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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: The Misfits (1961)





A atriz norte-americana Marilyn Monroe se consagrou como ícone hollywoodiano por conta de sua beleza e simpatia nas telas. Porém, sua fama lhe trouxe um alto preço. Seu problema com drogas, depressão e relacionamentos a aprisionaram numa espiral descendente. No período em que The Misfits (Os Desajustados, em português) estava sendo filmado, sua imagem já havia sido estigmatizada por rótulos como o de loira burra e gold-digger, uma tradução para essa expressão pode ser interesseira. Além de ser vítima do machismo nos bastidores pelos diretores com quem trabalhava; seu marido na época e roteirista Arthur Miller, participa na produção do longa dirigido por John Huston, protagonizando Monroe em um papel que oferecia mais espaço para seu amadurecimento como atriz de dramas. Porém, o casamento dos dois estava no seu fim e sua personagem era uma mulher divorciada e vulnerável. Miller não só escreveu o futuro da atriz como também entregou o seu derradeiro papel, uma vez que Marilyn morreu de overdose de barbitúricos no ano seguinte. 
Mais importante do que desvelar o roteiro deste filme é olhar mais a fundo o tempo e os personagens que são o que determina o seu curso. O astro Clark Gable (consagrado em ... E o Vento Levou,1939) assim como Monroe, protagonizou o filme e entrega seu último papel, falecendo de ataque cardíaco dias após o lançamento do filme. Ambientado no estado de Nevada, Monroe interpreta Roslyn, que nos seus 30 anos se encontra desolada por conta de um recente divórcio. Ao mesmo tempo que encontra forças para superação com a ajuda de sua amiga, a imponente  senhora interpretada Thelma Ritter, ela sente uma necessidade de ser desejada por outros homens. Em uma de suas saídas com sua amiga ela conhece o cowboy Gaylord (Clark Gable) e reencontra um recente conhecido, Guido (Eli Wallach). Todos partem para uma casa semi construída por Guido no interior da Nevada. Numa alusão ao título do filme, cada um deles se encontrava desajustado na suas vidas. Guido perdeu sua esposa, com quem planejava morar na casa. Gaylord desconfiava das mulheres pois a sua última o abandonou com seus filhos, e Roslyn e sua amiga eram ambas divorciadas. A solidão pesa na consciência dos personagens e a desilusão com as convenções sociais traça o destino deles. Ouvimos várias vezes de Guido e Gaylord que eles não se submeteriam a salários. Eles apostam numa vida livre, mas essa concepção vai atingir este como um golpe, literalmente, como se vê mais a frente no filme. Roslyn e Gaylord se envolvem, é estranho como isso se dá, porém, na procura de um sentido para viver, agonizada com o auxílio da fotografia preto e branco, os protagonistas se entregam ao que lhes cabem no momento.


O clima sórdido se permeava não só na tela, por trás dela, Monroe atrasou a produção do filme por conta de sua desintoxicação. Gable comentou ironicamente que seus atrasos lhe dariam um ataque cardíaco. O roteiro era constantemente alterado e o olhar cansado e carregado de Monroe revela todo esse peso em acabar interpretando ela própria no longa. 
Pode-se dizer que apesar de seus problemas pessoais se transporem para a ficção, Marilyn Monroe marca sua última aparição em um filme completo pelo seu ativismo na causa dos animais. Guido e Gaylord revelam uma alma cruel, embora sofrível, ao matarem cavalos com uma corda a fim de produzir comida para outros animais. Tal ato rompe com a imagem romântica do cowboy norte-americano,que perdurou até aquela década. Corroborando essa desconstrução, outro cowboy se junta ao bando à parte ao ser mais um alguém solitário. Perre, interpretado por Montgomery Clift, monta touros e cavalos não se importando com os ferimentos a ambos durante as partidas. Roslyn se indigna com o egoísmo dos companheiros e até diz que o mundo todo poderia morrer, mas Gaylord só se importaria consigo mesmo. A sua sensibilidade pelo maus tratos aos animais resulta na cena mais memorável do filme, em que cavalos são perseguidos e capturados prontos para o abate, assim como os protagonistas são quando atingidos pela sua solidão. A desilusão com o sonho americano, que Marilyn tanto ilustrou em suas personagens cômicas, e Gable através seu cavalheirismo em romances, abre discussão sobre uma nova era que surgiria a partir da década de 60. A era da contracultura, the dream is over e movimentos que uniam jovens e adultos na busca de realidades alternativas áquelas construídas pelos tempos áureos do pós-guerra nos  Estados Unidos e em outros países.





Comentários

  1. A crítica é interessante. Mas o nome "Misfits" não é esclarecido. Será que "desajustados" é uma boa tradução? E quem são os "misfits"? À 1:36 de filme, Gay (Gable) sentencia sobre os "mustangs" caçados: "They're nothing but misfit horses." A dublagem para o português reza: "Não são nada além de cavalos desajustados." A legenda em português diz: "São apenas cavalos perdidos." O "misfit" do título portanto se refere tanto ao quarteto de protagonistas quanto aos cavalos selvagens. Qual o desajuste que neles é notável?

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    1. Oi Eduardo, vi seu comentário apenas nesse momento porque o Blogspot não me notificou na época, mas eu acredito que tanto os cavalos quanto os personagens eram desajustados, como você notou, e os cavalos tinham esse passado mais significativo com seu papel em guerras,e agora eram apenas objetos de caça, viraram banais e sem importância como antes. Então matá-los podia ser visto como algo menos prejudicial. Acho que daí o misfits assim como os personagens, sem muita importância na sociedade e destinados ao trágico.

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