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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Amusia (2001): Álbum de estreia de Katastrophy Wife completa 20 anos

 

Capa do álbum do disco  Amusia de Katastrophy Wife. Foto: Reprodução


Se você é fã de Babes in Toyland (1987-2001; 2014-2020), eventualmente encontrará os projetos paralelos de Kat Bjelland e se apaixonará por eles também. De 1993 a 1995, a guitarrista de Salem, EUA, pegou um baixo e tocou ao lado de seu então marido, Stu Gray (Lubricated Goat), na banda alternativa Crunt. Sua letra  "I'm going to greet ya / Coming to meet you […]", na faixa Unglued, dá vontade de cantar junto e a música é sua marca registrada no único trabalho de Crunt. Depois que a baixista do Babes in Toyland, Maureen Herman, deixou a banda em 1996 devido a problemas de saúde, a banda reduziu o número de shows e durante os tempos incertos, Kat se dedicou ao seu primeiro filho, Henry, que teve com o baterista Glenn Mattson, seu  ex-marido com quem formou o Katastrophy Wife em 1998. Keith St Louis, companheiro de banda de Mattson, The Peasants, juntou-se ao grupo como baixista.

Da esquerda para a direita: Keith St Louis, Kat Bjelland e Glen Mattson. Foto: iknowthesugarplumfairy


O primeiro trabalho de Katastrophy Wife foi a trilha sonora do quadrinho Witchblade, intitulado Songs of Witchblade, que contém a balada 'Blue Valiant' que também seria lançada no segundo álbum do KW, All Kneel. Embora a trilha sonora seja incrível e tenha muitos instrumentistas e vocalistas famosos como Lydia Lunch, Peter Steele e Buzz Osbourne, seria com o álbum de estréia de Katastrophy Wife, Amusia (2001), que poderíamos experimentar plenamente a veia artística de Kat fora do Babes in Toyland (sugiro fortemente que você dê uma olhada em outras bandas com as quais Kat esteve envolvida, como The Venarays, The Italian Whorenuns e Pagan Babies).
A primeira impressão que tive da banda foi que Kat sempre foi muito esperta quando se tratava de brincar com as palavras e em KW isso não seria diferente. KATASTROPHY WIFE  pode ser lido como KAT AS TROPHY WIFE, uma vez que ela brinca duplamente com os papéis de gênero "esposa catastrófica" e "esposa troféu". Uma forma tão criativa de desafiar o patriarcado! Kat estava experimentando a maternidade e um segundo casamento na época, então o momento não poderia ser melhor. Outro toque de sagacidade na mente de Kat é o título do álbum. Amusia é encontrada na letra da faixa 'Rosacea':

[…]Once was a muse system
Caste broken used to amusia[…] 

[...] Uma vez foi um sistema de musa
Casta quebrada acostumada à amusia/ a diverti-lo [...]

Pela letra, podemos interpretar amusia como 'amuse ya'/ 'te divertir'. Procurando Amusia no dicionário online RxList, descobri que Amusia é uma condição médica que significa 'a incapacidade de reconhecer tons musicais ou reproduzi-los'. Kat já se inspirou em sonhos para escrever canções e em uma entrevista de 2013, respondendo a uma pergunta sobre um novo projeto, ela disse:

Sim, ainda não sei o quê. Estou estudando fitoterapia, vou para esta aula na faculdade East-West sobre herbologia, então, quando me inspiro para escrever, sempre leio sobre patologia, doenças e anatomia, combinada com coisas de fantasmas, paranormal e, em seguida, hinduísmo. E então minha raiva normal. E tudo isso junto.
Se ela já estudava sobre coisas da medicina na época da Amusia eu não sei, mas é incrível que essa palavra tenha a ver com música, e principalmente com a música da Kat que muitas pessoas ainda consideram difícil de ouvir. Ela já havia feito esse jogo de palavras ambíguas antes e isso se destacou em Real Eyes do Babes in Toyland: '[...] I realize I real eyes I realize your lies are in your own eyes [...]'. Amusia foi lançado oficialmente no Reino Unido em 9 de julho de 2001 e em 19 de março de 2002 nos EUA pelo selo Almafame e foi produzido por Brad Cassetto. Falarei um pouco sobre suas 11 faixas a seguir.

