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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Trash (1970)


Segundo filme da trilogia de Paul Morrissey, Trash traz o maior sex symbol da cultura underground, Joe Dallesandro, como um junkie que não dá a mínima para nada além de encontrar um meio de conseguir seu pico. Praticamente todo mundo que circulava pela Factory de Andy Warhol acabava se viciando em algo. Lá também era um meio que atraia os considerados freaks pela sociedade, como a transexual Holly Woodlawn e a suicida Andrea Feldman. Ambas atrizes estão no longa e despontaram após a suas participações no filme. Holly até aparece na letra de Walk on the Wild Side do Lou Reed enquanto Andrea ganha destaque no último filme da trilogia. Joe interpreta um jovem de mesmo nome que vivencia as consequências do vício de maneira cômica. O filme divide-se em vários episódios que aparentemente são banais, mas que revelam uma crítica à sociedade burguesa. A história inicia-se com sua impotência sexual resultante do seu vício em heroína. É uma ironia visto que seu corpo é bastante sexualizado em alguns dos filmes que atua. Joe divide um apartamento pequeno com Holly, que vende lixo reciclado e  assim como todas as personagens femininas do filme, sente uma enorme atração sexual pelo rapaz. Porém, ao contrário de Joe, Holly é otimista sobre o futuro e planeja se livrar do vício em heroína para viver uma vida decente. Ela é de fato a personagem mais interessante do filme pois cria um contraste com a apatia de Joe e mostra-se bastante decidida no que almeja mesmo que seu sonho corrobore  o ideal de vida burguês.

Joe e Holly no seu pequeno apartamento.

Em busca de um pico, Joe tenta invadir uma casa mas se depara com a dona. Jane Forth, estrela do Andy Warhol, interpreta uma mulher de classe média casada e insatisfeita com o casamento sugerindo ao marido um treesome com Joe. O casal não se importa que Joe seja um ladrão e junkie, pelo contrário, a vida matrimonial parece ser tão monótona que o marido se interessa muito mais em ver Joe se picando do que ouvir o que a esposa tinha a dizer. Joe não se incomoda em se despir ou se injetar na frente de ninguém. Sua vida assentava-se no seu vício e o filme mostra que enquanto todos ao seu redor insistiam nos seus dramas burgueses, ele tinha apenas um propósito na vida e mesmo sendo um outsider, atraia a atenção daqueles com quem se esbarrava.


Por fim, Joe concorda com Holly em livrar-se da heroína a partir de um tratamento por metadona licenciado pela previdência social. Para tal, Holly finge uma gravidez e convida um agente da previdência para uma entrevista. O agente do Estado revela-se um freak e conclui-se que na verdade os personagens mais excêntricos do longa são justamente aqueles que se configuram como socialmente aceitáveis. O agente diz ao casal que só concederá o seguro se Holly lhe der o seu par de sapatos parecidos com um da atriz Joan Crawford. A cena termina com Holly irritada com a insistência e revelando a falsa barriga por acidente. 
Trash é um filme descontraído, com um fluxo tão natural que remete a um documentário. A crítica à sociedade moralista se apresenta de forma minuciosa e os personagens que representariam a norma da sociedade mostram-se mais decadentes do que aqueles que tiram do lixo seu sustento e do junk o alimento diário.

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