Minha foto
Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Bonjour Tristesse (1958)



Baseado no romance de mesmo título da escritora francesa Françoise Sagan, Bom dia, Tristeza é um filme  adaptado às telas do cinema pelo diretor austríaco Otto Preminger. O filme traz no elenco duas das mais renomadas atrizes do século XX. De um lado, Deborah Kerr possui uma longa carreira com papéis tanto reservados quanto desafiadores. De outro, Jean Seberg teve uma curta carreira e vida, constantemente insatisfeita com seus papéis, até mesmo com o que a despontou, Acossado de Jean-Luc Godard. Em Bom dia, Tristessa, a personagem de Deborah alterna entre suas facetas, enquanto a de Jean reflete o mesmo sentimento que a perseguia na vida pessoal. Interpretando a boêmia e mimada Cécile, o ar ingênuo da atriz aliado às cores vivas da obra transmitem uma harmonia que logo seria rompida pelo seu interior problemático. Sua ingenuidade revela, na verdade, infantilidade. Sendo só Cécile e seu pai num luxuoso casarão, os dois se comportam como bons vivants. A jovem troca os estudos por acompanhar seu pai e a sua também jovem e instável acompanhante, Elsa. Mesmo com a perda da mãe, Cécile não se incomoda com a companhia esbelta de Elsa, uma vez que acredita ser passageira e inofensiva. Sua despreocupação termina quando uma antiga amiga da família aparece e inicia um romance com seu pai. 
Anne (Deborah Kerr) é conservadora em relação à vida desregrada de Cécile. Ela ordena que a jovem pare de ver seu namorado e se dedique aos estudos. Aliás, ambas personagens são donas de si apesar dos defeitos. A passividade da figura paterna irrita Cécile, que fará de tudo para que o relacionamento acabe. Até aqui o filme parece ser daqueles em que a filha mimada arquiteta truques infantis e se dá mal de forma superficial. É assim que o filme se projetaria se não fosse pela genialidade do diretor em trespassar do interior da protagonista as consequências de tal rebeldia. 


O longa é  narrado por uma Cécile no tempo presente em meio a uma festa elegante com a  filmagem em preto e branco. A escolha da fotografia para o momento tanto carrega um contraste, pois é frequentemente utilizada em flashbacks, quanto o mundo sórdido que se tornou parte da personagem. Em certo momento, Cécile reconhece seu comportamento de garota mimada e errônea, mas é necessário algo que desfaça de vez seu lugar de conforto. É quando Cécile decide reatar o relacionamento de seu pai com Elsa e Anne acaba descobrindo que o pior acontece. Seu choque emocional  a leva a um acidente fatal, o que aprisiona Cécile em seu próprio mundo de remorso. Mundo esse oculto, pois a sua vida burguesa exigia uma vida de aparências.  A inveja, a imaturidade e o melodrama de Cécile são de fácil identificação entre adolescentes. Olhando mais a fundo a personagem, nota-se sua liberdade sexual e a escolha de suas próprias decisões, considerando que a autora do romance tinha 18 anos quando o escreveu. Sendo assim, por mais que a obra apresente certos estereótipos em relação a mulheres, há avanços significativos no seu retrato em uma época próxima à revolução feminista. 
Ademais, se a história não agrada em sua totalidade, pode-se admirar a beleza e talento em potencial da atriz Jean Seberg, que assim como Cécile, infelizmente, passou a sua vida se lamentando por conta de suas escolhas erradas. 




Comentários

Popular no Blog...