Capa do CD Amusia. Foto: Reprodução

1. GONE AWAY

Em Everybody Loves Our Town: An Oral History of Grunge (2011), de Mark Yarm, Kat diz que realmente não conhecia o Nirvana na época em que Babes fez a turnê com eles em 1991, o que foi capturado no documentário inovador 1991: The Year Punk Broke. Ela foi além e disse que Courtney queria que ela conhecesse Kurt, mas o vínculo entre eles seria diferente. Quando Kurt morreu em 5 de abril de 1994, Babes ia tocar no show beneficente do L7, Rock for Choice,  e Maureen teve que voltar para o hotel em que estavam hospedadas porque ela havia esquecido seu baixo. Segundo ela, o telefone estava tocando sem parar e, quando finalmente atendeu:
"Era Courtney Love procurando desesperadamente por Kat. Ela me contou a notícia da morte de Kurt. Ela estava compreensivelmente histérica e queria que Kat ligasse para ela imediatamente. " 

Na história oral de Yarm, Kat diz:

[Eu estava em Seattle depois que ele morreu] para sair com Courtney e apoiá-la. [...] No velório, eu vi ele morto, o que foi mais do que perturbador ... Eu tive um colapso nervoso logo depois disso.

No Por Trás da Música com Courtney Love do VH1 de 2010, Kat menciona, entre as lágrimas, que ela e Kurt nunca conversaram muito, mas quando se viram pela última vez, eles se sentaram no chão da cozinha e conversaram muito. Ele também deu um grande abraço nela, que foi como um adeus. Courtney doou alguns pertences de Kurt na época e deu a Kat seu famoso relógio de pulso. De acordo com Bjelland, ele parou de funcionar uma semana após a morte de Kurt. Ela optou por deixar o relógio sem conserto. Esse background é necessário para entender como a morte de Kurt e a confiança de Courtney nela em seu momento mais vulnerável impactaram sua vida e sua escrita.
A faixa de abertura de Amusia, 'Gone Away', é alusiva à morte de Kurt da mesma forma que Layne to Rest do All Kneel seria para Layne Staley e também para Kurt. A música mostra a guitarra de Kat mais voltada ao Sonic Youth  e o seu marco: seus gritos. Aqui vai o trecho de Gone Away que faz uma referência clara ao casal Cobain:

[…]Living as a favour for the
Neighbour’s guilty wife
Burning like blister on
The finger of your life
Picture of the singer a
Deadringer and the wife
Live through this encounter,
Counting figures his demise […]

[...] Viver como um favor para a
Esposa culpada do vizinho
Queimando como bolha
No dedo da sua vida
Foto do cantor uma
 Sósia e a esposa
Viva este encontro,
Contando cifras sua morte [...]

As partes 'esposa culpada' / 'viver com isso' / 'sua morte' aludem ao tempo da morte de Kurt, já que muitas pessoas culparam Courtney por isso e logo depois, o Hole lançaria o álbum tristemente profético do mesmo título, Live Through This, em que uma faixa homônima foi co-escrita por Bjelland. 'Queimando como uma bolha no dedo da sua vida' poderia ser uma referência à Softer, Softest do Live Through This  em que Courtney canta 'Estou com uma bolha por tocar em tudo que vejo', e o corpo de Kurt foi cremado; portanto, ela referencia tanto a morte dele como o álbum. 'Foto do cantor, uma sósia  e a esposa' implica as comparações entre Courtney e Kat, uma vez que deadringer significa 'alguém que se parece exatamente com outra pessoa'. Courtney e Kat também foram fotografadas juntas no dia em que Kurt morreu. Além disso, assim como 'esposa' em Katastrophy Wife, 'a esposa' na música também funciona como uma crítica contundente aos papéis de mulheres em relação aos homens, ao invés a suas próprias carreiras. Muitas pessoas atribuem Live Through This inteiramente a Kurt Cobain e isso é claramente uma tentativa de apagar a carreira de Courtney.

