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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Montage of Heck (2015)



Há diversas obras relacionadas à carreira da banda norte-americana Nirvana e à vida pessoal do seu vocalista Kurt Cobain. Elas procuram retratar diferentes pontos de vista desde a cronologia que marca a atividade da banda até como a intimidade de Cobain estava interligada com o curso dela. Ainda há aquelas que tentam se aprofundar na sua psique e assim, distorcer a verdade sobre a sua morte. O mito criado sobre o artista tenta embaçar a sua alma atormentada, alterar o que ele realmente pensava sobre a vida, sobre o amor, e sobre a carreira. A fim de permitir o próprio se manifestar sobre suas concepções, o diretor Brett Morgen lançou há dois anos um documentário que traz entre gravações, rabiscos e reprodução de suas falas através de animações, o mais perto que podemos conhecer sobre o último grande ídolo de uma geração.
Montage of Heck ainda traz relatos das pessoas mais próximas a Kurt como sua mãe Wendy, sua ex- esposa Courtney Love e parceiro de banda Krist Novoselic. Sua filha com Courtney, Frances Bean. participou da produção. As gravações de sua infância já revelam seu amor pela música; porém, já ali, seus problemas se iniciaram quando seus pais se separaram, Kurt não conseguia encaixar-se nas novas famílias que se constituíram pós divórcio. Ele mudava-se constantemente e sua solidão resultava em rancor por conta do abandono.Ouvimos a suas tapes com relatos sobre o que pensava sobre sua família e lemos seus rabiscos em diários que revelam seu descontentamento com as pessoas ao seu redor.



Entre os arquivos pessoais do artista, conhece-se o lado mais sensível, como seu apoio à causa das mulheres. A ausência de uma figura feminina na sua adolescência resultou numa grande admiração por aquelas que conheceu quando mais velho. Enquanto Kurt iniciava sua carreira com pequenos shows com a banda que viria ser o Nirvana,  mantinha um relacionamento amoroso com uma mulher da qual via uma presença materna. About a Girl retrata bem essa relação dependente. Boa parte das primeiras músicas escritas por Kurt revelam sua teen angst (angústia adolescente) e ferocidade artística da qual ele se cansaria mais tarde como canta na canção Serve The Servants do último álbum do Nirvana, In Utero.
Os acontecimentos da vida musical e pessoal de Kurt já são bem conhecidos pelos fãs, o documentário se encarrega de apresentá-los de maneira mais íntima e é por isso que ele se torna precioso. Sua carga criativa era normalmente desenvolvida em seu quarto e com poucos recursos. O auge do Nirvana acompanha seu relacionamento com a ex-vocalista do Hole, Courtney Love. A história do casal é vista de diferentes formas, a mais conhecida é a de que ela supostamente teve envolvimento em sua morte. No entanto, temos acesso a registros caseiros dos dois, o que põe bastante em dúvida essa teoria alimentada por outros dois documentários, Kurt & Courtney e Soaked in Bleach. O vício em heroína do casal gerou tanto momentos de descontração, como se vê num vídeo em que o ironizam, como momentos de tensão, quando um artigo da revista Vanity Fair acusa Courtney de se injetar enquanto estava grávida de Frances. Esse momento foi o estopim que eclodiu numa maior reclusão de Kurt; dedicando-se mais a sua filha e cansado da vida nada glamourosa de rock star. Seus problemas continuavam os mesmos e sua dor crônica o prendia à droga. Krist revela em um trecho do documentário que Kurt podia ser bem cínico e isso se mostra nas suas letras do In Utero, como em Rape Me. Ao mesmo tempo que sua espiral descendente se agravava, sua apuração musical se evidenciava. Para muitos fãs, o unplugged MTV e o In Utero são os melhores trabalhos da banda. 





As gravações raras de Kurt entre meados de 1993, mostram o quanto ele estava desgastado por se sentir humilhado pela mídia, a ponto de nem conseguir mais ser presente em família. A preciosidade do documentário também recai no fato de que os arquivos falam por si, apesar dos depoimentos das pessoas mais próximas. Ninguém conhecia Kurt tão bem quanto ele mesmo.
A produção tem seu desfecho nos últimos momentos de Kurt. Por mais que sua morte seja polêmica, a sua dor interna é indiscutível. Assim como outros artistas consagrados, Kurt transferiu suas aflições para a sua arte, porém isso não foi suficiente para por um fim a elas de outra forma. O toque diferencial do documentário é seu aspecto de primeira pessoa apesar da ausência de Kurt na produção. Montage of Heck é assim, a obra definitiva entre tantas já lançadas sobre a vida de um dos artistas mais enigmáticos e brilhantes do mundo da música. 



Comentários

  1. Vi que esse documentário está disponível na netflix e estou adiando para assistir ele não sei por que. Enfim, sua crítica está ótima e acho que agora eu assisto! Beijos

    tranhomundo-de-ioio.blogspot.com

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