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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Resenha: Junky, William Burroughs (1953)



Em 1992, Layne Staley, vocalista do Alice in Chains, cantava na faixa Junkhead do álbum Dirt sobre o prazer, a consciência e a visão da sociedade a respeito do uso do junk (heroína). Décadas antes, William Burroughs, o autor de Naked Lunch escreveria o mesmo em seu primeiro romance, considerado mais uma biografia, Junky ou Junkie. Nele, William Lee, pseudônimo de Burroughs, discorre sobre o período no qual iniciou o seu vício em drogas pesadas até quando as largou temporariamente. Para quem é familiar com a história do escritor Beat sabe que suas obras se baseiam em suas aventuras sob efeito ou fissura das drogas. Porém, muito mais que relatá-las, William retrata a hipocrisia de um sistema falido; suas obras datam o período pós segunda guerra, a partir de uma crítica afiada e sórdida que tornou seu nome uma marca da literatura mundial.
A primeira experiência com junk iniciou-se ainda durante a segunda guerra mundial quando Lee e um amigo tinham que se livrar de morfina e armas e assim, sustentava o seu vício em morfina ao mesmo tempo que a vendia. Nesse processo, Lee se depara com diferentes usuários, ou junkies, e traça seus perfis a partir do vício de cada um. Ele sabe quem são os caguetes, os confiáveis e suas descrições físicas denotavam a deterioração da droga. A linguagem gráfica de Burroughs é o que tanto atraí quanto repele leitores. O mundo underground pelo qual circula em Nova Iorque, Nova Orleans e Texas divide-se em dois que representam uma forte repressão da cultura tradicional da época, e ainda atual: A homossexualidade e o uso de narcóticos. Sua esposa, na vida real Joan Vollmer, contesta seu estilo de vida resultando no episódio que foi ilustrado na capa da edição acima. Joan tenta se livrar de um pacote de junk de William e os dois brigam.
Lee narra sua experiência com outras drogas além do junk, como a maconha e a cocaína. Há um trecho em que ele capta precisamente as inverdades que envolvem o uso da maconha: 
Maconha não induz ninguém ao crime. Nunca vi ninguém ficar belicoso sobre efeito do fumo. Fumetas são uma raça de sociáveis. Sociáveis demais pro meu gosto. Não entendo por que as pessoas que acusam maconha de instigadora de crimes não vão mais longe e pedem também a proibição do álcool. Todos os dias você vê bêbados cometendo crimes que não aconteceriam se estivessem sóbrios” (pg. 39).
Quando está sem junk, William recorre ao álcool. Entre dois males, acaba descobrindo que o junk é o menor. You can't understand a user's mind como na letra de Junkhead revela que só um junkie é capaz de entender o outro. É por esse motivo que William não escreve sobre seu vício a fim de que o compreendamos, mas sim de que articulemos nossas próprias opiniões sobre o seu estilo de vida. Por isso, o autor não se restringe em sua linguagem visual. Não é um livro feito somente para viciados, e sim para aqueles que se interessam por histórias na qual o estilo de vida de seu protagonista se opõe ao esperado e assim instiga-se o porquê de tal antítese.
Ademais, a figura caótica de William Burroughs sempre me fez admirá-lo por mostrar-se coerente e sagaz apesar de sua obsessão pelo junk. Lendo seus trabalhos, a dependência parece um mal menor diante de ambientes que aprisionam o homem e a mulher de suas liberdades íntimas. 

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