Da esquerda para a direita: Courtney Love, Kat Bjelland, Kurt Cobain e Stu Spasm. Foto: Reprodução


Kat Bjelland falando sobre Kurt para o VH1 Behind the Music. Fonte: VH1



Courtney e Kat de luto por Kurt em Seattle. Foto: Reprodução


2. BOOMERANG DOLL

Gone Away é seguida por 'Boomerang Doll', que me lembra Ariel do BIT, principalmente sua linha de baixo. Veja a primeira parte da música abaixo:

Saw boomerang doll at the
Hillbilly ball
On plastic mattress sat a gal
All made of straw
She snapped like match stick
And she spit out cracker drawl
All that she lacks is are the
Bones to break her fall […]


Boneca bumerangue no
Baile caipira
No colchão de plástico sentou-se uma garota
Toda feita de palha
Ela surtou como palito de fósforo
E ela cuspiu sons de gente branca do Sul
Tudo o que ela falta é são os
Ossos para amortecer a queda [...]

Não tenho certeza se a 'boneca' é uma referência à própria Kat ou  Courtney, já que ambas gostavam de usar vestidos babydoll kinderwhore, embora eu ache que em 2001 elas já tinham deixado seus problemas para trás em 1994, já que  Kat chamou Courtney de sua irmã de alma em uma entrevista no mesmo ano em que Amusia foi lançado. Além disso, de acordo com uma entrevista de 2001, Kat tinha quase 40 anos e refletiu sobre como  envelhecer mudou suas perspectivas:

Quando eu tinha 20 e poucos anos, eu era rebelde e, claro, isso vai se mostrar e refletir na música. Agora tenho quase 36 anos e ainda grito e tal, mas não estou tão zangada, acho - graças a Deus. Há uma razão para tudo, e a música angustiada também é boa, mas espero envelhecer bem. Não quero ser uma velhinha pisoteando e reclamando. […]

Seguindo a teoria de que a música é sobre ela mesma, ela pode estar se vendo como uma boneca de palha e que também é como um bumerangue - algo que vai contra as expectativas e resulta em danos. Pode ser uma música sobre estar em uma espiral descendente enquanto ela surta e não tem ossos para quebrar em sua queda. Alguém que viveu na contramão das expectativas de uma garota boneca embora ela se vista como uma e surte  como um palito de fósforo, e quando a música chega ao fim: on plastic mattress burned the gal all made of straw/ em colchão de plástico queimou a garota toda de palha. Ela se vê como feita de palha, então ela pode queimar facilmente e isso pode significar se machucar facilmente sendo assim, a boneca bumerangue. Kat não só lutou pela saúde mental, mas também contra o vício, como ela declarou na História oral do grunge:

Deixe-me esclarecer: eu nunca usei heroína de verdade em turnê [...] Quando eu chegava em casa e estava entediada e deprimida [e] com dinheiro, sim, era quando eu usava [heroína].

3. GIT GO

Eu amo como a trajetória artística de Kat é bastante primitiva e DIY e sobre como ela faz música pela música, autodidata a tocar instrumentos, fazendo música abrasiva sem pedais por anos e sendo pró-artistas. Embora suas bandas nunca tenham se destacado, ela se manteve fiel às suas crenças e isso pode ser percebido na letra de 'Git Go':

Never thought I had to take it
Never felt the need to fake it
Never felt the need to try all the shit you pull

Never felt the need to follow
Insights of those whose sight is shallow
I never kissed the ass of cash but then again… […]


Nunca pensei que teria que aguentar isso
Nunca senti a necessidade de fingir
Nunca senti a necessidade de tentar todas as merdas que você faz

Nunca senti a necessidade de seguir
Percepções daqueles cuja visão é superficial
Eu nunca puxei o saco do dinheiro, mas de novo ... [...]

