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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Punk Rock Feminism Rules Okay: 10 vezes em que elas se engajaram nas questões de gênero através do Hardcore/Punk

Da esquerda para a direita: Chrissie Hynde (The Pretenders), Deborah Harry (Blondie), Viv Albertine (The Slits), Siouxsie Sioux (Siouxsie & the Banshees) . Na frente: Poly Styrene (X-Ray Spex) and Pauline Black (The Selector). 1977


Por várias décadas, as mulheres têm ganhado um amplo espaço no ativismo feminista através de sua carreira artística. É fato que algumas delas ganharam status de ícones feministas sem nunca terem levantado a bandeira a favor do movimento como Patti Smith. Há também o caso daquelas cantoras que mesmo antes da segunda onda feminista ter implodido e gerado uma maior notoriedade, já saiam do seu lugar comum como Billie Holiday. O fato é que a partir da década de 60, com a segunda onda feminista, as mulheres destacam-se por cantar além do que se esperava delas. Nos Estados Unidos, Nina Simone com a faixa Four Women descreve quatro mulheres, problematizando os estereótipos de raça que evidenciam o longo período de opressão do povo africano por brancos no país. Na década seguinte, a explosão do punk carrega consigo a ideologia do DIY (do it yourself). Sendo assim, muitas mulheres abraçaram a ideia de reinventarem a sua feminilidade. O rótulo de ladylike era agora algo deixado para trás e a liberdade de dizer e vestir o que quiser, até o que é tido como parte do universo masculino, torna-se parte dos novos tipos de mulheres que ganhavam notoriedade naquela época. O cabelo colorido de Nina Hagen, a lingerie de Cherie Currie e a autonomia sexual de Wendy O. Williams intimidavam a sociedade conservadora da época e atraía mais devotas ao movimento que  transpirava liberdade feminina. 
Não é só no aspecto visual que a revolução ocorria, muitas mulheres invadiam o então considerado espaço masculino a fim de cantar sobre as problemáticas de gênero e consolidar a participação feminina nesse meio. A partir disso, elaborei uma lista com 10 músicas que provam que o punk segue como um estilo musical que implica o empoderamento das mulheres. 

1.The Slits - Typical Girls



Sem dúvidas, The Slits configura-se como uma das bandas percussoras do post-punk em meados da década de 1970. Além de estrearem com um álbum diverso tanto instrumentalmente quanto nas composições, Cut, as meninas posaram para o mesmo álbum seminuas e sujas de lama, desafiando assim, a censura sob os corpos femininos. O single Typical Girls repercutiu por criticar os moldes socialmente construídos para nós mulheres. O verso inicial da música indica os papéis que Ari Up e as outras integrantes da banda romperiam com a sua presença no meio punk britânico altamente dominado por homens como Johnny Rotten e Sid Vicious cuja relação de autodestruição é descrita na faixa So Tough. The Slits ousavam ao cantar sobre abuso midiático, drogas, questões de gênero e assim foram primordiais na construção da sensibilidade do terceiro movimento feminista da década de 90, o Riot Grrrl. Outro fato é que na cena punk britânica, havia um senso de comunidade entre as bandas de mulheres e as de homens, e alguns se apresentavam no mesmo palco como quando The Slits participou de uma das turnês do The Clash. Outra banda punk feminina contemporânea a The Slits e também inglesa é The Raincoats. Em 79, a banda lança um LP homônimo contendo o cover da música Lola  da banda The Kinks, que fala sobre uma transexual. A capacidade das meninas de cantarem sobre outras mulheres de forma ordinária ganhou outras dimensões o que impressionou Kim Gordon, ex-baixista do Sonic Youth e ao lado de The Slits, foi essencial para a formação do Riot Grrrl. 



Who invented the typical girl? 
Who's bringing out the new improved one? 
And there's another marketing ploy 
Typical girl gets the typical boy [...]

Além de questionar os papéis normativos impostos para as mulheres, a banda The Slits termina a letra também questionando os que se aplicam aos homens. 





