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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Sans toit ni loi (1985)



Há várias histórias adaptadas para o cinema em que seus protagonistas são, aparentemente, bem resolvidas na área profissional, mas que abandonam o caminho que levavam até então para uma direção que as conduziriam ao encontro de si mesmas. Na recente produção Wild,de 2014 (estrelada por Reese WitherspoonCheryl acredita que escalar montanhas curaria seu passado obscuro,mas nesta árdua jornada, os seus verdadeiros sentimentos brotam e assim, ela alcança a sua paz interior. Outra mulher também embarcaria  numa árdua jornada,porém, ao invés de uma paz interior, só consegue a sua deterioração. Em Sans Toit ni Loi (mais conhecido como Vagabond) a protagonista Mona (grande Sandrine Bonnaire) não é bem a heroína da história que assistimos. Assim como o termo vagabundo implica, Mona não é considerada ninguém importante para a sociedade ao seu redor. Apesar dos relatos de várias pessoas que cruzaram seu caminho, ninguém parecia conhecê-la realmente. 
A crítica social da célebre diretora Agnés Varda se faz por meio do formato documental que o filme propõe. Varda inicia seu filme como narradora, afirmando também não conhecer Mona. Sendo assim, a diretora se insere na sua própria crítica sugerindo que ninguém é isento quando se trata de ignorar os rejeitados socialmente. Mona tinha uma vida profissional estável em Paris, mas decidiu vagar pelo país quando essa vida não  a mais satisfazia. Mona conta isso a uma das pessoas que ela encontra pelas ruas. Nada mais sobre seu passado é revelado, ela era outra mulher agora, livre de obrigações e de apego material. 
No entanto, ela logo se mostra dependente das pessoas que encontra. Quando se acomoda num pequeno trailer pertencente a um filosofo, ela se recusa a ajudá-lo em troca da sua estadia. ''Você escolheu total liberdade, mas só conseguiu total solidão.'' diz o filósofo à Mona que continua então, seu rumo sozinha.
 Em uma cena, ela é abordada por um homem que a acaba  estuprando. A questão de gênero também é de importante análise. Uma mulher que viagem sozinha é realmente mais segura ao lado de um homem? Outros pontos machistas podem ser levantados a partir do longa. Por ser um filme que se centra na mulher e no rompimento dela com as construções sociais impostas às mulheres, a crítica considera a personagem feminista. Entretanto, ela não é completamente feminista visto que Mona é extremamente dependente dos favores dos outros e também não tem ambições, não sabe até onde quer ir, não se afirma.Apesar disso, Vagabond é um filme importantíssimo para o público feminino, pois, traz uma personagem que foge ao tradicional. Quis dizer que ela não segue os modelos limitados já conhecidos de personagens femininas no cinema. Nesse aspecto, o filme pode ter sim uma nuance feminista.
Mona passa a se deteriorar cada vez mais quando se junta a um grupo de também vagabundos. Quando eles a abandonam, Mona se encontra sozinha novamente. A sua força dá lugar a um corpo lânguido e desprotegido que logo o frio arrebata. Sem teto e nem lei, Mona é mais uma desconhecida para as autoridades. Sem ambição e destino certo, Mona tem o seu fim como uma estranha para nós. Se tivesse mais tempo, talvez encontrasse a resposta que procurava, ou a sua intenção mesmo era viver como uma misteriosa viajante. Enfim, será que alguém realmente se importa com os desconhecidos socialmente? E quem são eles na nossa concepção? Será também que procuramos conhecer o outro numa sociedade extremamente individualista?  Será que a morte é a única libertação possível para uma mulher dentro do sistema?
O que posso alegar é que a crítica da Varda se abrange para diversos contextos sociais e que é sem dúvida um filme que levanta questões pertinentes até hoje.


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