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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Heat (1972)



Última parte da trilogia de Paul Morrissey, Heat assim como seus antecessores, traz discussões pertinentes em meio a cenários banais. Joe Dallesandro incorpora um ator que necessita de grana pra sobreviver. Ao se hospedar em um hotel barato, ele se aproveita inicialmente da dona a fim de pagar o aluguel por um preço menor. Lá ele conhece Jessica (Andrea Feldman) mãe solteira e lésbica que lhe revela os problemas que tem com a sua mãe Sally (Sylvia Miles). Sua mãe não aceita que ela viva com uma namorada, uma vez que acredita ser considerada uma atriz de respeito pela crítica. Joe e Sally se conhecem e descobrem que já foram colegas de trabalho. Sabendo que ela é abastada, Joe tenta agradá-la e os dois iniciam um affair
A questão de identidade sexual é mais uma vez relevante na trilogia. Sally alega que a atração de Jessica por mulheres é passageira e que enquanto ela sair com mulheres e frequentar bares voltados ao público gay, ela não poderá se mudar para a sua casa. A questão sexual não é a única retratada no filme, a de gênero também. Se em Flesh ela voltou-se à representação de travestis, socialmente discriminadas, aqui ela serve como uma crítica a não aceitação do envelhecimento feminino. A recente falecida atriz Carrie Fisher da saga Star Wars foi noticiada não somente em relação à sua morte, mas também ao fato de que quando apareceu no penúltimo filme, contestou-se muito mais sua aparência do que sua relevância na história. Pois bem, a preocupação de Sally em não expor a orientação sexual da sua filha na mídia é compreensível visto que a carreira, neste caso artística, de uma mulher se encontrará em jogo toda vez que ela não seguir padrões forjados. Se sua beleza não corresponder a uma juvenilidade vendida no mercado, ela será descartada. Se sua sexualidade não for para o consumo masculino, ela será desvalidada. 
Sally, assim como Carrie, tem a sua dignidade como atriz creditada a partir da sua idade. Ao contrário desta, Sally vive numa redoma ilusória em que seu auge como estrela juvenil permanece intacto. Já Carrie, sentiu na pele o fardo da crítica insensível e a atacou de volta por diversas vezes declarando a superficialidade com que a beleza feminina é delineada. 



Sally envolve-se com Joe para se autenticar já que ele se encontra no auge da sua forma física. Ela torna-se extremamente dependente do rapaz, porém as suas intenções eram apenas financeiras. Talvez cedendo às pressões da mãe a se afirmar hétero, Jessica flerta com Joe enquanto sua mãe está ausente. Sally marca um encontro com o seu ex-marido para decidir sobre o futuro de sua filha. Joe também vai junto e acaba se atraindo pelo amigo do pai da garota presente no local. Sally então percebe que não era o centro da atenção no mundo de Joe. 
Ao finalizar a trilogia notei que, na verdade, o intuito de Morrissey  e Warhol não era necessariamente levantar bandeiras a favor das minorias, mas sim apresentar histórias possíveis desses grupos que até então não eram bem representadas. Joe testemunha a estas diferentes narrativas mostrando-se por vezes passivo e outras ativo em relação à articulação de seu ponto de vista, ou seja, ele representa o espectador, que reage de diferentes maneiras ao assistir obras como essas. 

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