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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: La belle personne (2008)



Lembro da primeira vez que assisti ao filme La belle personne (em português: A Bela Junie) na época em que a TV Cultura exibia ótimos filmes nas quartas-feiras à noite. A sensação que permaneceu comigo até revê-lo recentemente foi a de um retrato atual mais delicado do amor ''não-realizado''. Já era característica do diretor Christophe Honoré retratar a vulnerabilidade romântica dos seus personagens, como se nota no seu musical Love Songs (2007). A Bela Junie é lançado no ano seguinte, e traz o protagonista do anterior, Louis Garrel, que remete como nenhum outro ator, ao jovem intelectual e melancólico dos filmes da Nouvelle Vague. O longa é livremente, mas astutamente, inspirado no romance clássico La Princesse de Clèves, escrito por Madame la FayetteAssim como no livro, a protagonista do filme é marcada pela sua beleza primorosa que atrai a atenção das pessoas ao seu redor. Junie (Léa Seydoux) é novata em uma escola também frequentada por seu primo Mathias (Esteban Carjaval-Alegria). Seu ar misterioso desperta o interesse do seu colega de classe Otto (Grégoire Leprince-Ringuet). Porém, conquistar Junie é o mesmo que adentrar a sua confusão interior e compreendê-la, e assim, Otto se encontra perdidamente apaixonado por ela. O filme não é mais um cliché do casal feliz para sempre que Hollywood ainda insiste em vender. Honoré propõe uma configuração moderna à personagem romântica feminina. Isso se dá na naturalidade em que expõe seus sentimentos, sendo sempre sincera a quem os revela, ao mesmo tempo em que se mostra uma mulher determinada e cética em relação a duração desses sentimentos. A sua complexidade pode ser considerada como uma atual exploração da personagem feminina que rompe com a restrita personalidade romântica, mas sem profundidade, encontrada na maioria dos filmes. 
O ar enigmático de Junie acaba atraindo o seu professor de italiano Nemours (Louis Garrel) e em uma cena, enquanto os alunos ouvem a uma ópera durante a sua aula, Junie se sente profundamente tocada pela melodia e sai da sala. A cena que se  desenvolve de forma estática, torna-se tumultuada diante da emoção que Junie expressa com a canção e a que Nemours exprime ao roubar seu retrato deixado na sala.



Junie decide dar uma chance ao amor que Otto nutre por ela, no entanto, há algo no seu olhar que parece não corresponder a esse sentimento. É por Nemours que ela guarda uma forte paixão, tanto que a gente só a descobre através de uma singela declaração que faz a Otto. Junie diz que prefere partir ao magoá-lo, do que se deixar ferir pelo amor que sente por outro. Esse não é o único trio amoroso do longa. Nemours mantinha um duplo relacionamento com uma professora e uma aluna  até perceber seu sentimento por Junie. Outro complicado envolvimento amoroso encontra-se em Mathias, que mantém casos secretos com Catherine (Anaïs Demoustier) e Esther (Esther Garrel) e ainda se relaciona às escondidas com Martin (Martin Simeon). Uma carta que revela a sua verdadeira paixão por este último,escrita anonimamente, é perdida durante uma aula de Nemours e alegam ser dele para sua ex- namorada e aluna. Diante de tantas incertezas no amor, o único que acata as dores de uma única relação amorosa é Otto, que comete suicídio. 
Os traços melancólicos da atriz Léa Seydoux se encaixam na profunda dor que Junie é sujeitada. Ela tinha perdido sua mãe antes de mudar de escola e agora perde Otto. Temendo que o que sobrou de serenidade nela perca-se ao se entregar para Neumours, Junie decide partir. Indo morar com o pai, ela procura o retorno do seu antigo eu, que havia se desorientado até então. 
A Bela Junie  simboliza a languidez do amor reprimido através da cinza Paris, da sua trilha sonora que exprime o estado de espírito que acompanha o personagem, como na cena em que Otto se mata cantando. Realça ainda, através dos triângulos amorosos e  do teor filosófico e literário que compõe os diálogos, marcas da French New Wave. O aspecto clássico e atual do longa prova que quando se trata da temática romântica muito se mantém por conta da sua complexidade e muito se inova pelas novas configurações que o amor vem adquirindo.  





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