Esta é uma ótima resposta à pressão que bandas  passaram durante a era grunge e, apesar de estar em uma banda rotulada como 'grunge' e 'riot grrrl', Kat não seguiu as ondas, e Babes in Toyland fez um cover de Sister Sledge (We Are Family) para seu último álbum, mostrando a verdadeira razão pela qual elas eram uma banda. Naquela mesma entrevista de 2001, ela afirmou:

Queremos mantê-la [Katastrophy Wife] pura. Eu só quero que seja pura e siga uma ética punk-rock, de certa forma. Não queremos cair em coisas como fama ou pensar em como queremos escrever músicas, então seremos [punk] de uma certa maneira.

 

4. ROSACEA

'Rosacea' é provavelmente uma das minhas canções favoritas de Katastrophy Wife. É provavelmente a mais bonita, tanto que tem uma faixa escondida de violoncelo chamada Rosacello e que fecha o álbum. É também outra música em que Kat usa brilhantemente palavras da medicina. A palavra é uma condição em que certos vasos sanguíneos faciais aumentam, dando às bochechas e nariz uma aparência avermelhada. Dê uma olhada nessas duas partes diferentes da música:

Pretending I’m blind in the
back of my mind I have
eyes there
permanent spent neon mind
glowing bent like a church fair
it’s enough to make you cry
though you repent it makes
less than a dent in the repair

[…]

Once was a muse system
Caste broken used to amusia
Found in a maze-meant I’m
Lost in the phrase of aphasia
It’s enough to make you rye
All that I say is the final
Act play in dementia



Fingir que sou cega no

no fundo da minha mente eu tenho

olhos lá

mente neon gasta permanente

brilhando e curvada como uma feira de igreja

é o suficiente para te fazer chorar

embora você se arrependa, isso faz

menos do que um amassado no reparo

[…]

Uma vez foi um sistema de musa

Casta quebrada acostumada a diverti-lo

Encontrada em um labirinto, significa que estou

Perdida na frase da afasia

É o suficiente para te fazer beber seu rye

Tudo o que eu digo é o final

Ato na demência

Kat disse que todas as músicas foram escritas antes de Henry nascer e podemos imaginar que essa música é sobre um relacionamento anterior no qual ela era um 'sistema de musa' e  'casta quebrada' para divertir o parceiro. A combinação dessas palavras dá a ideia de que Kat teve que se encaixar em algum tipo de papel submissa, fingindo que era cega ao saber que estava sendo enganada por se perder na frase de afasia que significa a perda da capacidade de expressar a fala, em em outras palavras, incapaz de comunicar seus sentimentos ao parceiro. E o ato final na demência pode significar fingir demência sobre o caso para que o casal possa seguir em frente. Mas o que me intriga é a palavra 'Rosácea'.

My Rosacea following fall
Away my life

Minha rosácea desaparece

 da minha vida

Isso pode significar sua incapacidade de corar, já que é comumente associada ao nosso entusiasmo por alguma coisa. Mas sua rosácea, afasia e demência também podem ser sinais de Kat tentando se abrir sobre sua doença mental, que só seria diagnosticada como esquizofrenia em 2007. Kat passou um ano em uma instituição recebendo tratamento. Ela também disse que lidar com o episódio foi uma grande influência em sua escrita . Eu acho que como ela também usou sua condição mental como uma metáfora para outras questões em sua vida é simplesmente impressionante e isso a torna uma verdadeira poeta. 

