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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

From Grunge to eternity: Relato de uma fã do Mudhoney em BH!

 

Eu e Mark Arm. ♥


Lembro vividamente, aos meus 16 anos (em 2011 para ser mais exata), de assistir ao MTV Lab nas tardes da semana. Em um desses bons momentos da adolescência, passa um clipe chamado "Suck You Dry" de uma banda chamada Mudhoney. Várias coisas me prenderam atenção nele naquela tarde do interior de Sergipe. Preciso abrir um parêntese antes. A MTV mesmo na sua fase final manteve um apelo musical nostálgico. O programa 'TOP TOP MTV' ainda era "top",rs, e o meu preferido. Além de que eu anotava as bandas que apareciam nas edições e baixava músicas aleatórias da discografia no Ares (ainda existe?). Além do mais, naquele ano a MTV celebrou os 20 anos do Nevermind do Nirvana com uma programação deliciosa, e num domingo à noite após voltar do parque de diversões, me perdi no carrossel de bandas maravilhosas que apareceram num tal documentário chamado '1991: The Year Punk Broke'. Ele é apenas o doc essencial para os fãs do rock dos anos 90, com a presença do Nirvana, Sonic Youth, Babes in Toyland, Dinosaur Jr, Ramones, e etc. Como eu já estava nessa sede pela cultura de uma década na qual vivi apenas os 5 anos finais (Pulp Fiction, Trainspotting e Gia eram meus filmes preferidos), mas sentia uma forte conexão, logo me apaixonei pelo Grunge. Agora voltando para Suck You Dry e seus atributos, tínhamos uma estética típica grunge com jovens portando jeans e pirando do seu próprio jeito no som da banda, flyers, Mark e seu lindo cabelo loiro na cara, Krist Novoselic do Nirvana em uma rápida aparição, e a música em si era algo fascinante. 

"Não há momento como o presente

Para ser dilacerado

Tenho esse desejo ardente

Mirando direto no meu coração"


Eram tantas músicas da época que grudavam em mim, e que tiveram participação direta na minha formação como professora de inglês, que eu rabiscava algumas na minha mochila do ensino médio. Lembro que tinha "Sappy x)" [sim, com essa carinha em homenagem ao Nirvana]; "Teenage Riot" do Sonic Youth, e "Suck You Dry". Mas não fiquei apenas nesse musicão do marcante 'Piece of cake'. É claro que o 'Superfuzz Bigmuff' também se tornou uma religião para mim e muitos de vocês lendo este relato, e olhe que na época eu estava recém saída da igreja católica, da qual fiz parte por 17 anos de forma imposta. Mas eu tinha encontrado no grunge, no punk, no riot grrrl e afins, um conforto. Apertava os fones de ouvido quando chegava nas partes mais fuzzadas (haha) e meu interior ficava mais leve para lidar com os conflitos de diversas ordens. O barulho do grunge era a batida que meu coração precisava para sobreviver. Desde então, a música, em especial, o rock internacional dos anos 90, se tornou parte de mim e que necessito para seguir sendo quem sou. 



A Larissa de 16 anos esteve comigo no dia do show. 

