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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Mustang (2015)



O avanço das conquistas feministas tanto no ocidente quanto no oriente é evidente no mundo atual. Porém, o peso do patriarcado ainda impede a liberdade da mulher em alguns desses lugares. Em uma vila da Turquia, cinco irmãs encaram diariamente os seus aprisionamentos como mostra o filme Mustang. No último dia de aula, as garotas aproveitam para se divertir com seus amigos na praia. A simples aventura torna-se um tormento em suas vidas em seguida. Sem pais, elas vivem com a vó e o impiedoso tio, que ao ouvirem que as meninas exibiram comportamento considerado promíscuo no passeio, literalmente as encarceram na casa. Em cenas que vagamente lembram a obra da diretora Sofia Coppola, As Virgens Suicidas (1999), as irmãs trocam ternura e suas semelhanças físicas não apagam a identidade distinta de cada uma. Sem dúvida, a que ganha mais destaque entre elas é a caçula Lale (Güneş Şensoy) que surpreendentemente é a que analisa o sistema que as aprisiona de forma mais crítica. Inibidas de contanto com meios que lhes oferecessem qualquer autonomia (telefones,computadores,maquiagem) elas agora são submetidas a treinamentos de como se tornarem donas de casa. Lá na Turquia, o casamento ''arranjado'' ainda é tradição. Aos poucos, cada uma sai de casa para tornar-se esposa de um homem desconhecido. Lale sabe que esse dia chegará para ela e fará de tudo para se libertar.



Em meio à privação de sua independência, as meninas cometem pequenos atos de rebeldia. A ida ao estádio de futebol, que ironicamente só poderia ser atendido por mulheres por causa da selvageria dos homens no local, demonstra que oferecer mais espaço a elas não fere ninguém. A diretora Deniz Gamze Ergüven realiza um grande filme não só por criticar o patriarcado ultrapassado, mas também por apresentar isso em um ponto de vista feminino, melhor, a partir da visão da nova geração de meninas que se tornam cada vez mais empoderadas. É certo que algumas das irmãs não lutam contra a opressão, no entanto, temos que entender que a enfrentamos de maneiras diferentes, e quando não, ansiamos por uma coragem que nos impulsionem. Quando sua última irmã está prestes a se casar, Lale se impõe e tranca todos as portas e janelas da residência,a fim de que ninguém pudesse tirá-las de lá. Isso representa o impedimento definitivo de permitir que o sistema as tocassem. A fuga das meninas pode ter soado surreal para alguns espectadores, mas mostra que vale a pena sim lutar pela sua liberdade. Essa inspiradora obra de arte sobre resistência ganhou espaço entre os indicados a filme estrangeiro no Oscar deste ano. Minha esperança é a de que ela ganhe espaço também entre a nova geração de meninas para que reconheçam a repressão do seu gênero em seu próprio contexto e que façam a sua própria revolução, pessoal ou ao lado de suas irmãs,amigas, enfim, ao lado de quem também esteja disposta a lutar. 


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