Kat e seu filho Henry. Foto: Reprodução

5. PRETTY CAR 

In a pretty car you’re the star
See you fall in all the bars
When we’re apart it hurts
My heart
In a pretty car you’re the star

like a dagger through
Your heart
Another dagger through
Your heart
Drive away in your
Pretty car

Em um carro bonito você é a estrela
Vejo você cair em todos os bares
Quando estamos separados machuca
Meu coração
Em um carro bonito você é a estrela

como uma adaga no
Seu coração
Outra adaga no
Seu coração
Vá embora em seu
Carro bonito


A próxima faixa de Amusia é 'Pretty Car' e embora a letra não nos dê nenhuma pista do que se trata, podemos pensar que se trata de alguém com problemas com álcool 'vejo você cair em todos os bares' ou que teve que deixá-la e isso foi doloroso 'como uma adaga no coração'. Eu gosto do backing vocal masculino nesta faixa e teria sido incrível se tivesse um videoclipe. Toda vez que a ouço, imagino Kat dirigindo carros, reencarnado Melanie Griffth em Loucos do Alabama (1999).

6. ANATHEMA

Wait, have you gone insane
This is just what it looks like
This is just what it sounds like

Espere, você enlouqueceu
Isso é apenas o que parece
Isso é apenas o que parece

Se Pretty Car é bem punk, 'Anathema' é um bem stoner rock. O álbum fica mais experimental a partir daqui e uma vez que anátema significa algo ou alguém que alguém veementemente não gosta, a descida de Kat em direção às partes mais profundas de sua mente não é agradável para ela, mas tentar descrevê-la  como Lou Reed fez em Heroin.

7. KNIFE FIGHT 

When I saw you last night
What I saw was not right
When they said you
Were gone
It did not take me so long
Remembered I was along
Wouldn’t leave you alone
But the moon was not right
We broke into a knife fight…

Quando te vi ontem a noite
O que eu vi não estava certo
Quando eles disseram que você
Se foi
Não demorei tanto
Lembrei que eu estava junto
Não te deixaria sozinho
Mas a lua não estava certa
Começamos uma briga de faca ...

A capa de Amusia mostra Kat vestida de preto, segurando uma abóbora e há  um filtro verde que dá um toque de Halloween / Bruxa Má do Oeste; e se fomos  assombrados por Kat falando em línguas em Babes in Toyland, em Knife Fight do Amusia, Kat nos transporta para um filme de Halloween onde a protagonista luta contra seus inimigos e, no caso de Kat, poderiam ser suas múltiplas personalidades. Em uma entrevista de 2007, ela disse que lidar com eles era extremamente difícil porque alguns dias ela não sabia quem ela era ou onde estava. Também pode ser uma canção de vingança feminina em que o inimigo é um marido abusivo. De qualquer forma, é uma música muito gótica, e a voz de Kat é perfeita para criar sons góticos.

8. HAUNTED

I see an unreal light
I know an unreal light
I am an unreal light haunted
I feel an unreal flight
I see an unreal light
I fight a surreal flight
I am an unreal light haunted
I heard thee unreal light
I am an unreal light
I have the unreal sight haunted

Eu vejo uma luz irreal
Eu conheço uma luz irreal
Eu sou uma luz irreal assombrada
Eu sinto um vôo irreal
Eu vejo uma luz irreal
Eu luto um vôo surreal
Eu sou uma luz irreal assombrada
Eu ouvi a luz irreal de ti
Eu sou uma luz irreal
Eu tenho a visão irreal assombrada

Todos nós sabemos como Kat adora rimar palavras e o tom sobrenatural de Knife Fight é seguido por 'Haunted', uma faixa que me fez lembrar de Melvins e os gritos de Kat como Diamanda Galás nos levam a acreditar que ela está exorcizando algo tão forte que ela se torna isso. Não consigo imaginar como é para Kat transformar sua luta contra seus demônios em arte, mas a experiência de ouvir sua música é tão intensa que você pode sentir que acabou de sair de uma sessão espiritual.