Atualmente moro em Belo Horizonte, MG, e quem diria que veria o quarteto de Seattle na sua segunda vinda à cidade, após quase 25 anos. Mark Arm solta um tímido "boa noite Belo Horizonte" e tenho a sorte de ficar na frente do palco em frente ao guitarrista e mestre, Steve Turner. O baixista desde 2001, Guy Maddison, era só sorrisos para o público, e Dan Peters tocava sua batera de olhos fechados como se estivesse meditando. Era um domingo chuvoso, 23/03/25, perto do meu aniversário de 30 anos (na emblemática data do 5 de abril), e como a boa e velha simbologia da chuva nas artes, sentia uma catarse. Levei cópias da minha fanzine "I Wanna Be Yr Grrrl" (conheça meu trabalho aqui) e ver o Mudhoney na minha frente era mais uma confirmação de que eu marchava na faixa certa. Aquela garota reprimida de Itabaiana (SE) jamais sonharia chegar perto de bandas como Bikini Kill e L7, e muito menos produzir fanzines bilíngue que chegassem nas mãos dos artistas que foram o empurrão essencial em sua vida. Mudhoney abriu o show com 'If I think' para deixar todo mundo animadinho desde já, e não demorou para vir a sequência fudida: "Judgement, Rage”, “Retribution and Thyme; Sweet Young Thing (Ain’t Sweet No More)” e “Touch Me I’m Sick”. Steve logo notou meu pacote de zines e ele quase voou da minha mão tamanha foi a empolgação quando veio a casadinha 'You got it' e 'Suck you dry'. É óbvio que eu ansiava este momento e uma lágrima escorreu do meu rosto da mais pura nostalgia, desta vez, uma nostalgia das boas! Eu não conheço tão bem os últimos discos, mas curto muito Under a billion suns de 2006. Entre uma música e outra eu cantava algumas  que queria que eles tocassem, e uma delas foi "Blindsposts" deste disco. Adoro o trecho: "In a cluttered world of ugliness / Blindness is the best defense". Também dei uma palhinha de 'Into Yer Shtik' que chamou a atenção de Guy. No entanto, senti falta de sons como "Acetone"; "Hate the police" e "Tales of terror", mas o set de 27 músicas foi good enough, rs. 



Toda feliz com o pacote de zines que agora está com a banda! E tem mais história sobre esse momento abaixo.


Mark em seu momento despojado, que frontman! 

Mudhoney provou seu vigor que ultrapassou a fase áurea do grunge. Eles também se engajam em causas pertinentes, honram suas influências, como quando Mark incorporou seu melhor Iggy Pop (ainda assim autêntico) com seus grunhidos e sua entrega visceral com um microfone numa mão e uma cerveja na outra. Eles nunca alcançaram o mesmo nível comercial de seus conterrâneos, e nunca precisaram disso. O que também torna Mudhoney especial é a sua devoção pela música, mas sem se levar tão a sério assim. Tanto que quando os pedais de Steve falharam, Mark brincou com a situação e mandou um ‘foda-se, não precisamos de um guitarrista mesmo’. (Risos). 

In 'n' Out of Grace marca o fim do show, que deixou um gosto de quero mais —eles não tocaram 'Here comes sickness' em BH, mas rolou em outras cidades— e com certeza, muitos saíram dali com a sensação de ter vivenciado algo único, já que BH não recebe tantos shows internacionais comparada a outras cidades e devem ter corrido para dar play nos álbuns do novo milênio. 

Enquanto a mim, já super feliz de ter entregue as zines a Steve Turner, tive outro momento marcante ao conseguir por meio de uma das DJs da noite, Jujuba (Ju Semedo), que tocou só coisa boa como TAD ao lado do DJ CtrlZ (Luiz Ramos), conversar com Mark Arm. Naquele noite não usei meus óculos de grau e sofro miopia. Se não fosse meu companheiro Lucas, nem teria avistado Mark e Ju conversando no palco do DJ. Nem a camisa rosa do Mark teria ajudado. Ju também é super fã do Mudhoney e é maravilhoso ter mulheres com quem possamos conversar sobre música. Logo que cheguei perto já falei 'Hi Mark' e a maior surpresa foi ele ter dito que amou a minha zine sobre pedais de efeito. No momento que ele disse isso, mesmo sendo fluente em inglês, fiquei chocada e disse "What?". Foi emoção demais para acreditar que eles tinham de fato já folheado minhas zines logo após o show. Conversamos também sobre Green River, primeira banda Grunge que também contava com Steve Turner, e membros do Mother Love Bone e Temple of the dog. Além disso, perguntei se ele estava curtindo a cidade e se sentiu falta e ele disse que sim e que lembrava da primeira vez que veio. Posso concluir que a vida vale a pena, ou como diria Fernanda Torres, a vida presta, por momentos como este, de reconhecimento mútuo, de amizades e de deixar a arte te tocar e te transformar. 



Da esquerda à direita: DJ CtrlZ (Luiz Ramos), DJ Jujuba (Ju Semedo), Mark Arm e eu.





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