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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Pride and Prejudice (1813), Jane Austen



Publicado em 1813, o segundo romance da escritora inglesa Jane Austen, Orgulho e Preconceito, é considerado um marco na literatura por sua escrita primorosa e por seu casal central cativante. A obra não é  uma simples história de amor em que a felicidade da protagonista depende do homem, como muitos a leem. Austen, assim como em outros dos seus romances, constrói personagens femininas fortes que veem a companhia de um homem como uma relação de respeito mútuo. É por essa razão, que os sentimentos que Elizabeth Bennet e Mr. Darcy desenvolvem entre si encanta leitores até hoje.  O narrador nos mostra que o orgulho fundado no preconceito social dos personagens é o grande impasse para a realização pessoal dos mesmos. Isso já se revela na frase inicial do romance, mostrando o casamento como a única forma de ascensão social. A família Bennet não é tão abastada quanto as outras da região, sendo assim, a falta de escrúpulos da Senhora Bennet se evidencia na sua impertinência em relação ao casamento arranjado em detrimento à educação de suas filhas. Por ser uma mãe ausente nesse aspecto, suas filhas, exceto por Jane e Elizabeth, são imaturas e obcecadas por militares. Essas, demonstram uma afinidade admirável entre si. Elizabeth inspira confiança pela sua sinceridade exacerbada, porém muito dessa sinceridade se baseia nas primeiras impressões que as pessoas lhe imprime.  A ingenuidade de Jane é desmerecida por esta, que tende a absorver com facilidade a falta de decoro nos outros. Por ocasião de um baile, somos convencidos por Elizabeth de que seu orgulho diante das famílias presentes se justifica. A chegada das ricas famílias Bingley e Darcy na região causa euforia na família Bennet. Logo o simpático Bingley encanta a dócil Jane, ao passo que a frieza de Mr. Darcy repugna Lizzy, apelido de Elizabeth. Sua recusa em dançar com ela, revela sua arrogância, porém, ele se defende mais tarde no livro, alegando ser reservado e que não sabe se apresentar adequadamente a estranhos.
O que torna Elizabeth uma heroína à frente do seu tempo não é somente a sua língua afiada — uma característica considerada vulgar para uma mulher na época — mas sim como a manuseia. As suas críticas não são frívolas, como as da tia de Darcy, Lady Catherine de Bourgh. Esta não poupa ao depreciar quem não se encontra à altura de sua fortuna. Elizabeth, no entanto, não apresenta tal comportamento avarento, pois, zomba do mesmo. A sua crença no amor, e não riqueza como meio para um casamento e a sua concepção diferenciada sobre o mundo patriarcal, conferem uma liberdade diferencial à Elizabeth em relação às demais personagens. Em uma das minhas partes preferidas do romance, Mr. Collins, um clérigo e herdeiro da propriedade dos Bennet, pede incessantemente à mão de Lizzy em casamento. Seus motivos baseiam-se na resultante elevação social que ela obteria, constatando que essa seria uma rara oportunidade de torná-la rica. Porém, Lizzy nega o pedido diversas vezes, alegando não estar interessada. Segundo Collins, ela está apenas se fazendo de difícil e em breve o aceitaria. Lizzy responde de tal maneira que deixa claro sua racionalidade diante da situação. Nem a sua impertinência nem seu dinheiro seriam capazes de convencê-la. Dessa forma, a protagonista rompe com o ideal feminino no modelo patriarcal e pode-se sim, considerar essa nuance como uma pré-feminista.
 Seu orgulho a impede de alterar sua visão sobre Mr. Darcy ao acreditar na versão da história de seu mais novo amigo e tenente, George Wickham, sobre como este o destratou cruelmente certa vez. Elizabeth nutre um profundo ódio contra a insolência de Darcy e isso se acentua ao descobrir que o casamento de sua irmã com Bingley nunca ocorreu por sua causa. Mal sabia Lizzy que o que Darcy nutria por ela era uma paixão capaz de dissolver o seu orgulho e admitir a sua culpa diante do infortúnio de Jane. Entretanto, é ele também que desvenda o seu orgulho excessivo no seu discernimento. Lizzy aos poucos enxerga a Darcy e a si mesma com outros olhos e os sentimentos ocultos  por ele se afloram. Acredito que essa devoção que Mr. Darcy provoca nas fãs de Jane Austen se dá na sua generosidade sem querer algo em retorno. Darcy ajuda financeiramente o casamento entre Lydia e Wickham, mesmo após este tê-lo difamado. Sua gentileza ao ouvir os conselhos femininos também é um diferencial. Ele admite suas fraquezas e não se envergonha ao revelar seus sentimentos à Elizabeth. Sem dúvida, ambos personagens apresentam uma complexidade ao longo da obra que estimulam no leitor um apressado desejo de harmonização e união. Mas Austen reserva isso lá pro final do livro, o que indica outras intenções além da de apresentar um casal romântico. A autora,portanto, retrata personagens humanizados em seus vícios e virtudes e sua representação da natureza humana é precisa, induzindo diferentes reações e espelhamentos dos leitores nesses personagens. 

Comentários

  1. Muito boa sua resenha! Orgulho e preconceito é uma obra atemporal, meu livro favorito! Amei o blog.

    tranhomundo-de-ioio.blogspot.com

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  2. Mais de um ano e eu juro que só vi seu comentário agora, mil desculpas!!! :( fico super agradecida por sua visita e apoio!

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