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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Adaptation (2002)


Por décadas, o norte-americano Spike Jonze se mantém como um dos mais versáteis diretores e roteiristas da atualidade. Além de filmes e comerciais, Jonze produziu vários dos meus videoclipes preferidos como Sonic Youth-100%; The Breeders- Cannonball; The Chemical Brothers-Elektrobank; e meu preferido entre eles, Bjork- Triumph of a Heart. Só pela distinção de seu trabalho em cada um desses vídeos, ele merece o título de genial. E falar de seus filmes é até uma tarefa deliciosa para quem escreve, pois alguns conversam com o que se é fazer cinema. Sua metalinguagem cinematográfica foi muito bem arquitetada em sua obra de 2002, Adaptação. O filme se inicia nos bastidores de um outro filme, que também contém elementos metalinguísticos, Being John Malkovich (1999). Nicolas Cage interpreta o roteirista Charlie Kaufman, que é o real roteirista de ambos filmes. Sofrendo de um bloqueio criativo, temos acesso a suas inseguranças por meio de insights. Charlie quer adaptar o livro de Susan Orleans, The Orchid Thief, que fala sobre fascinação e perigo por trás de uma orquídea rara. O romance também existe fora da ficção e quando a escritora foi contatada para autorizar o uso tanto se sua imagem e sua obra, ela achou um absurdo, dá para entender ao ver o filme, porém cedeu e hoje alega adorar o resultado do longa. Susan é interpretada por Meryl Streep e enquanto vemos Charlie se debater sobre o novo processo de criação, acompanhamos como a história do romance foi desenvolvida. 
Charlie convive com o seu irmão gêmeo, também interpretado por Cage, que segue a mesma carreira no entanto, ao contrário de Charlie que aposta na fuga aos lugares comum de Hollywood (carros,perseguição,sexo e drogas) Donald planeja um roteiro que seja um sucesso de bilheteria com um suspense vendável. O contraponto entre os personagens é de que eles eram um só, o embate entre produzir um roteiro que atenda às expectativas de Hollywood e um que se diferencie é outro aspecto que evidencia a  metalinguagem de Adaptação


O filme prossegue brincando com o espectador em termos de ilusão quando Donald sugere que Charlie conheça e siga Susan. Por trás de uma conceituada escritora de uma importante revista, vê-se sua degradação por conta do que uma vez acreditou ser seu primeiro contato com o amor, ao ir em busca dessa espécie de orquídea, com traços que se assemelham ao de uma fêmea com as pernas abertas, e que atrai tantos confrontos entre caçadores. Esse fascínio incomum se desfaz ao vermos que dela se extrai um poderoso alucinógeno e que o perigo se expande quando Susan se relaciona com um dos caçadores, interpretado por Chris Cooper. Desse modo, a adaptação não se faz somente no plano da produção do roteiro, os personagens se adaptam às condições que lhe são mais satisfatórias do que o plano real. Susan ao se entregar ao submundo do sexo e das drogas, Charlie ao viver 24 horas em nome da ficção, sendo seus prazeres também frutos da imaginação como quando se imagina transando com Susan. Enquanto Donald se adapta à ilusão Hollywoodiana ao limitar sua criatividade. O filme é tão fantástico que tento poupar o tanto que se dá pra extrair dele. A ficção trespassa o longa, uma vez que Donald Kaufman também é creditado como roteirista de Adaptação, e nomeado ao Oscar de melhor roteiro adaptado do ano seguinte ao lançamento. No término do filme, percebemos até onde a obsessão pelo que se é perfeito pode nos levar. Quando a ilusão dá espaço à perda e à decepção, tentamos nos adaptar às novas condições. Susan quer a sua vida antiga de volta, Donald é vítima da obsessão de Susan, e Charlie percebe que sua constante busca em filmar o infilmável resulta na sua própria criação e adaptação das pessoas que tanto vivem ao seu redor quanto as que estão no livro, frutos de seu próprio conflito criativo. E quem nunca se confundiu dentro de alguma obra? 
















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