É difícil descrever a imensidão que Poly Styrene representa para a cena punk. Assim como The Slits e The Raincoats, Poly Styrene era da Inglaterra,e aos 18 anos decidiu formar a sua banda X-Ray Spex. Com todas as letras escritas por ela mesma, a banda lança o álbum Germfree Adolescents com mensagens diretas que problematizam as pressões impostas sobre as meninas e que espelhavam suas experiências pessoais. Poly usava aparelho, não tinha o corpo padrão, e ainda liderava uma banda com membros masculinos. Pois bem, na minha opinião, Poly foi a cantora punk que mais rompeu com estereótipos no meio musical. O single Oh Bondage! Up Yours simboliza a relação masoquista entre a mulher e a sociedade sendo que devemos apenas performar nos papéis submissos. Ela continua explorando o silêncio feminino na faixa I Can't Do Anything na qual ela reforça a negação de papéis simples para as mulheres.  Identity, minha preferida do álbum, inicia-se com um lindo riff de sax performado pela única instrumentista mulher do grupo. Mesmo que o feminino seja o sujeito de muitas de suas composições, nesta, Poly canta sobre a crise identitária motivada pela alienação midiática que distorce a visão que temos sobre nossos corpos, independente de gênero. Eu poderia escrever sobre mais músicas do X-Ray Spex mas já deu para notar que as mensagens que Poly Styrene passa não são banais e sim, ainda bem presentes na sociedade. 








Saindo da Europa, mas ainda na década de 70, a cena feminina punk foi tardia, porém as meninas do The Runaways se destacaram mais do que outras bandas formadas por homens. Ainda adolescentes, Joan Jett e Cherie Currie tornaram-se uma dupla em que Cherie era a musa inspiradora das composições de Joan. Não há dúvida que a música Cherry Bomb, escrita por Joan e o produtor da banda Kim Fowley sobre Cherie, tornou-se um hino feminista e até já foi regravada pela bandas feministas Bratmobile e L7. A banda é até hoje uma das maiores referências do punk pois suas integrantes apresentavam personalidades distintas e todas elas transpiravam a essência rebel grrrl em suas performances. O estilo sensual de Lita Ford e Cherie Currie alinhavam-se ao masculino de Joan Jett e Sandy West. A integração feminina era um ponto forte na banda até a hiperssexualização de Cherie impedir o sucesso das meninas como artistas. Porém, antes que a mídia impusesse um fim na formação original do grupo, Jett e Currie escreveram juntas Dead End Justice. A música foi uma das primeiras que ouvi delas e continua sendo a minha preferida. O motivo dessa música estar na lista é que ela narra o diálogo entre duas amigas sobre outra coisa além de rapazes. Se você não sabe, há uma pesquisa que aponta que em filmes, na maioria das vezes em que há conversa entre duas meninas o sujeito é sempre algum garoto. Além da amizade entre garotas, a música explora a personalidade de uma adolescente que desafia convenções tradicionais e arrisca-se de forma destemida. The Runaways cantam sobre suas identidades sexuais, fazem covers dos artistas masculinos, mais velhos e que tinham o mesmo estilo de vida que elas, mas de forma aceitável como Lou Reed. Elas ainda encorajam muitas adolescentes a se emanciparem da forma que bem entender como também a juntar-se a outras meninas e cantarem sobre suas próprias percepções de mundo. 




Não tem como deixar de lado a figura relevante que Joan Jett representa no punk. Fora do The Runaways, ela tentou seguir carreira solo sendo rejeitada por diversas vezes e o motivo é óbvio. Sua forma de se expressar era rebelde demais enquanto outros caras faziam o mesmo e não havia problema nisso. Joan crava suas intenções na música das Runaways I Wanna Be Where The Boys Are. Quando finalmente foi aceita, seu single Bad Reputation alterou de forma significativa a forma com que as mulheres eram vistas no rock e Joan seguiu apoiando outras mulheres a despontarem suas carreiras. 