9. WINDOW 

Staring out the window you
Lose yourself
You lose yourself there’s no one else
Standing in the corner you’re
Out of place
You’re out of place, outer space
You’re outer space, fell
From grace
You’re far, far and away
And it’s far and away
Screaming out the window you
Lose your breath
You lose your breath, need a rest
You need a rest welcome death
And you’re far, far and away...

Olhando pela janela você
Se perde
Você se perde não há mais ninguém
Parado no canto você está
Fora de lugar
Você está fora do lugar, no mundo da lua
Você está no mundo da lua, caiu
Em desgraça
Você está distante
E está distante
Gritando pela janela você
Perde o fôlego
Você perde o fôlego, precisa de um descanso
Você precisa de um descanso saudar a morte
E você está longe, distante ...

Essa música fez muito sentido para mim durante meu isolamento na pandemia. Acho que nunca me senti fora do lugar como nos últimos dois anos e não é uma sensação agradável. Muitas vezes tive vontade de gritar pela janela e também perdi o fôlego. Tudo faz parte de ser muito solitário e ficar desesperado. Imagine como deve ser para aqueles que lutam contra distúrbios. Kat escreveu essa música duas décadas antes da pandemia, mas muitas pessoas que lutam contra distúrbios, vícios e etc. não precisaram da pandemia para conhecer a solidão. Ao mesmo tempo que Kat escreve com o coração, ela está confortando muitas pessoas as quais seus problemas mal são abordados na música. O mundo é um lugar melhor por causa de pessoas como Kat Bjelland.


10. WIDDERSHINS

I have electrical-occurrences
Electro-magnet
Doors blown open
Craft is burnt out

HER NAME IS VIOLET LIKE THE WAY-(WARD )IT GOES
O’ER THE CROOKED FINGER ROAD SO DREAM LIKE HOW THEY LOOK AND SEE ONLY THIS TIME THEY WERE STARING AT ME
AN ELABORATE SERIES OF STRAP-ON WIRES
ONTO YOUR SKULL RECORD TO PAPER OR NEW FORMAT
YOUR THOUGHT DREAMS RECORDED INSTANTANEOUS ART FORM
AN ELABORATE SYSTEM
CAPTURED WITHOUT TIME TO EVALUATE OR RE-THINK TIME FOR INTERPRETATION […]

Eu tenho ocorrências elétricas
Eletroímã
Portas abertas
O artesanato está queimado
SEU NOME É VIOLET COMO O CAMINHO- (ALA) QUE VAI
SOBRE A ESTRADA DO DEDO TORTO ENTÃO SONHE COMO ELES SE PARECEM E VEJA SÓ ESSA VEZ QUE ESTAVAM OLHANDO PARA MIM
UMA SÉRIE ELABORADA FIOS DE AMARRAR
NO SEU CÉREBRO REGISTRE NO PAPEL OU NOVO FORMATO
FORMA DE ARTE INSTANTÂNEA GRAVADA DOS SEUS SONHOS PENSADOS
UM SISTEMA ELABORADO
CAPTURADO SEM TEMPO PARA AVALIAR OU RE-PENSAR O TEMPO PARA INTERPRETAÇÃO [...]

Os escritos de Kat sempre me lembraram aqueles da Geração Beat. Eles são muito fluidos, fornecendo um monólogo do que se passa em sua cabeça. Este poderia ser o cenário de alguém que anda nos caminhos do mal - essa é uma definição para widdershins - sendo tratada em uma 'ala' de hospital psiquiátrico, 'fios de amarrar', 'crânio' e anotando suas observações antes de ser capturada para um procedimento ou algo parecido com isto. Não sei se Kat foi hospitalizada antes de 2007, mas parece que ela previu isso pelos sinais de outras canções. Quando ela canta 'seu nome é Violet', isso me lembra  Catatonic 'I know the sugar plum fairy, her name is Mary’. Acho que outros nomes femininos em suas canções como 'Pearl', 'Bluebell' e 'Violet', esta que também está presente na canção mais famosa do BIT, 'Bruise Violet', podem ser sua manifestação de personalidade múltipla. Ela também pode estar falando sobre si mesma na terceira pessoa.


