Minha foto
Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Elle (2016)



A atriz francesa Isabelle Huppert consagrou-se como uma das mais espetaculares da história do cinema ao lado de outros grandes nomes como Bette Davis e Greta Garbo, a quem a francesa já homenageou em um ensaio fotográfico recentemente. Essas mulheres destacam-se por interpretarem mulheres provocadoras, de humor ácido e que não se importunaram pela repercussão de seus papéis. Após décadas de sua carreira como atriz, Huppert ainda se desafia e encara personagens que  perturbam as convenções tradicionais. Por diversas vezes, ela revela-se  livre em relação até onde as mulheres que vive podem chegar. A oportunidade de incorporar mulheres com histórias únicas é o que mais importa no seu trabalho. Sendo assim, sua mais recente protagonista é a prova de que sua carreira é consolidada com base em sua honestidade e foco. Elle  é um filme francês dirigido por Paul Verhoeven, o mesmo diretor de Instinto Selvagem (1992), e traz Isabelle no papel da chefe de um estúdio produtor de jogos online, Michèle Leblanc. Em ambos trabalhos, Verhoeven intenta polemizar com roteiros controversos e protagonistas enigmáticas que são totalmente donas de si. No seu mais atual, a cena inicial traz Michèle sendo estuprada por um cara vestido de roupas de ski. Logo após sua fuga, a protagonista joga o seu vestido ensanguentado fora e segue a sua rotina usual sem expressar o trauma que acabou de sofrer. Seu silêncio e algidez incomodam, porém, ao vermos que seu local de trabalho é ocupado predominantemente por homens que produzem jogos nos quais o abuso sexual é uma opção, é difícil imaginar uma postura diferente de Leblanc. 
Logo, Michèle começa a desconfiar de todos os homens a sua volta. Um dos seus empregados se recusa a obedecer a qualquer de suas  ordens, enquanto outro mostra-se devoto a ela. O filme mostra que independente do cargo que a mulher assuma, ela não se torna isenta da cultura machista. O movimento das mulheres tem garantido mais proteção por meio de suas lutas, porém, ainda vivemos em uma sociedade em que algumas conquistas não se aplicam da forma como se apresentam em determinadas situações. A proteção é um exemplo disso. Há diversos casos em que ela não se firma, e se dá de forma injusta. Michèle faz parte de um ciclo burguês em que se requer uma imagem de integridade e esse é um dos motivos que levam a personagem a proteger-se de maneira própria. 
É dessa forma que a protagonista decide investigar bem os homens com quem convive e comprar algumas ferramentas, como um martelo e  troca a fechadura de sua casa, pois ela acredita que a polícia ou a lei não a preveniriam de um novo ataque. 




Suas primeiras ações não são suficientes e após um novo ataque, nos indagamos sobre a  sua intrepidez em lidar com situações adversas além do abuso. Seu filho namora uma mulher abusiva que a despreza abertamente. Michèle dorme com o marido de sua melhor amiga e vê o seu ex-marido ao lado de uma mulher mais jovem que ela. Além do que, sua mãe gasta suas economias sustentando um cara também mais novo. A única relação estável que vemos no longa é a do seu casal de vizinhos e não demora para que as verdades por trás das aparências se revelem. Quando a identidade do seu estuprador é desvelada, Michèle mostra-se disposta a ficar no topo da situação. Ela passa a consentir a relação não porque sente-se obrigada, mas sim porque não teme o sexo oposto.  Julgada como errada ou não, o objetivo do diretor era o de apresentar uma protagonista que encara as suas próprias atitudes apesar da dor e  vergonha que a cercam. Isabelle Huppert declarou que Michèle Leblanc é uma mulher pós feminista por não se restringir a um lugar de vítima e aos homens. O filme não é sobre uma mulher estuprada, e sim sobre uma mulher que vive da maneira que quer, fugindo a expectativas que criamos  a partir do quanto julgarmos conhecê-la. 





Comentários

Popular no Blog...