A década de 90 é marcada pela  terceira geração feminista que se iniciou com o movimento punk Riot Grrrl. Liderada pelas vocalistas das bandas Bikini Kill e Bratmobile, Kathleen Hanna e Allison Wolfe respectivamente, a cena seguia a ideologia setentista, porém, o ativismo ultrapassava os palcos. Zines e palestras voltavam-se a um público mais jovem e traziam as problemáticas relacionadas a gênero e sexualidade. Um dos focos era o abuso tanto sexual quanto psicológico. Na letra de Jet Ski do Bikini Kill, Kathleen canta I'm not your prison cell. O riot grrrl desencadeou uma série de bandas formadas só por meninas que reivindicavam o maior espaço feminino nas plateias dos shows punk. Excuse 17, na faixa I'd rather eat glass, retrata um relacionamento abusivo como se identifica no trecho You talk so big you put me in my place. O ativismo gay do movimento fica por conta da banda Team Dresch, que fala sobre a homofobia na letra de I'm Illegal. I'm afraid walking down the street, holding hands with my girlfriend that some cop is gonna arrest me. Sem dúvida, Bikini Kill foi o grande expoente da cena e Kathleen Hanna tornou-se voz para milhares de meninas que facilmente acreditavam  ter no sexo oposto o seu porto seguro. E é justamente sobre isso que a música Feels Blind é. O homem não pode ser o nosso parceiro enquanto a sociedade lhe concede uma maior liberdade. Kathleen sutilmente abre a música com uma metáfora que indica o sucesso do Nirvana ou até outras bandas de Seattle/Olympia concebido facilmente enquanto as riot grrrl eram tidas como um bando de meninas revoltadas e outras atitudes que quando masculinas, são tidas como a fórmula do sucesso. O movimento pode não ter alterado leis, mas com certeza alterou a percepção de muita gente sobre a voz política das mulheres. Além de que, inspirou outras ao redor do mundo a engajarem-se e isso se mantém até hoje com bandas como GirlPool, o grupo Pussy Riot e por meio da internet com a produção de zines eletrônicas ou de colagens. 



Após o rompimento do Bikini Kill, Kathleen continua seu ativismo político através das bandas Julie Ruin e Le Tigre.Com esta, ela lança o álbum Feminist Sweeptakes, meu trabalho preferido da banda, em 2001. Com uma sonoridade diferente do Bikini Kill, o grupo entrega hits dançantes mas com temas sérios como a defesa da luta LGBT. A canção Hot Topic é um presente a qualquer pessoa que busca ícones feministas pois a letra cita nomes importantes como Aretha Franklin e Tammy Rae e a repetição do verso don't stop indica a contínua relevância de mulheres que revolucionam o mundo de alguma forma.

5.Bulimia- Lute Pela Sua Vida

Ilustração por Jéssica B. Valeriano

O movimento Riot Grrrl se espalhou pelo mundo e chegou no Brasil com bandas como Dominatrix e Bulimia. Esta foi formada em meados da década de 90 e com apenas um álbum lançado, pois a morte da baterista ocasionou o fim da banda, Bulimia possuía letras que criticavam a opressão de gênero. O maior sucesso das meninas, Punk Rock Não É Só Pro Seu Namorado, é um chamado para aquelas que curtem o estilo, mas não se arriscam a se expressarem como bem entendem por temerem a reação dos homens. A banda continua criticando esses lugares que nos limitam na faixa Lute Pela Sua Vida. Como pode-se inferir a partir da ilustração, a música fala sobre repensar os nossos espaços e lutar para conquistar aqueles que não nos tornem submissas e passivas. Outra faixa com uma mensagem igualmente relevante é Nosso Corpo Não Nos Pertencem. Nela, a dominação dos nossos corpos por homens no poder é contrastada com a liberdade de algumas drogas pelo Estado, mostrando que a questão de saúde feminina, como no caso do aborto, é tratada de forma negligenciada.


Moralistas sempre querendo nos proibir nos inibir de todo prazer Usam Deus para nos broxar nos cercam de fantasmas 
Você está sendo vigiada! Masturbação é tabu, é anormal, é pecado Fora isso só podemos consumir as drogas fornecidas pelo estado [...]
* trecho da música Nosso Corpo Não Nos Pertence


Já que o assunto é punk nacional, é necessário destacar a relevância da banda As Mercenárias que surgiu na década de 80. Inspiradas principalmente pela banda The Slits citada acima, o grupo lança seu primeiro álbum Cadê As Armas contendo letras que criticam o abuso do poder por setores da sociedade como a igreja, o Estado e a polícia. O grupo pode não ter se engajado nas questões de gênero, porém eram afiadas em seu ativismo político e dividiam igual atenção com outras bandas punk de sucesso da época como Os Inocentes e Ira!. 







