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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Sense and Sensibility (1811), Jane Austen



Razão e Sensibilidade (1811) é meu primeiro romance da escritora inglesa Jane Austen. Mundialmente celebrado ao lado de outros sucessos da autora como Orgulho e Preconceito, ele se torna relevante na medida em que apresenta diversas nuances da sociedade da época. Nenhum livro pode ser lido com neutralidade, no caso de Razão e Sensibilidade, pretendo ir além do que Austen descreve nesse que é o seu primeiro romance. A história se passa na Inglaterra do século 19, quando as irmãs Elinor e Marianne Dashwood mudam de cidade e através de novas experiências, testemunham o poder da razão e das emoções em suas vidas. Elinor é a personificação da razão. Não que ela fosse insensível, porém ela modera seus sentimentos a fim de manter as aparências na sociedade. Já Marianne representa a sensibilidade. Ela não mede suas emoções e não teme em demonstrá-las abertamente. A aparição das figuras masculinas na vida das jovens já é algo esperado em um romance de época. No entanto, Jane parece brincar com o estereótipo de cavalheiro e nos apresenta homens imperfeitos. Edward, que rouba o coração de Elinor, é muito tímido, feio e que só desaponta a família. Coronel Brando, que se tornará o par de Marianne, também não é exteriormente atrativo e muito sério. Entretanto, ambos são homens generosos e amáveis, contrastando com o modelo masculino ideal que recai sobre Willoughby, o charmoso e inicialmente romântico jovem que deixa Marianne brutalmente devastada. 
Impressionei-me com a ironia pertinente na obra de Austen, visto que havia uma demanda de bons costumes para a mulher da época, e acima de tudo, se ela exercesse uma profissão que podia ser campo fácil para a deturpação dos mesmos. Além da ironia, ela não poupa a crítica a uma sociedade que valoriza primordialmente o ter ao ser. Isso estampa-se na cunhada das meninas, Fanny Dashwood ao convencer seu marido a deixá-las sem lar e sem dinheiro, advindo da herança do falecido pai. Além de desafiar o papel masculino, a autora também o faz ao feminino, especialmente através de Marianne. A jovem refuta as convenções de ladylike e exibe um comportamento considerado rebelde no seu tempo por não esconder seus mais profundos sentimentos, considerados por muitos como uma revolta com a sociedade, ao contrário de Elinor, que adota uma postura contrária para se encaixar no padrão. É importante destacar que isso não se dá de forma completa e com concepções atuais, uma vez que o contexto não oferecia liberdade suficiente para tal. No entanto, o fato de Marianne acabar se casando com o coronel por encontrar nele alguém que a ouvisse e que se respeitassem mutuamente, infere-se  uma atitude pré-feminista. Marianne também mostra-se uma mulher culta, que aprecia artes e que busca muito mais o lado sensível dos outros do que o exterior. 
A simplicidade e leveza de Jane Austen deslumbram o leitor ao se somarem ao seu retrato crítico da sociedade inglesa. Uma vez que lemos Austen com o olhar de quem desafiava as convenções, a leitura de outras das suas obras se torna um convite altamente atrativo. 

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