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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

L7 no Brasil: Raw power, punk rock manifesto e ecstasy!

L7 em frente ao Bar Opinião, onde elas tocaram em Porto Alegre e eu fui!
 Fonte: L7 Official Facebook


No dia 04/12/18 pude realizar meu grande sonho de assistir a um show da banda feminina L7 em Porto Alegre. Contemporâneas de Babes in Toyland e Hole, a banda despontou no início da década de 90 com seu álbum Bricks Are Heavy (1992) produzido pelo futuro baterista da banda Garbage, Butch Vig. Nasci em 1995, mas durante minha adolescência fui conhecendo aos poucos, graças à MTV e ao pouco acesso à internet que tinha na época, o som do L7. Em 2011, a MTV lançou um especial de 20 anos de 1991: The Year Punk Broke, documentário que registrou bandas em ascensão na época como Nirvana e Dinosaur Jr.. Eu tinha andado em um roda-gigante naquela noite pouco antes de chegar em casa e assistir a partes dessa obra-prima essencial na prateleira de qualquer apaixonado por rock. A partir dali, a cena cultural da década de 90 se tornou o verdadeiro parque de diversões para mim. Não demorou muito para chegar até L7 através das bandas de meninas que ia descobrindo como Bikini Kill e Babes in Toyland, além do movimento Riot Grrrl que levo comigo em tudo que faço. Baixei um programa de download de música no celular e Off The Wagon tornou-se minha principal companhia na andada que eu dava de casa até a escola durante o Ensino Médio.

 Aos poucos também fui conhecendo cada uma das integrantes e me apaixonando por suas particularidades. A voz rasgada de Donita Sparks e seus shorts jeans curtos. As acrobacias de Jennifer Finch nos palcos, a relação amorosa que Suzi Gardner mantém com seus riffs e seus óculos escuros e a jovialidade orgasmática com que Dee Plakas detona sua bateria. Só anos depois percebi que L7 representava muito mais do que quatro mulheres fazendo rock'n'roll. Ao entender melhor a pouca representação que a mulher tem nas artes em geral, pude notar que elas desafiavam qualquer padrão bonitinho que reservaram para nós mulheres. Quatro mulheres fazendo rock'n'roll e promovendo feminismo  político e musical. Quatro mulheres fazendo rock'n'roll e  jogando tampão sujo na moralidade de quem se afirma maioria.  Quatro mulheres fazendo rock'n'roll e baixando as calças contra o pudor feminino. L7 mostrou ao público durante a década de 90 que as mulheres podem fazer o que quiser e ainda assim, serem ouvidas e respeitadas. E elas voltaram para vadiar (came back to bitch) mostrando a mesma essência de sempre, rompendo com a ideia de que o envelhecimento feminino encarcera e priva a mulher de suas liberdades. Como Suzi Gardner canta em dos singles recentes da banda: " Gritar a minha mente é o meu negócio". Ufa, depois dessa apaixonada introdução preciso relatar de forma ainda mais apaixonada como foi viajar de Sergipe até Porto Alegre para vê-las.   


Declarando todo meu amor por Donita Sparks no centro de Poa momentos antes do show 


Rolou até um sorvetinho do McDonald's para ela, vejam que amorzinho  


Horas e horas de voo e ansiedade me traziam à mente porque eu tinha saído de tão longe para ver L7. Tenho um afeto muito grande pela banda não só pelo tipo de som que faz a minha cabeça, mas também porque quando passei por momentos difíceis em minha vida, bastava assistir a um show, especialmente o que elas fizeram há 25 anos aqui mesmo no Brasil, no extinto Hollywood Rock, e eu me sentia imersa, eletrizada e milhares de outras sensações que não se sabe explicar. Só se sabe afirmar que elas são as melhores e as que nos fazem seguir em frente. Minhas amigas do L7 ficaram dois dias em Porto Alegre assim como eu. Conversava com a minha melhor amiga, Louise, sobre como seria maravilhoso se eu pudesse entregar nas mãos de Jennifer Finch, baixista da banda, cópias da minha zine "I Wanna Be Yr Grrrl"e acreditem ou não, isso de fato aconteceu! Cheguei em cima da hora no show que ocorreu no Bar Opinião, localizado na Cidade Baixa, perdendo a abertura de duas outras grandes bandas, Os ReplicantesBloody Mary una Chica Band, mas eu estava extasiada e mais pirada do que a galera do clipe de Black Hole Sun do Soundgarden e perdida na noção de tempo e espaço. Trêmula e chorando muito, estava próxima ao palco quando Donita e sua trupe chegaram detonando ao som de Deathwish.