Quando o nome da vocalista do Hole é mencionado, Courtney Love, muitos o associam aos problemas de Kurt Cobain e também do Nirvana. Musicalmente, os singles mais famosos como Violet e Doll Parts são tidos como composições de Kurt. Pessoalmente, era vista como vadia, mercenária e viciada. A verdade é que a mídia sempre tenta de certa forma demonizar as mulheres que saem com rock stars. É como se o único papel delas é o de destruir a carreira deles. Isso já ocorreu com Nancy Spungen e seu envolvimento com o Sex Pistols, e o caso mais famoso é o de Yoko Ono e os Beatles. A razão dessa incessante culpabilização é a de que a mulher é naturalmente traiçoeira, e de que usamos os homens para enriquecer. Antes de Courtney namorar Kurt, sua banda já havia lançado um álbum produzido pela ex-baixista do Sonic Youth, Kim Gordon, já havia trabalhado também ao lado de Andy Warhol e feito pontas em alguns filmes cult. Por esse motivo, não como dizer que ela queria sua grana uma vez que também o Nirvana desponta após os dois já terem se conhecido. É fato que a personalidade forte de Love atraía atenção negativa. Seu estilo de vida não era tão diferente de outros rock stars, como Iggy Pop, que também se exibia seminu nos palcos e usava drogas. Porém, sempre houve uma vigilância rigorosa sobre nossas atitudes e por isso as mulheres que se atrevem a fazer, a falar e agir como bem querer são as novas bruxas que mereciam ser queimadas, nesse caso, terem suas imagens deturpadas. Courtney Love é a minha artista preferida porque apesar de toda conspiração e demonização de sua imagem, ela mantém sua autenticidade pois é transparente nas suas letras e nas suas declarações. Apesar de ter dito algumas coisas problemáticas, Courtney demonstra seu ativismo feminista nas músicas que retratam questões pessoais. Ao ter sua imagem associada à de Yoko Ono por causa do machismo e não porque ambas são ícones feministas, Love escreve 20 Years In The Dakota descrevendo a discriminação que tanto ela quanto Yoko sofrem por terem se envolvido com as maiores bandas do seu tempo. Acredito que a crítica se estende a todas aquelas que têm suas habilidades menosprezadas quando se comprometem com homens de sucesso. Quando Courtney canta Are They Coming For Me? no trecho da música, pode-se inferir que ela esperava obter o mesmo sucesso e respeito com o Hole como Nirvana possuía, mas que não conseguia por causa da deturpação de sua imagem. 



was she asking for it
was she asking nice?
yeah, she was asking for it
did she ask you twice [...]
* Trecho da música Asking For It do álbum Live Through This.


Courtney também canta sobre a falta de respeito que vivenciava na canção Asking For It que relata o abuso que sofreu quando fez um stage dive durante um show do Hole. Aqui, Love questiona se de alguma forma ela era culpada por aquilo. Sem dúvida, a música implica uma discussão sobre a cultura de estupro na qual a frase '' ela pediu por isso'' ainda é aceitável. 


7. 7 Year Bitch- Dead Men Don't Rape



Em 1993, o abuso sexual tornou-se o maior medo entre as integrantes de bandas em Seattle. Mia Zapata, na época vocalista da banda punk The Gits, foi brutalmente estuprada e morta quando voltava de um bar. A repercussão de sua morte resultou em festivais, músicas e ações governamentais que combatiam a violência contra a mulher. As meninas da banda 7 year bitch eram muito próximas de Mia e dedicaram o álbum  ¡Viva Zapata! a ela no ano seguinte. Na faixa M.I.A., a banda canta sobre a injustiça que ocorria na resolução do caso de Zapata por conta da dificuldade em localizar o culpado do crime. A música é impactante pois se estende a tantos casos de abuso que não são resolvidos. Ela ainda questiona de quem realmente é a culpa nos casos de estupro. No ano anterior ao ocorrido, as meninas já problematizavam o tema na canção Dead Men Don't Rape  presente no álbum Sick'em.
Nela, condena-se diretamente os homens pelo estupro. O trecho Don't go out alone you might get raped crítica a cultura do abuso que condena primeiramente a mulher e justifica as desculpas dos homens.




