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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Flesh (1968)




Primeiro filme da trilogia de Paul Morrissey, Flesh já indicava as temáticas que seriam retratadas nela como identidades sexuais, sociedade burguesa e drogas. O mais intrigante destes filmes é que é difícil dizer o que é real, improviso ou ensaiado uma vez que os personagens soam bem verdadeiros em meio a situações cotidianas. Joe Dallesandro mantém seu estilo despojado ao longo dos três filmes. Neste, o ator interpreta um garoto de programa que está juntando dinheiro para pagar o aborto da namorada da sua esposa. Seu personagem aproveita momentos banais para registrar sua forte opinião. Por exemplo, há uma cena em que ele se depara com novos garotos de programa e iniciam uma discussão sobre homossexualidade. Enquanto os meninos se mostram preocupados com a visão da sociedade, Joe alega que não precisa se importar com o que pessoas heterossexuais pensam sobre o que eles fazem ou sejam. Em outra, Joe divide momentos de afeto com um cliente e leem um livro erótico juntos. É por ser um modelo masculino ao mesmo tempo um ícone gay e defender a causa que a figura de Joe torna-se mais interessante a cada obra assistida. Seu personagem compartilha momentos íntimos com ambos homens e mulheres e tem um filho de um ano, que também é seu fora das telas.


Considero os outros dois filmes da trilogia superiores a Flesh. Há inúmeros cortes que incomodam e interrompem falas de alguns dos personagens. No entanto, o filme recompensa ao trazer diálogos pertinentes. Enquanto Joe diverte-se com uma dançarina go-go, duas travestis conversam sobre cultura feminina e logo em seguida, a dançarina revela que já foi estuprada, mas que no fim achou a situação cômica. O contraste de representações femininas é relevante no sentido que a década favorece uma maior representação do que anteriormente é tido como tabu. Quando ela relata o abuso, afirma ter visto o agressor novamente no seu clube de dança e que não se desanimou ao vê-lo porque sabia que era superior a aquilo.Talvez seu comentário final tenha sido uma autodefesa já que estava compartilhando um momento íntimo com outro homem. 
É fato que as produções de Andy Warhol não agradam a muitos esteticamente. Porém, sua parceria com Paul Morrissey resulta em obras em que vários contextos podem ser discutidos. Ainda hoje são impactantes apesar de se arquivarem no universo underground. Um frame da cena que Joe está com um cliente tornou-se capa do álbum de estréia da banda inglesa The Smiths



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