Em 2016, os fãs de Katastrophy Wife foram presenteados com o lançamento de uma nova versão streaming de Amusia chamada Amnesia com demos, covers e faixas inéditas. Widdershins era chamada Busiest Shopping Day Of The Year  e a letra também era diferente:

This guy comes into the restaurant
I guess his name was like Paris
So I bet his parents thought he should be all cultural
So he goes “is this real butter?”
He sticks his finger in it and goes “make sure this is real butter, take it back to the cook”
I said “of course it’s butter you motherfucker”
So I bring it back, he sticks his finger in it and he goes
“Oh, I Can’t Believe It’s Not Butter”
And I go “I saw you in the paper the other day
“You know what you are?
“You’re a wife beater”

Esse cara entra no restaurante
Eu acho que o nome dele era como Paris
Então, aposto que seus pais pensaram que ele deveria ser totalmente cultural
Então ele disse "isso é manteiga de verdade?"
Ele enfia o dedo e diz "certifique-se de que é manteiga de verdade, leve de volta ao cozinheiro"
Eu disse "claro que é manteiga seu filho da puta"
Então eu trago de volta, ele enfia o dedo e diz
"Oh, não posso acreditar que não é manteiga"
E eu digo "Eu vi você no jornal outro dia
"Você sabe o que você é?
"Você é um espancador de esposas"

Kat trabalhava como garçonete em um restaurante na época do álbum e nesta faixa, ela faz um spoken word sobre um espancador de esposas, mudando assim a perspectiva da palavra esposa e se Kat realmente chamou atenção do homem por  agressão e perdeu o emprego por isso, não sei, mas essa é uma música que poderia ser escrita hoje na era #metoo e você deve estar pensando em outra parte de uma música de Kat que também coloca abusadores em seus lugares. Eu totalmente senti uma vibe  Lydia Lunch nela.

Capa do álbum Amnesia. Foto: Reprodução


Kat também mostra seu amor pela música blues fazendo um cover de Make the Devil Leave Me Alone de Mary James, pelos heróis de Kurt, The Vaselines, seguindo sua versão punk de Molly's Lips e grava duas versões diferentes para uma canção chamada Poison. Amnesia também traz a versão original de Liberty Belle, que seria lançada no segundo e último álbum do KW, All Kneel, em 2004. Embora eu adore este álbum e seja o marco da banda, Amusia detém uma posição especial entre meus álbuns favoritos de todos os tempos. Para mim, Kat Bjelland é o tipo de artista que pode se aventurar no heavy metal, blues, hip-hop e muitos outros gêneros musicais, e ela sempre vai mandar bem! Kat não lança nada há muito tempo e, no início deste ano, sua irmã compartilhou em um grupo do Facebook que Kat sofre do estágio IV da insuficiência hepática, o que é verdadeiramente devastador e que ela está recebendo ajuda de amigos e  vibrações de melhoras dos fãs. Ela deve ter saudades de tocar  e com este post, tentei mostrar o quão especial é o seu trabalho e tudo o que ela faz. Eu mal posso esperar pelo 20º aniversário do All Kneel para escrever sobr, mas quero um tempo antes disso escrever sobre a nova música de Kat! 

Eu sinto que tenho que tocar música, e não me sinto muito bem se não estou tocando música. Preciso desabafar, e é assim que faço. Não é realmente [uma música] zangada, é apaixonada. É muito multidimensional - feliz, triste, zangada. As pessoas pensam que está com raiva porque você levanta a voz, o que é bobagem.
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  • Uma versão em inglês deste artigo foi publicada aqui.
  • Me avisa se conhece os autores das fotos do artigo.

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