Elas fizeram uma sequência com Andres e Everglade, provando que cada uma tinha sua autenticidade. Foi após o fim da primeira música que encontrei uma brecha na grade e aos gritos de "Jennifer, this is for you" foi que Donita olhou para mim e logo após Jennifer, que pegou das minhas mãos meu pacote com cópias da minha zine. Esse foi sem dúvida, o maior momento da minha vida, uma vez que foi através do rock feminino que hoje sou escritora e é isso que me mantém seguindo em frente. Houve meu momento cute  mandando vários beijos e corações para elas, até que Donita me retribuiu. Chorei ao som de One More Thing  porque é a música que mais dialoga com meu 2018, após meses de burnout. Eu estava bem na frente de Jennifer Finch e tudo aquilo foi muito surreal. L7 batia cabeça, brincava com a plateia com suas implicações sexuais de sempre, é só lembrar do party naked lá de 93 e da Donita nessa semana dizendo que dormiria com todos ali presentes no Bar Opinião. O setlist do Circo Voador no Rio, do Tropical Butantã em São Paulo e nas demais cidades foi o mesmo, com elas finalizando as apresentações com uma das músicas que provam a completa perspectiva  feminina em todos os momentos da banda. Fast and Frightening faz alusão a uma das membros da banda Lunachicks, alguns dizem que é sobre alguém do 7 Year Bitch. De qualquer forma, L7 sempre abraçou a causa feminista e não pode deixar de lado seu engajamento antes de tocarem seu mais novo single, Dispatch From Mar-a-lago. Donita fez um discurso contra o brazilian Trump  que nem precisa ser revelado, no entanto, ocorreu uma falha de comunicação entre plateia e banda porque houve várias vaias enquanto ela fazia seu discurso. Alguns afirmaram que as vaias eram uma forma de reforçar sua posição enquanto que a banda entendeu as vaias como uma rejeição a tal posição. Quando cantaram o seu hit mais famoso, Pretend We're Dead   na parte em que Donita fala " eles não são a moral nem a maioria"ela complementa com um "you assholes" delicadamente dedicada àqueles que supostamente foram de encontro à sua opinião sobre o "novo"presidente deste nosso Brasil. Trouxe de lembrança física desse momento, que logo se tornou o melhor da minha vida, o flyer lindíssimo do show além de uma camisa da banda. De  abstrato trouxe aquela sensação de dever cumprido. Trabalhei duro o ano inteiro para poder realizar esse pequeno grande sonho. Como diria meu amigo rockeiro das antigas citando um disco do Made in BrazilAdelvan Barbosa,  que há 25 anos ficou preso no trânsito sem comunicação e perdeu o show do L7 no Hollywood Rock:  Deus salva, mas o rock alivia.    



Registro do show por Gabriela Gelain ♥ 


Pós show de alma lavada por ter presenciado o melhor momento da minha vida!


Essa doida aí na frente da Jennifer fazendo as mãozinhas rock'n'roll sou eu haha

Comentários

  1. "o rock me emociona", já dizia minha amiga Catarina Cristo. Valeu demais o relato, me representou totalmente. Adelvan will have his revenge in Porto Alegre by Larissa.

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    1. Vivi essa experiência por vc, é por isso que nos conhecemos nesse ano kkkkkkk

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  2. Também estava no show, e ainda tive a oportunidade de encontrar com elas no hotel depois da gig, super simpáticas e atenciosas, tomara que voltem logo! Bela crônica, meus parabéns pelo texto!

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    1. Uou Micael! Gostaria de ter tido a mesma sorte que você! Eu ainda esperei dentro do bar esperando que elas fossem sair e ver a galera, mas tive que ir embora. Obrigada pelo reconhecimento :)

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