tornando parte da turma que não queremos perder o contato jamais.