8. Sleater-Kinney- Little Babies



Foi difícil escolher apenas uma música do Sleater-Kinney para este post uma vez que Carrie Brownstein, Corin Tucker e Janet Weiss têm produzido músicas que discutem questões de gênero por mais de duas décadas. A banda também é uma das mais importantes do movimento riot grrrl. Em 96, com o álbum Call The Doctor, a banda fala sobre a manipulação do termo girl power, canalizado pelas riot grrrls,e posteriormente por homens que vendiam a imagem das Spice Girls. Sendo assim, a música demanda uma nova revolução que resgate os verdadeiros ideais feministas. No ano seguinte, a banda lança o álbum Dig Me Out. A primeira vez que ouvi a faixa Little Babies, imaginei que fosse sobre mulheres interpretarem o papel de mãe dócil com seus namorados.Depois descobri que é sobre a dependência da banda com seus fãs. Apesar disso, a música ainda mantém essa primeira impressão e é importante  discutir a relação de dependência no relacionamento. A mulher naturaliza papéis como cuidar, oferecer conforto quando o seu parceiro precisa muitas vezes sem receber o mesmo de volta. Em alguns casos, seu papel se limita a esse e ao de amante na cama. Sendo assim, a submissão da mulher e a fragilidade do sexo oposto são postos no mesmo patamar. 


Corin Tucker foi a vocalista da banda Heavens to Betsy antes de se juntar ao Sleater-Kinney. Em 1992, uma versão vinyl de um single da banda foi lançado ao lado de outro da banda Bratmobile. Enquanto My Secret do Heavens lida com a superação de um abuso sexual, Cool Schmool  retrata a cena punk riot grrrl de Washington na qual o número de bandas só de mulheres crescia e ainda assim só se comentava sobre as bandas de rapazes. 




Indo para a década de 2000, Brody Dalle, vocalista do The Distillers, sempre levantou a bandeira do feminismo e já fez inúmeras declarações a respeito do movimento. Ela, por exemplo, é contra o termo slut shaming uma vez que acredita que a palavra slut em si é nociva pois carrega o sentido de que mulheres não podem ter a mesma atitude que os homens ao beijarem quem quiser sem serem rotuladas. Em 2002, a banda lança o álbum Sing Sing Death House, meu preferido. A faixa Seneca Falls  retrata a primeira convenção sobre os direitos das mulheres sediada em Nova Iorque em 1948. Ao descrever as líderes do movimento, Brody enfatiza a luta histórica dessas mulheres e que ela ainda se faz necessária. Lembro que pesquisei mais a fundo sobre a história do feminismo após ouvir essa música nos meus 16 anos. Ainda me arrepio com o trecho  the thing about destiny is it never ever sets you free. A música é realmente uma das que incentivam as mulheres a se conscientizarem sobre a vulnerabilidade da conquista de seus direitos e a lutarem pela manutenção deles.

A zine girl virus traz uma das melhores declarações feministas de Brody.



Para finalizar o post, trago a banda hardcore brasileira Anti-Corpos com o maravilhoso álbum de 2012, Meninas Pra Frente. O álbum começa com a faixa Apoia Mutua que ao retratar a exclusão das meninas da cena punk, remete ao que as líderes do riot grrrl pregavam. Mesmo após décadas de inserção feminina na cena, o machismo ainda impera. O trecho Quando uma mulher avança, nenhum homem retrocede! é um chamado para os caras não se segregarem do espaço feminista que também podem ocupar. Em Pró-Escolha, o grupo enfatiza que o aborto é questão de saúde pública e que sua ilegalidade só contribui para a morte de mulheres, principalmente a das pobres. Como Brody Dalle canta em Seneca Falls '' Uma mulher nunca pertenceu a si mesma'' ou seja, o seu corpo é propriedade do Estado e temos que continuar lutando para a nossa própria autonomia. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal brasileiro votou a favor da prática até o terceiro mês de gestação.A decisão é uma grande conquista para as mulheres, embora precise-se de uma maior distribuição de métodos de contracepção de emergência para aquelas que têm o maior risco de recorrer a um aborto inseguro. Enfim, a música ainda estampa a realidade do país, onde quatro mulheres morrem por dia por conta de complicações no aborto. 
Ao longo do post, é possível notar que o ativismo dessas mulheres está de acordo com o cenário ao seu redor sendo que a resistência ainda é atual e o punk ainda se destaca como um espaço que naturalmente potencializa o protesto feminista. 

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