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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Au Revoir, France Gall!

France Gall 


Chante, danse Baby pop                             
Comme si demain Baby pop
Ne devais jamais Baby pop
Jamais revenir...

Cante, dance Baby Pop
Como se fosse amanhã Baby Pop
Nunca precise, Baby Pop
Jamais voltar...

( Baby Pop pertence a um álbum homônimo lançado em 1966)


Lembro do ano em que o yé-yé francês fez a minha cabeça. Françoise Hardy e seu álbum de estreia Tous les garçons et les filles; Anna Karina e a trilha sonora de Anna(1967) e France Gall e a sua coletânea homônima lançada em 2001, me instigaram a conhecer mais a fundo outras artistas contemporâneas e a aprender a língua através de filmes e músicas da mesma época. Chabrol e Godard imortalizaram musas incomparáveis como Isabelle Huppert e Anna Karina. Mas dentre toda essa euforia de fã, a artista que culminou sendo a minha preferida e parte da minha playlist após anos e anos foi France Gall. Seus mais de 20 álbuns, variando entre francês,alemão e italiano, identificavam sua versatilidade em termos de estilo musical, e suas mudanças também se deram no visual. France Gall conhece a fama com apenas 16 anos, quando ganha o concurso musical Eurovision com a música Poupée de cire, poupée de son , a música se tornou seu maior hit e já foi regravada pela banda Arcade Fire.  Seu sucesso inicial também é marcado pela forte parceria com o maior ícone clássico da música francesa, o irreverente Serge Gainsbourg. Ao seu lado, France produziu por alguns anos, sucessos como Les Sucettes. Apesar de eu amar todas as canções que o Serge compôs para France, infelizmente, elas  se revelaram uma sátira à inocência e à imagem de Lolita da cantora. Algumas delas possuem sentido ambíguo. Les Sucettes se traduz como Os Pirulitos, e traz uma conotação sexual. Teenie Weenie Boppie versa sobre aventuras com LSD e foi lançada quando France ainda não tinha atingido a maioridade. A francesa se sentiu arrasada após ter uma maior maturidade para entender o conteúdo das letras, porém voltou a contribuir  com Gainsbourg em 1972 em mais uma música, Les petits ballons, presente no álbum Cinq minutes d'amour (meu preferido) que contém  ótimos riffs de rock. 

France Gall com a música "Poupée De Cire, Poupée De Son",
 ganhou o concurso Eurovision representando Luxemburgo (1965)


Françoise Hardy e France Gall


Em 1964, ainda no início de sua carreira, France lançaria o single Laisse Tomber les Filles algo como Deixe as Meninas em Paz, que se tornou referência em filmes como Death Proof, do diretor Quentin Tarantino, numa versão em inglês adaptada por April March e também usada no filme de 1999, But I'm a Cheerleader. Outra versão da música se encontra no álbum No Time For Sorrows da cantora Fabienne Delsol.  



A década de 70 não foi tão brilhante para France quanto a anterior. Seus lançamentos não alcançaram as paradas de sucesso na França, no entanto, quando resolve produzir em alemão, ela se reencontra. Apesar das composições serem de autorias alheias, a presença de France Gall, ou para quem não conhece seu verdadeiro nome, Isabelle Geneviève Marie Anne "France" Gall, era hipnotizante devido à sua beleza e a ao seu visual bem demarcado de acordo com o estilo do seu tempo. Sua influência pode ser encontrada em artistas como Rita Lee. Sua longa franja e capas de álbuns que enfatizam a sua face, são vistas em produções da Lee como Entradas e Bandeiras (1976) e Build Up (1970); além de sua sonoridade que alterna entre o jazz, o rock e o mambo.




Cinq minutes d'amour (1976)


 Best of (1989)



Sua derradeira fase musical se encontra na década de 80, impulsionada pelo seu novo parceiro musical e pessoal, Michel Berger. O seu ativismo em solidariedade a vítimas da fome na Etiópia também se destaca com a sua participação no projeto Chanteurs sans FrontièresEm 81, Tout  pour la musique traz o single de mesmo nome e vende quase um milhão de cópias. Sendo grande fã da rainha do jazz Ella Fitzgerald, France grava o álbum Babacar , com a faixa Ella, elle l'a algo como Ella, ela é a tal. Após alguns anos do lançamento do disco, que evidencia uma transformação significativa no seu som e visual, France se afasta de sua carreira musical devido à morte de seu marido e parceiro musical, e anos depois ela também perde seu filho. Embora tenha se despedido a décadas de singles que a tornaram uma das melhores artistas francesas, documentários e entrevistas mais recentes foram exibidos em TVs francesas a fim de homenageá-la. Acredito que o motivo pelo qual me aproximei muito mais do seu som do que de outras musas seja a sua ousadia em explorar diferentes melodias e o fascínio que a mudança de visual provoca. Abaixo listarei algumas das artistas que acabei conhecendo por conta da France. Este é meu último adeus a nossa eterna bonequinha de cera, que nos deixou neste início de ano sob o sol de seus cabelos loiros.




Tout pour la musique (1981) foi  produzido por seu falecido marido Michel Berger

Babacar (1987) foi também  produzido por seu falecido marido Michel Berger


Artistas que conheci através da France Gall



Nascida na Tunísia, Jacqueline Taïeb é uma das que mais inovaram dentre as cantoras yé-yé pois adotava diferente sonoridades em suas músicas. Seu álbum de 1967 ,7 Heures Du Matin traz algumas músicas que  remetem à musicalidade oriental como  em Bienvenue Au Pays e 7 heures du matin tornou-se um hit entre os jovens da época pois retrata a fantasia com astros do rock em ascensão como Paul McCartney. É possível  encontrar no Spotify outras faixas adicionadas ao álbum, como a versão em inglês do seu hit.



Christie  Laume teve seu nome artístico e talento notados por ninguém mais que Edith Piaf. Seu irmão Theo Sarapo e Piaf eram casados e fomentaram a produção de seus álbuns até a morte de ambos. La musique et la danse traz faixas que protagonizam a mulher e seu movimento de emancipação como em Une Fille Libre


Com apenas um ano de carreira, a francesa  Elizabeth Beauvais, conhecida como Clothilde lança um apanhado de faixas que variam entre pop e garage rock, sem o toque romântico de outras cantoras de seu tempo, no álbum  French Swinging Mademoiselle. Fallait Pas Écraser La Queue Du Chat foi sucesso em vários países da Europa, como na Espanha. 


A egípcia Gillian Hills transitou em vários meios no mundo das Artes. Lançou diversos EPs, como En dansant le twist e gravou com Serge Gainsbourg. Além disso, fez pequenas participações em filmes britânicos como Blowup (1966)  de  Michelangelo Antonioni e  A Clockwork Orange (1971) de Stanley Kubrick. Logo após sua participação neste último, ela embarcou na carreira de ilustradora, produzindo a famosa capa do romance A Cor Púrpura de Alice Walker. 





France Gall em diferentes momentos 



   
Com Serge Gainsbourg em 1966

Em sua casa em Paris por volta de 1965


Com Michel Berger em 1976 performando  Si l'on pouvait vraiment parler


France Gall na década de 80

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