Crítica: Le Genou de Claire (1970)
Entre as décadas de 60 e 70, o diretor francês Éric Rohmer lançou seis longas que intitulou como seis contos morais. Estas histórias questionam a fidelidade entre casais de maneira sútil, porém nada pedante. Le Genou de Claire, ou O Joelho de Claire em português, é a penúltima delas. Numa área litorânea da França, o diplomata Jérôme (Jean-Claude Brialy) reencontra uma velha amiga, a escritora Aurora (Aurora Cornu). A sintonia entre os dois resulta em diálogos bem construídos e é o que move o curso do filme. Aurora propõe a Jérôme, que está prestes a casar com outra mulher, que seja o protagonista de uma de suas histórias. Ao conhecerem a jovem filha da proprietária da casa em que Aurora está de visita, a escritora nota que a adolescente tem interesse em Jérôme. Sendo assim, Aurora sugere que o seu amigo alimente a paixão da garota sem consumá-la. Um ponto muito interessante nos contos morais de Rohmer é que o autor não vitimiza suas personagens. Por mais que seja o mentor por trás da criação delas, cada uma mostra-se dona da própria voz independente da sua idade. A adolescente Laura não esconde sua paixão por Jérôme, mas ao mesmo tempo analisa as condições do amor da sua geração e suas opiniões mostram-se consistentes a ponto de que quando sai de cena e dá lugar a outra personagem mais velha, no caso sua irmã, notamos uma grande lacuna entre seus posicionamentos. Não é que uma fosse melhor que a outra, mas essa diferença evidencia distintas maturidades emocionais, tornando as personagens femininas bem reais.
Quando Jérôme conhece a irmã mais velha de Laura, Claire, ele põe em dúvida a atração que sente por ela. Apesar de poucas palavras que trocam, sua aparência desperta desejo, especialmente seu joelho. No entanto, Claire está em um relacionamento que Jérôme acredita não ter futuro. Ele tenta convencê-la disso e por fim, descobrimos a fragilidade emocional de Claire. Le Genou de Claire é a narrativa mais simples entre as seis do diretor. Porém, ela traz igualmente diálogos concisos e que alimentam diferentes pontos de vistas sobre relacionamentos. L'amour l'après-midi última parte dos seis contos morais, ainda é a minha favorita por conta da complexidade existente nos protagonistas. O ego masculino enfrenta a genialidade feminina e a tensão desponta numa atração irresistível entre os personagens. Ambos filmes terminam com a mensagem de que a fidelidade fala mais alto apesar dos personagens encontrarem pessoas que acreditamos se encaixarem uma com a outra. O amor se define aqui como algo inalterável e os encontros como meros frutos de desejos efêmeros.
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