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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Merci pour le Chocolat (2002)



Isabelle Huppert traz na bagagem personagens envoltas por um mistério que nos cabe a função de decifrá-lo. Isso se torna evidente nos papéis que protagonizou ao lado do diretor Claude Chabrol, como em Violette Nozière (1978) e  La Cérémonie (1995). Na década de 2000, mais uma colaboração entre os dois traz Huppert em sua singularidade e complexidade no papel de Mika Muller Polonski em Merci pour le Chocolat. O filme apresenta Mika como parte de uma família de nome por conta da marca de um chocolate. No início do longa a vemos renovar os votos de casamento com o pianista André Polonski, interpretado pelo famoso cantor yé-yé Jacques Dutronc. Nenhum dos poucos convidados para a cerimônia aparenta entusiasmo. O assunto nos bastidores é a estranha união entre os dois, que ocorreu antes e após a morte de uma das ex-esposas de André. Tanto André quanto seu filho Guillaume, resultado do casamento com a falecida Lisbeth, vivem na sórdida casa de Marie. A sua estranha simpatia somada à gelidez nos diz algo, mas só quando conhecemos a jovem Jeanne Pollet é que a história ganha ritmo. Numa conversa com uma amiga e o namorado de Jeanne, a sua mãe deixa escapar que tanto Jeanne quanto Guillaume nasceram no mesmo dia e por um instante foram trocados na maternidade. Curiosamente, Jeanne também é pianista e assim, grande fã de André. Sua recente descoberta e admiração a leva ao seu encontro. Marie recebe Jeanne como amigavelmente e seu primeiro passo em falso coloca o filme no plano do suspense. Ela deixa uma garrafa térmica de chocolate derramar no chão de propósito, como visto por Jeanne e passado para Guillaume. Para que os fatos se encaixem, a garota vê que seu casaco está sujo com o chocolate e pede a seu namorado, que trabalha em um laboratório, para analisá-lo. 
Jeanne continua a visitar a casa de Mika a fim de praticar piano com André, cujo olhar cansado se justifica pelo uso frequente de pílulas para dormir. Logo descobrimos que há uma substância sonífera presente no chocolate derramado e que a ex-esposa de André dormiu no volante por ter consumido a mesma substância com conhaque. Não temos mais dúvidas de que a protagonista de Marie tem uma natureza má. No entanto, ela continua servindo chocolate a todos na casa e se mostra cada vez mais interessada em Jeanne. Além de cultivar uma eterna paixão por Lisbeth. Não sabemos para quem, ou por que Marie faz o que faz. Seu olhar nos quer comunicar algo que não conseguimos alcançar, algo que se materializou no seu íntimo e que não se aflora para o exterior.


O filme atinge seu ponto mais alto quando Guillaume finalmente nota a maldade de Marie ao servir chocolate para Jeanne e cria uma situação para que ela fosse à cidade em busca da receita médica de André. O garoto decide acompanhar e o café que Jeanne acabou tomando também continha sonífero. O roteiro não é um dos mais interessantes de Chabrol. O que mais chama atenção, de fato, é a confusão que Marie nos causa ao calcular cada passo do filme, como uma ventríloqua. Sua discrição e desabafo final, revelam uma parte do passado de Marie que lhe instigou a prejudicar a vida dos outros ao seu redor. 
O take final mostra Huppert estática, vaga, com lágrimas escorrendo pela face enquanto a música tema do filme, performada pelo filho de Chabrol (Matthieu Chabrol) dá forma a perversidade e a dor que não se concretizam  e matam na verdade, o seu interior.

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