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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: The Addiction (1995)


A temática vampiresca era um sucesso e bem projetada no cinema e em séries dos anos 90. Buffy , a Caça-Vampiros, Drácula de Bram Stoker e Entrevista com o Vampiro  são  exemplos das mais conhecidas obras nesse estilo da época. Filmes sobre a droga heroína também tiveram seu ponto alto nessa década, principalmente devido à cena underground que a popularizou. Trainspotting, Réquiem para um sonho e Diário de um Adolescente configuram-se entre os melhores do gênero junkie. O diretor Abel Ferrara (Ms.45) retrata então, o vampirismo como uma metáfora para o vício na droga em sua hipnotizante obra Os Viciosos. Ferrara é renomado por filmar a vida mundana de Nova Iorque. A sua fotografia preto e branco acentua a atmosfera sombria das suas noites. 
Kathleen Conklin (Lili Taylor) é uma estudante de filosofia e um certo dia ao deixar a faculdade, é abordada por uma mulher elegante que na verdade era uma vampira. Depois do ataque, Kathleen adota um comportamento semelhante ao de um vampiro como aversão à luz solar, ao mesmo tempo em que se assemelha a um viciado com crises de abstinência e aparência suja. Sua primeira vítima é um mendigo que encontra na rua. A protagonista utiliza uma seringa ao invés de mordê-lo para obter seu sangue. Kathleen que no início do filme questiona a culpa que recaiu sobre um só homem devido a crimes de guerra, agora se encontra na mesma posição ao sugar a vida de quem achasse necessário. 


A protagonista convida seu professor de curso para um drink e antes de transformá-lo, injeta heroína. Quanto mais  se degrada, mais ela aparenta ter consciência do poder do vício. O teor filosófico do filme ressalta as observações cada vez mais existencialistas que acompanham a personagem. A sua moral recai no mal inerente do ser humano. As constantes imagens de cadáveres da guerra servem como aviso de que não somos mal porque fazemos o mal e sim porque o somos. Com a certeza de que sua nova forma não-humana a isenta de arrependimento do seu vício, Kathleen se dedica de forma visceral à sua única subsistência. 
A trilha sonora é o ponto alto da obra. Composta por música clássica e rap, a mescla corrobora com a essência soturna das obras vampirescas ao mesmo tempo que transmite a ameaça iminente, a cada passo que Kathleen dá em sua deterioração. Ao encontrar um semelhante interpretado por um gótico Christopher Walken, Kathleen se depara com um tipo de viciado almejado por outros, o equilibrado. Ele recomenda a obra Naked Lunch do autor beat William Burroughs, que contém descrições apuradas de como lidar como vício e sua abstinência. '' You can't kill what's dead. Eternity's a long time. Get used to it.''  A fatalidade com que o personagem de Walken retrata o que se aguarda para os que são como ele e Kathleen soa penosa ao vermos a personagem se contorcer por estar privada de seu alimento. 


Um festim vampiresco toma lugar em seu apartamento com o comparecimento de todas as suas vítimas. O caos e os corpos no chão remetem aos horrores do campo de concentração. A ensanguentada  e vigorosa Lili Taylor lembra Isabelle Adjani nas cenas mais perturbadoras do clássico Possessão (1981). Momentos antes do pandemônio, Lili entrega uma das melhores cenas que já vi ao tentar resistir violentamente ao seu vício. Seu inferno interior termina ao se redimir a Deus. Kathleen enterra simbolicamente sua forma humana e vagando pela luz do dia diz ''To face what we are in the end, we stand before the light and our true nature is revealed. Self-revelation is annihilation of self.''  Indicando assim, o reconhecimento e  livramento do mal que fazia parte da sua natureza, ou seja, o fim de sua existência como viciada. O filme deixa em aberto o destino de Kathleen. A sua rápida redenção é um pouco decepcionante, porém não rompe com o êxtase provocado ao longo das cenas. 
  Os Viciosos é fascinante ao misturar gêneros e refletir sobre a vulnerabilidade humana em meio a um ambiente caótico.




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