Freaks to the front: quando vi Amyl and The Sniffers ao vivo!
Amyl and The Sniffers ao vivo em Belo Horizonte em 05/03/2025
O punk sempre teve mulheres fodonas. Seja Poly Styrene do X-Ray Spex que em 1976 desafiava o rótulo de frontwoman sexy com seu aparelho dentário, estilo DayGlo e com letras que criticavam a imagem superficial que montamos. Além disso, ela foi pioneira por ser biracial. Duas décadas mais tarde, mulheres jovens também levariam o engajamento para o punk com escritos na barriga de fora como 'riots not diets' para passar a mensagem de que o corpo é político. O movimento Riot Grrrl , liderado por bandas como Bikini Kill e Bratmobile, colheu os frutos das punks setentistas e plantou novas sementes para as futuras punks que teriam mais liberdade para abordar qualquer temática e performar como quisessem, ainda que tivessem que enfrentar o machismo, racismo, LGBT+ fobia e outros preconceitos. Uma das frontwomen que viu esse fruto germinar foi Amy Louise Taylor, mais conhecida como Amy Taylor e que lidera a banda punk australiana, Amyl and The Sniffers. A banda começou em 2016 quando Amy tinha 20 anos e conta com três álbuns: Amyl and The Sniffers (2019), Comfort to me (2021) e Cartoon Darkness (2024). Como Amy saiu de um trampo em um supermercado em Melbourne para abrir shows para Green Day, The Offspring e the Smashing Pumpkins? Bem, além da óbvia inspiração do punk dos anos 70 como The Damned e New York Dolls, Amy Taylor (vocal); Declan Martens ( guitarra); Bryce Wilson (bateria) e Gus Romer (baixo), são além de talentosos, figuras cativantes e Amy traz um pouco de Peaches, Iggy Pop, Juliette Lewis, Wendy O. Williams e outros artistas icônicos, mas sem perder sua autenticidade. Estávamos sim saudosos de uma frontwoman emblemática para idolatrar nos últimos tempos. Mas não é só de performance e instrumentação que Amyl vive. Suas letras são cheias de atitude contra a sexualização da vocalista por parte da mídia, são sobre escapar do tédio e repressão e buscar seus sonhos, assim como apoio mútuo, seja na amizade ou no amor. É fácil se sentir abraçada pelas letras e inspirada pelo raw power da banda. Todas as vezes que preciso de um empurrão para fazer as coisas do dia a dia, dou play na Amyl e é por isso que me senti no dever de retribuir tudo que a música deles tem me proporcionado quando vieram à cidade que moro atualmente, Belo Horizonte, abrir para The Offspring.
Amyl and The Sniffers empolgadinhos com sua primeira performance no Brasil em solo mineiro.
Foto: Larissa Oliveira
O show ocorreu no espaço BeFly Hall numa noite de Quarta-Feira de Cinzas, porém, o clima era do mais puro carnaval, e se for para ter algum simbolismo religioso, a experiência foi de renovação espiritual. Amyl entrou no palco por volta de 20:30 com 'Security' do 'Comfort to me', álbum com maior número de hits. É interessante notar que em várias letras da banda existe um desejo de validação de Amy por parte de terceiros, ou melhor, dos fãs. É claro que os mineiros daquela noite receberam os australianos com coração aberto, mesmo que a maioria estivesse ali para ver Offspring, que também entregou um super show. Em seguida foi a vez de 'Doing in me head' do 'Cartoon Darkness', meu preferido e foi assim que me tornei fã. Confesso que quando descobri o grupo anos atrás, não dei a devida atenção. Quando lançaram o Cartoon ano passado, me rendi. É menos acelerado que os antecessores, mas lindo em sua poesia punk, como em 'Chewing Gum', que, claro, me emocionou ao vivo.
'But just for once
And just for love
I'm stuck on you
Just like chewing gum'
'Mas só por uma vez
E só por amor
Estou grudada em você
Como chiclete'
Portando um corset com carrinhos colados, Amy agraciava o público exibindo seus músculos durante os solos das músicas e fazendo outros movimentos típicos que podem ser vistos nos clipes da banda. Ela também aproveitou para brincar com o ventilador de palco batendo cabeça e botou muita gente para pular quando cantou 'Guided by angels', hit que consolidou a banda anos atrás. Para mim, o auge do show foi a trinca 'Chewing Gum', 'Jerkin’ e 'U Should Not Be Doing That', todas do álbum mais recente e são faixas que eu ouvia bastante quando me mudei do Rio para Minas, momento muito delicado em minha vida, mas me sentia acolhida pela Amyl. Em especial pela última música citada. Ela é exatamente sobre terceiros opinando sobre o que você não deveria fazer. Tenho certeza que a energia radiante do quarteto chegou a muitos que não sacavam ainda o som e que hoje devem dar plays diários como eu.
Uma melhor visão do look de Amy. Recomendo jogar seu nome no Google Images e se vislumbrar
com seus visuais icônicos. Foto: Reprodução
Take me to the country
Climb in the backseat
If you love me[...]'
'Me leve para a praia
Me leve para o campo
Suba no banco de trás
Se você me ama[...]'
Amyl encerrou seu show curto (uma pena pois amaria ter presenciado 'Maggot', 'Choices' e 'It's mine') com 'Hertz'. O trecho da faixa acima é mais um convite da banda para sermos sua companhia fiel e acredito que eles ainda têm muito a dizer, com a segurança de que não precisam provar nada ao mundo. Quando dizem que o punk está morto, não só os Sniffers o mantêm vivo e loucaço, mas tem muita banda legal quebrando tudo como Klitoria do RJ, que abriu o show deles em São Paulo, e o fato de que os australianos alcançaram fama mundial é algo positivo para que outras garotas saibam que podem subir em palcos e aflorarem sua autenticidade, assim como em qualquer outra forma de arte DIY. Eu mesma planejo uma futura fanzine dedicada à banda, depois de um hiato de 3 anos, e adotei o lema da música 'Freaks to the front': If they don't like you as you are Just ignore the cunt [Se eles não gostam de você como você é, ignore os cuzões]
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