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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Easy Rider (1969)


Olá leitores, sentiram a minha falta? Pois é, há meses que não publico nada por conta dos meus estudos, emprego e falta de meios que limitaram minha dedicação ao Blog. Porém, consegui essa brecha para escrever sobre um dos melhores filmes que vi durante esse tempo ausente, Easy Rider! 
A tão sonhada liberdade americana vem sido idealizada de distintas maneiras em diferentes épocas. Durante a década de 60, a exploração da sensação de infinitude das estradas conciliada a drogas e músicas psicodélicas era uma afronta ao sistema estabelecido no pós segunda guerra baseado em virtudes forjadas. Essa libertação do sistema começou a ser fomentada pelos escritores da Geração Beat, entre eles Allen Ginsberg e Jack Kerouac, que já apresentavam suas contestações em relação ao American Way of Life em seus escritos décadas antes. Nesse sentido, Peter Fonda e Dennis Hopper produzem e dirigem um filme que mesmo com os diferentes ideais de liberdade posteriores ao seu tempo, ainda proporcionam um desconforto espiritual por terem resistido ao que eventualmente nos resignamos.
Ao som de grandes bandas como The Byrds e The Jimi Hendrix Experience, Wyatt (Fonda) e Billy  (Hopper) embarcam nas suas motocicletas com destino a um festival em Nova Orleans, um dos lugares mais memoráveis na literatura de contracultura. É no caminho, que ambos passarão por provações que põem em dúvida o ideal no qual baseiam suas vidas. 


A atmosfera idílica de uma comunidade hippie aparenta ser uma parada precisa para melhor ambientar o longa. Porém, não é ali que os protagonistas pertencem. Eles não são tão jovens para serem muito utópicos, mas também não tão velhos para se conformarem com as coisas do jeito que são. Wyatt e Billy buscam um espaço próprio na América, mas não sabem qual. Não sabem porque se a liberdade realmente se estabelecesse em algum lugar concreto, ele já teria sido deturpado. O que quero dizer é que a liberdade é alcançada no plano abstrato/espiritual, não procuro me aprofundar nesse assunto, porém é a que parece acessível para os caras no filme. 
Wyatt e Billy são presos depois de invadirem uma parada cívica, e na cadeia conhecem o rico advogado interpretado por Jack Nicholson. O seu jeito irreverente chama atenção dos rapazes, e logo os três vão se aventurar juntos. O personagem serve de parâmetro para representar aqueles que crescem numa zona de conforto e mesmo compreendendo o que sair dela significa, preferem usufruir dos privilégios que sua posição oferece. Pois bem, o personagem de Nicholson revela em uma conversa a premissa do filme. Ele acredita que os caras são a definição de liberdade, que seu estilo de vida é o que assusta o Estado e que por isso, sua imagem é manipulada para que seus valores continuem a serem perpetuados. Cada geração reage de diversas formas contra o sistema; porém, seus anseios sempre são adulterados a fim de que a sociedade os rejeitem ao ponto de estacarem suas lutas. Aqui, pessoas como os protagonistas são vistos como caipiras que precisam de um bom corte de cabelo. Posteriormente, o termo easy rider seria alterado significando uma gíria para amantes de  prostitutas. 
Uma aventura carnal com prostitutas não é suficiente para eles. Uma bad trip a partir do LSD representa uma das melhores cenas de efeitos de drogas do cinema. Nela, os personagens choram, transam, desnudam a alma e expõem seus medos; e o resultado da experiência é a de que a busca pela liberdade foi um fracasso. Uma vez que  desde que embarcaram no Sul dos Estados Unidos, percebem que a liberdade individual é um estigma e a veem sendo retirada diante de seus olhos. O medo de terem as suas também eliminadas torna-se verdade, pois, quando há a morte de um indivíduo também há a morte do ideal que luta. Easy Rider termina com a mensagem de que a América vende seus sonhos e os esgotam de você até que não se resista mais. 


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